Na Assembleia Legislativa do Ceará, assim como em dias anteriores, o Plenário 13 de Maio ficou parcialmente vazio durante quase todo o tempo das discussões de ontem. Era visível a ausência de deputados
( Fotos: Fabiane de Paula )
A Segurança Pública - ou a falta dela - voltou a pautar os debates de parlamentares na Assembleia Legislativa do Ceará. Na sessão de ontem, o deputado estadual Capitão Wagner (PR), como já havia feito no dia anterior, subiu à tribuna do Plenário 13 de Maio para cobrar que o Governo do Estado cumpra com o que tem acordado. Ele informou que, mesmo após concluído o curso de formação dos mais de 700 concursados da Polícia Civil, o governo pretende dividir em três etapas as nomeações.
"Estamos diante de uma crise nunca antes vista no setor de Segurança. O crime organizado tomou conta dos presídios, das cidades e do Estado, mas acontece que, precisando investir em inteligência e investigação, o governador (Camilo Santana) resolveu fracionar a nomeação dos aprovados no concurso da Polícia Civil", criticou.
Segundo Wagner, a situação é preocupante também porque muitos dos concursados pediram demissão de seus empregos para fazer o curso de formação. O parlamentar afirmou que a gestão estadual "não tem cumprido com o que promete" e defendeu que haja reestruturação na Polícia Civil.
"Há 40 anos, tínhamos 4.500 policiais civis, e hoje, apenas 2.200. Só temos a metade. Então como combater o crime?", questionou. "Pernambuco, por exemplo, com população parecida com a do Ceará, tem 26 mil policiais militares e nós, 16 mil. Os policiais civis são 6 mil lá, aqui só 2200", acrescentou.
As palavras de Wagner Sousa ganharam o apoio de Tomaz Holanda (PMDB) e Roberto Mesquita (PSD). O primeiro sustentou que, se os projetos apresentados por parlamentares da oposição fossem levados em consideração na Casa, muita coisa positiva seria aproveitada. Segundo ele, há "completa" falta de estrutura funcional nas delegacias.
"Há dois meses, a minha casa foi invadida por cinco bandidos, minha família foi feita refém e, quando fomos na delegacia prestar depoimento, sequer existia material para fazer o Boletim de Ocorrência. O pior foi ouvir de policiais que sequer papel higiênico tinha nos banheiros. Essa falta de investimento é o que nos deixa tristes", relatou Holanda.
Mesquita, por sua vez, considerou que assuntos como Saúde e Segurança Pública são caros para a população. O parlamentar lamentou que deputados da base do governo mantenham "visão míope", enxergando apenas o que lhes convém. "Quando comparam com outros estados é para favorecer o governo. Querem fazer a população de tola, mas ela hoje é inteligente e sabe as áreas que mais afligem. Hoje, as pessoas sequer podem sair de casa, com medo da violência".
Ações
Terceiro na sucessão da liderança do governo, o deputado Leonardo Pinheiro (PP) reconheceu que há cobranças feitas de maneira legítima, mas que em outras vezes há, nas colocações, "ranço" de oposição. "Há razão nas cobranças, mas é preciso reconhecer, e (deputados) sabem da dificuldade que passa o Brasil e o Ceará", argumentou.
Segundo Leonardo, de fato, o fracionamento deve existir. "Mas há o compromisso de chamar todos os policiais. Agora, o governo precisa ter a responsabilidade de, além de chamar, poder pagar", apontou. "A situação não está fácil para ninguém, tanto que, dos 27 estados, 23 passam por problemas no pagamento do funcionalismo, enquanto o Ceará já pagou a primeira parcela do 13º salário. Há um esforço grande para que compromissos sejam cumpridos", destacou.
Lembrando o confronto, na última quinta-feira (30), entre policiais e uma quadrilha no distrito de Juatama, em Quixadá, que ocasionou a morte de três policiais militares, a deputada Rachel Marques (PT) citou, por sua vez, encontro de Camilo com uma comitiva de empresários, estudantes e outros setores da cidade na terça-feira (5).
"Além da possibilidade de antecipar a instalação da base com 52 policiais do Raio na cidade, houve o comprometimento do governador de adquirir uma nova aeronave para o Ciopaer em Quixadá, de uma base do Corpo de Bombeiros e implementação de uma delegacia com atendimento 24 horas", contou. "Reconhecemos a gravidade da situação do ponto de vista da criminalidade, mas não podemos dizer que o governo não age", disse.