Ex-prefeita de Fortaleza por duas gestões, entre 2004 e 2012, a candidata Luizianne Lins (PT) foi a terceira entrevistada na série de sabatinas da Rádio O POVO/CBN, onde defendeu decisões de seu governo e criticou indiretamente propostas de segurança dos concorrentes ao dizer que “governo que ascende pelo medo não é bom governo”. Atualmente, quem mais pauta essa temática na campanha é o candidato Capitão Wagner (PR).
Detentora do maior índice de rejeição entre os oito candidatos à Prefeitura de Fortaleza – 40% dos eleitores, segundo pesquisa O POVO/Datafolha –, Luizianne afirmou que o percentual é “natural”.
“Sempre tive alguns patamares de rejeição em toda a minha vida política. Em 2008, por exemplo, fui eleita no primeiro turno e, quando comecei a campanha, tinha 33% de rejeição”, disse a petista. Ela atribuiu o índice à “situação política do País, à criminalização do PT” e o ao “fato de ser mulher”.
Outro fator que, segundo ela, contribuiu, é a divisão política da Cidade - e do País. “Tem um terço da população de direita que nunca vai votar em mim, o que é natural em Fortaleza, no Ceará e no Brasil. E 10% desses pode ser por causa do PT, do Lula. Acho que isso é natural, a sociedade se expressa”, complementou, garantindo ser uma “pessoa que tem uma presença que não passa incólume”. “Digo que sou igual a gato e fígado: ou você ama, ou você odeia.”
Polêmicas do governo
Durante a entrevista, Luizianne Lins respondeu a controvérsias e polêmicas de sua gestão na Prefeitura de Fortaleza. Em duas perguntas, afirmou “desconhecer” as alegações e decisões de pessoas do seu governo.
Quando questionada da decisão de fechar acordo junto à Procuradoria-Geral do Município (PGM) com construtoras para permitir construções da construção civil em área protegida nas dunas do Cocó, nos últimos meses de seu governo, em 2012 – ação que foi revogada pela Superior Tribunal de Justiça (STJ) –, a ex-prefeita alegou que o acordo não havia sido feito por ela.
“Não tenho conhecimento disso até porque nós criamos Áreas de Proteção Ambiental (APAs), inclusive sob muita luta com interesses muito poderosos, como a APA da Sabiaguaba”, disse, lembrando que o acordo fora assinado por Martônio Mont’Alverne, procurador-geral do município na época, em quem garantiu “confiar muito” e que acredita que “com certeza deve ter tido um motivo pra ser feito”.
Alegou também não ter conhecimento de orientações de clientelismo, também ao final da gestão de 2012, quando uma série de dirigentes de órgãos da Prefeitura foram exonerados por apoiar a candidatura de Roberto Cláudio (ex-PSB, hoje PDT). No período, o secretário de Projetos Especiais de Luizianne, Geraldo Acioli, havia dito que “não se pode servir a dois senhores”.
“Não houve isso, até porque eram cargos comissionados -- ou seja, de confiança, e não cargos de clientelismo –, que podem ser trocados. Novamente, você está me pedindo pra falar por alguém que falou isso”, rebateu, acusando o governo de RC de ter tais posturas, onde “pessoas estão sendo perseguidas e obrigadas a ir pra rua (fazer campanha)”.
Em contraste com outra crítica recorrente à gestão de Roberto Cláudio – de como o prefeito pedetista trata a educação no município –, Luizianne negou atritos com professores da rede municipal, apesar de greves terem se estendido por quase um ano no total, entre 2005 a 2011, e de manifestações violentas. Para ela, os episódios não demonstram “falta de respeito” com a categoria, mas liberdade dos professores em negociar com ela.
“Pelo contrário: os professores se sentiram muito à vontade pra fazer greve, e conquistaram muito. É uma das categorias que eu mais recebo apoio, que eu mais recebo carinho, dedicação, pessoas que cumprimento”, argumentou.
De acordo com Luizianne, outro fator que gerou as manifestações foi “porque, no sindicato, há muito tempo havia reivindicações que não davam muita trela” e professores acreditavam que “se a Luizianne sair, não vamos conseguir mais nada; vamos fazer agora”, conforme diz.
“Eu não acho que agora os professores estão vivendo situação melhor”, concluiu.
SERVIÇO
Sabatina com os candidatos à Prefeitura
Quando: 19 de setembro
Onde: Rádio O POVO/CBN (95,5) e Facebook da Rádio O POVO/CBN, às 11 horas
Entrevistado: candidato Ronaldo Martins (PRB)
O POVO online
Assista à entrevista em: www.facebook.com/opovocbn/videos/
SAIBA MAIS
Guarda Municipal
Ao comentar as ações tomadas junto à Guarda Municipal em episódios de truculência com professores, Luizianne – que, apesar de ser contra armar a Guarda criou grupo especial com equipamentos diferenciados–, afirmou que “governar uma cidade é administrar conflitos permanentemente” e que Fortaleza “é uma erupção permanente”. “Essa questão da Guarda Municipal foi uma questão pontual, com conflitos a todo tempo nessa cidade por oito anos, e tentando das mais diversas formas estar sempre do lado do povo e compreendendo aquilo”, contou. Ela afirmou, ainda, ser “militante dos direitos humanos” e que considerou ser “necessário separar o que é o aparelho de força do estado -- que não significa violência”, treinar e armar a Guarda com equipamentos “não-letais”. “É preciso tomar decisão toda hora e assumir a responsabilidade por elas. Não se pode abrir mão, sob pena de perder autoridade de comando”, disse.
ENTREVISTADORES
Maisa Vasconcelos
Mediadora e apresentadora do programa Revista O POVO/CBN
Érico Firmo
Editor-executivo do núcleo de Cotidiano do O POVO
Lucinthya Gomes
Editora-adjunta do núcleo de Cotidiano do O POVO
Carlos Mazza
Repórter do núcleo de Conjuntura do O POVO