Os deputados estaduais usaram boa parte da sessão de ontem para repudiar uma peça de teatro apresentada durante seminário sobre sexualidade e gênero, na Universidade Federal do Ceará (UFC). O monólogo “Histórias Compartilhadas” foi severamente criticado pelos parlamentares, que usaram a tribuna para discorrer sobre o tema citando, entre outros pontos, o “desrespeito à fé”, a “cristofobia” e uma “profanação, que não merece respeito”.
A deputada Dra.Silvana (PMDB) relatou que, durante a apresentação, o estudante ficou nu e com acesso venoso, derramou sangue em uma imagem de Cristo na cruz. A parlamentar ressaltou que a peça prega intolerância aos cristãos católicos. “Achar simpático um movimento que agride a cultura de outras pessoas é perverso e absurdo. Digo ao reitor da UFC que a peça é um insulto”, disparou.
A deputada frisou que da mesma maneira que os cristãos não podem debochar da comunidade LGBT, a comunidade não pode agredir a cultura das outras pessoas. “Se a peça fosse um padre doutrinando um homossexual, será que a UFC iria acha que é arte? Não iria, seria homofobia, pois da mesma maneira esse evento foi um ataque, foi cristofobia”, criticou.
O deputado Carlos Matos (PSDB) informou que irá elaborar um requerimento solicitando que a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania convide a representação da UFC à AL para prestar esclarecimentos sobre a peça.
Para o tucano, a produção não pode ser caracterizada como arte e ainda desrespeitou a fé dos cristãos. O parlamentar disse, ainda, que se trata de “ativismo político” que foi patrocinado pelo Governo do Estado e Prefeitura de Fortaleza, assim como pelos gabinetes dos deputados Elmano Freitas (PT) e Augusta Brito (PCdoB).
O parlamentar também criticou a manifestação da UFC, afirmando que: “ter fé ou não é um direito de cada um, essa não é a discussão. Agora, fazer ativismo político e debochar de um símbolo que representa a fé da maioria dos cidadãos brasileiros e chamar isso de modernidade não está correto”.
Os deputados Walter Cavalcante (PP), Danniel Oliveira (PMDB) e Ferreira Aragão (PDT) também questionaram o monólogo. De acordo com Walter Cavalcante, o povo católico se sentiu atingido.
“Imagina se o Plano Nacional de Educação tivesse sido aprovado da forma que esses defensores da liberdade querem, destruindo nossa família, nossa fé e tudo que acreditamos?”, questionou.
Danniel Oliveira ressaltou a importância de se respeitar a fé de cada um, ressaltando que a deputada Dra Silvana é evangélica e está defendendo um símbolo católico. “Isso é tolerância e respeito a fé dos outros. Assim deveria ser com tudo”, pontuou.
Ferreira Aragão defendeu que a peça “é um crime” e que a universidade deveria ser punida por permitir esse tipo de conduta. “O direito à religião é sagrado”, acentuou.
O deputado Ely Aguiar (PSDC) enfatizou que a Universidade Federal do Ceará patrocinou a peça e considerou “arte”. “Uma instituição que patrocina uma profanação dessa não merece respeito”, apontou.
Apoio
A deputada Augusta Brito esclareceu que nunca patrocinou nenhum tipo de peça que desrespeitasse a fé e nenhum outro tipo de conduta semelhante. Ela informou que concedeu apoio, e não patrocínio, a um seminário sobre sexualidade e gênero, que sequer previa essa apresentação. A parlamentar sugeriu ainda que, ao se expor o nome de colegas, os deputados, procurem se aprofundar na informação e verificar a sua veracidade.
UFC e Secult
Ainda na sexta-feira passada, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) divulgaram nota sobre a repercussão do monólogo do ator Ari Areia. A divulgação de fotografias do espetáculo, sem autorização, em uma página no Facebook, gerou uma série de críticas ao Ministério da Cultura, ao Governo Federal e à comunidade LGBT.
A Secult manifestou solidariedade com a classe artística e disse também repudiar as ameaças sofridas por ela, expressando contrariedade a qualquer forma de censura ao livre exercício da criatividade e do direito à expressão artística. A UFC reconheceu que ‘’polêmicas são comuns” em temas tratados na universidade, mas disse que o espetáculo não possui nenhuma “conotação desrespeitosa e muito menos criminosa”.