Líder do PMDB no Ceará e nome próximo de Michel Temer (PMDB), o senador Eunício Oliveira (PMDB) é visto hoje como principal “beneficiário” caso a decisão de ontem da Câmara seja acatada pelo Senado Federal. Entre aliados da presidente, evita-se analisar cenário de derrota, com governistas confiantes na virada da votação na Casa.
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Pré-candidatos na disputa por Fortaleza deste ano, Capitão Wagner (PR), Heitor Férrer (PSB) e Raimundo Matos (PSDB) enxergam Eunício como “homem forte” no Ceará em uma possível gestão Temer.
“Mesmo que o Senado apenas acate, mas não aprove o impeachment, a Dilma já seria afastada do cargo. Já não dará as cartas para as eleições de 2016”, disse Raimundo.
Horas antes da votação de ontem, Eunício esteve no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, onde almoçou com Temer e o vice-prefeito de Fortaleza, Gaudêncio Lucena. “Eunício tem amizade pessoal com o Temer. Seria o grande vencedor de um impeachment”, avalia Heitor Férrer.
Com perspectiva de aliança entre PMDB, PSDB, DEM e PPS para a governabilidade de um governo Temer, quem também se beneficiaria no Estado é o grupo político do senador Tasso (PSDB), que voltaria à base pela primeira vez em nove anos.
Entre principais atingidos, os opositores apontam principalmente o governador Camilo Santana (PT), além dos irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT). “O impeachment jogaria os Ferreira Gomes na oposição, onde nunca estiveram”, diz Férrer.
Já Wagner avalia que, mesmo com perda de espaço local, os Ferreira Gomes ainda devem tentar se estabelecer como expoentes nacionais da oposição a Temer.
Já Camilo teria que, além de enfrentar um Eunício fortalecido, lidar com a perda de parceria com o governo federal. “No Estado e nos municípios, tinha uma certa hegemonia do PT e PDT, com apoio para liberação de recursos. Agora, pode ter uma migração de prefeitos e um redesenho da política do Estado”, afirmou Raimundo.
Eleições de Fortaleza
Outros opositores endossaram tese do vice Gaudêncio, que tem previsto “debandada” da base aliada de Roberto Cláudio (PDT) caso o impeachment seja aprovado. “Muitos partidos que estão hoje na base do prefeito farão parte da discussão de um novo governo, viriam para dentro desse governo”, disse Gaudêncio.
A tese é corroborada pela oposição, que vê o PMDB como partido “natural” para conduzir formação de chapas. “Pelo que a gente viu até aqui, a probabilidade maior é de enfraquecer a candidatura do prefeito e termos uma debandada mesmo de partidos. Muitas vezes os partidos vão pela conjuntura, pela força que ganha”, avalia Wagner.
Entre governistas, ainda não se fala na tese de “pós-Dilma”. Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), os “golpistas venceram uma batalha, mas a guerra continua”. “Há campo político para disputa, as ruas estão conosco, e temos condições de virar o jogo.”
Em nota, a ex-prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins (PT), classificou a aprovação do pedido na Câmara como “vitória passageira”. “Nossa convicção é de que a vitória dos golpistas será passageira, porque nossa luta continuará. Tanto nas batalhas que se seguirão no Senado e no STF; quanto na mobilização das ruas e avenidas”, disse.
A reportagem tentou contato com Cid e Ciro, mas não obteve resposta. Procurada, a assessoria da Prefeitura de Fortaleza informou que RC não se manifestaria sobre o caso. (Carlos Mazza)
QUEM SOBE
Eunício Oliveira (PMDB)
Líder do PMDB no Senado e comandante absoluto do partido no Ceará, torna-se um dos mais poderosos nomes do governo Michel Temer em todo o País. No Estado, passa a ser o grande porta-voz e interlocutor do Governo Federal. O preenchimento dos cargos federais local terá de passar por ele.
Tasso Jereissati (PSDB)
Expoente do PSDB no Nordeste, não estará na oposição pela primeira vez em mais de nove anos de mandato de senador. Com a expectativa de que o PSDB seja sustentáculo importante do governo Michel Temer, deve ser voz de peso no âmbito regional. E assumir papel diferente do que teve até hoje no mandato.
Vitor Valim (PMDB)
O deputado federal foi dos primeiros da bancada cearense a se declarar a favor do impeachment. É pré-candidato a prefeito e o mais bem colocado nas pesquisas entre as alternativas do PMDB. Caso tenha apoio de Eunício, pode chegar com força. Na votação de ontem, permaneceu grande parte da sessão ao lado do microfone e diante das câmeras.
Audic Mota (PMDB)
Líder do PMDB na Assembleia Legislativa, é um dos opositores que mais têm dado trabalho ao governador Camilo Santana (PT). Com o partido no poder federal, sua posição dica enormemente fortalecida. O contraponto ao governo estadual deve ganhar peso e o PMDB local irá se encorpar e ganhar projeção, com Audic como face pública na Assembleia
QUEM DESCE
Camilo Santana (PT)
O governador é, de longe, quem mais perde com a quebra do alinhamento com o Governo Federal. O Estado é enormemente dependente de transferências e esse trânsito deve se tornar bem mais complicado. Além do adversário na Presidência da República, tem ainda o principal opositor local na condição de um dos homens fortes da República.
Cid Gomes (PDT)
O ex-governador deixou o Ministério da Educação após chamar Eduardo Cunha de “achacador”. A Michel Temer, referiu-se como “chefe da quadrilha de achacadores que assola o Brasil”. Ele e seu irmão, Ciro Gomes, foram aliados privilegiados durante os anos petistas. Com a ascensão dos peemedebistas, passam a ser inimigos prioritários da nova ordem.
Roberto Cláudio (PDT)
Tal qual seu aliado Camilo Santana, o prefeito perde facilidade de acesso aos gabinetes e recursos federais. Sobretudo pela aliança com os irmãos Ferreira Gomes, deverá ver obstruídos os canais com Brasília. Além disso, verá surgirem novos e imprevisíveis fatores para sua sucessão, que já vem sendo costurada com cuidado, mas enfrenta o imponderável.
José Guimarães (PT)
Principal dirigente do PT no Ceará, tornou-se o homem forte do partido em Brasília durante a era petista. Nos mandatos de Dilma Rousseff, foi líder do partido e está hoje na liderança do governo. Além disso, sempre teve indicados seus em postos estratégicos. Perderá espaços no governo e iniciará nova trajetória em Brasília, como expoente da nova oposição.