A distribuição de água será alternada; a cada 24h, enquanto parte das 5 regiões recebe 100% da vazão, a outra metade terá o volume reduzido
( FOTO: Érika Fonseca )
O racionamento de água que deve começar a vigorar em Fortaleza e em outros quatro municípios da Região Metropolitana - Caucaia, Maracanaú, Eusébio, Aquiraz -, em agosto, não anulará o mecanismo já implantado pelo Governo do Estado, para tentar diminuir o consumo: a tarifa de contingência. As duas ações de redução do uso da água irão vigorar de forma paralela. Os consumidores deverão ficar atentos, pois além de terem que armazenar água dia sim, dia não, terão também que fazê-lo de forma controlada para não ultrapassarem a meta de economia e pagarem multa por isso.
O plano de racionalização de água está sendo elaborado por pelo menos 30 técnicos da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Embora a Cagece não especifique a data na qual o mesmo entrará em vigor, o titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) - Pasta responsável por dá o aval para início da medida-, Francisco Teixeira, garante que será em agosto, com previsão de seguir até março de 2017, dentro do período da quadra chuvosa. Em visita à Assembleia Legislativa, ontem, o gestor reafirmou este prazo.
A implantação do racionamento depende ainda da avaliação Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Ceará(Arce) e da Autarquia de Regularização, Fiscalização e Controle dos Serviços Públicos de Saneamento (ACFor). Os dois órgãos irão analisar se o plano segue as normas legais. A Cagece deve entregar o documento até o dia 30 deste mês.
O vigor paralelo das duas medidas de redução de consumo, segundo o presidente da Cagece, Neurisângelo Freitas, também presente na Assembleia ontem, é necessário, pois a tarifa de contingência, implantada em dezembro de 2015, - para a diminuição de 10% do uso da água - ainda não foi alcançado. Segundo ele, o racionamento, que irá gerar uma alternância de abastecimento em Fortaleza, poderá despertar nos consumidores uma necessidade de armazenamento excessivo de água, o que afetaria a pouca redução hoje já alcançada.
Armazenamento
"Entendo que temos que manter a tarifa porque se não tiver ela, no momento que tiver água, as pessoas podem tentar consumir ao extremo, armazenar ao extremo e isso tem impacto. Por isso, as duas medidas têm que funcionar juntas", diz. O racionamento tem o objetivo de reduzir em 20% a taxa de consumo de água nas cinco cidades.
O que será feito para evitar o desabastecimento total em algumas regiões mais altas da Capital, bem como nos bairros que ficam nas extremidades da rede e têm baixa pressão, ainda está sendo estudado e discutido pela Cagece, explica Neurisângelo. Com o racionamento, a Capital e os outros quatro municípios serão divididos em duas áreas, e a recarga de água ocorrerá de forma alternada, a cada 24h.
Segundo Neurisângelo, enquanto uma área tiver recebendo 100% da vazão, a outra reduzirá, e vice-versa. Mas, em nenhum momento a pressão será retirada completamente, garante ele. "A rede não pode ficar despressurizada. Ela não vai secar. Porque diferente de outros serviços como energia ou telefonia você não consegue retornar rapidamente com água. Esse retorno demora um pouco. É fluído. É físico. É mais demorado".
O secretário Teixeira, explica que a taxa de contingência ainda não alcançou a meta de 10%, mas outros mecanismos implantados em 2015, como o estreitamento da oferta para a Estação de Tratamento de Água (ETA) Gavião, onde a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) "segura a água no túnel do açude Pacoti - Riachão no caminho rumo ao Gavião e oferta menos água para a Cagece" e o fortalecimento da política de reúso em indústrias de Maracanaú e Pecém, já ajudaram a alcançar este percentual.
O racionamento, segundo o gestor, vem sendo discutido por representantes da SDH, da Cagece, da Cogerh e da Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) desde janeiro deste ano, cabendo à Cagece apontar a forma como ele pode ser praticado.
O modelo apresentado pela Cagece, diz Neurisângelo, é semelhante ao desenvolvido em 1993, quando Fortaleza passou por outro racionamento. Para ele, a semelhança deve-se à macroestrutura da rede, que não sofreu grandes alterações nos últimos anos. "Quando pensamos as operações temos que considerar a localização das estações de tratamento como a ETA Gavião e a ETA Oeste, por exemplo. Todas as linhas que saem dessas estações. Não mudou muita coisa. Portanto, a macroestrutura desse plano é parecida".
Embora reconheça que o plano "guarda semelhanças" com o de 1993, o titular da SRH, Francisco Teixeira pondera que o mecanismo elaborado há duas décadas se deu porque "nós chegamos praticamente à falta d'água naquela época, mas agora estamos tentando prevenir essa falta". A intenção é que a medida garanta aporte no Castanhão e Orós até março de 2017.
A perfuração de poços em Fortaleza é outra iniciativa a ser adotada, conforme o presidente da Cagece. A Companhia estuda a perfuração de 48 poços, em regiões como Pici, Morro de Santa Terezinha e Lagoa do Opaia.
FIQUE POR DENTRO
Governo do CE cobra R$ 48 mi da União
O titular da SRH, Francisco Teixeira, também informou que o Governo Estadual "está trabalhando" para que a União libere R$ 48 milhões alocados pela presidente afastada, Dilma Rousseff, para o Ceará. O valor será usado no custeio da estruturação de mais 200km de adutoras de montagem rápida no Interior.
"Necessitamos de uma medida provisória que está sendo discutida pelo novo governo, que ainda está se adaptando. Tentando entender essa questão da emergência da seca. O outro governo já tinha um entendimento muito melhor da realidade do Nordeste. O atual ainda está tentando entender essa realidade", afirma. De acordo com Teixeira, em 2015, foram perfurados1.050 poços em áreas urbanas e rurais no Ceará. Já neste ano, foram 700 perfurações e 130 desalinizadores foram instalados.