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Com desmatamento, Caatinga vai virar deserto - QR Code Friendly
Segunda, 27 Abril 2015 05:54

Com desmatamento, Caatinga vai virar deserto

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  No Dia Nacional da Caatinga, o pioneirismo de Antônio Renato Aragão, será reconhecido. O primeiro secretário do Meio Ambiente do Ceará receberá, amanhã (28), o Prêmio Ambientalista Joaquim Feitosa, durante solenidade na Assembleia Legislativa. Um dos protagonistas do ambientalismo no Ceará, com brilhante trajetória na conservação do bioma Caatinga, o nome de Aragão foi o escolhido pelo Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga (RBCA), dentre nomes de grande destaque, como o de Antônio Rocha Magalhães, Roberto de Proença Macedo e Francisco Flávio Torres de Araújo. O agraciado é responsável pela implantação, ainda na década de 70, da Estação Ecológica de Aiuaba, no Sertão dos Inhamuns, a primeira Reserva de Caatinga, na região Nordeste. Aragão continua fazendo história na área ambiental. Atualmente, ele gerencia o Núcleo de Meio Ambiente (Numa) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará. De onde vem seu interesse pelo meio ambiente, pela ideia de conservação, especialmente, em relação à Caatinga? Renato Aragão - Eu comecei muito jovem. Naquela época, trabalhando no então Serviço Florestal, hoje, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), eu fui tomando gosto pelo tema. Depois, me formei em geografia, pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), uma profissão muito pertinente às questões ambientais. Em seguida passei no concurso da extinta Superintendência do Desenvolvimento do Estado do Ceará (Sudec). O órgão mantinha dentro da estrutura organizativa, posição de destaque nas áreas de pesquisa, desenvolvimento regional, elaboração de projetos, cartografia, pedologia, recursos naturais, etc. Eu criei na Sudec, a Divisão de Geografia, que ficou responsável pelo mapeamento físico do Ceará. Na década de 70, o governo federal convidou o Dr. Paulo Nogueira Neto, para dirigir e organizar a Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema). Em pleno período de regime militar, a Secretaria funcionava no âmbito do Ministério do Interior, com prerrogativas de ministério. Ele exerceu o cargo por doze anos e meio, de 1974 a 1986, passando por dois governos militares: Geisel e Figueiredo. Foi quando o senhor iniciou trabalho em parceria como Dr. Paulo? Juntos, devem ter formado uma dupla muito “verde”... Renato Aragão - Tive o privilégio de trabalhar com ele e toda a equipe em uma longa trajetória. Na época, o Dr. Paulo, que além de grande naturalista, já era um renomado especialista em meio, professor da Universidade de São Paulo (USP), buscou no Ceará, quem poderia se interessar de participar dos projetos da Secretaria Especial. Como eu era diretor do Departamento de Recursos Naturais da Sudec, fiquei responsável por esta relação. Nessa época, percorremos todo o Estado. Criamos em 1975, a Estação Ecológica de Aiuaba, no Sertão dos Inhamuns. Trata-se da primeira Reserva de Caatinga na região Nordeste. Isso só foi possível, por que o trem não passava por lá, e como não tinha ponte sobre o Rio Jaguaribe passando para Aiuaba, ali, houve a preservação de uma área de 11.550 hectares. Descobrimos, também, a Praia de Jericoacoara e criamos a Área de Proteção Ambiental (APA) de lá. No governo do Tasso Jereissati, fui convidado para fazer parte dos trabalhos de construção do Plano de Governo. Foi quando eu propus a criação da Superintendência Estadual de Meio Ambiente (Semace) e do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema). Eu já havia feito propostas para outros governos e nunca tinha ido pra frente, mas dessa vez, foi diferente, as minhas propostas foram concretizadas. Consagrado com a Medalha Joaquim Feitosa, qual o impacto deste reconhecimento na sua trajetória pessoal e profissional? Renato Aragão - Pessoalmente é uma grande satisfação. É um reconhecimento de um trabalho pioneiro iniciado aqui no Ceará. Quando comecei minha militância, ainda não estava no espírito das pessoas essa preocupação de cuidar do meio ambiente. Foi uma alegria, e uma surpresa ao mesmo tempo. Pessoalmente é uma grande satisfação. É o reconhecimento de um trabalho pioneiro iniciado aqui no Ceará. Quando comecei minha militância, ainda não estava no espírito das pessoas essa preocupação de cuidar do meio ambiente. O Prêmio Joaquim Feitosa trouxe-me alegria e surpresa, ao mesmo tempo. Significa, ao longo de todos esses anos, o resultado de um trabalho realizado tanto na vida particular, como nos serviços público, e privado, em especial, neste momento, ao receber o reconhecimento, quando estou trabalhando na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), onde gerencio o Núcleo de Meio Ambiente (Numa). Como aliar desenvolvimento industrial e econômico com os aspectos ambientais? Renato Aragão - Estamos no caminho certo! Em todas as federações há um núcleo especializado e dedicado às questões ambientais. Atualmente, não se admite desenvolvimento industrial e econômico, sem o que hoje se denomina de desenvolvimento sustentável, aquele que se preocupa com a disponibilidade dos recursos naturais e com o aspecto social da comunidade, potencializando resultados econômicos. É inviável, pensar em desenvolvimento sem mitigar impactos resultantes dos processos. Ao homem, cabe à responsabilidade de preservar aquilo que pode garantir a sua sustentabilidade de modo a garantir que as gerações futuras, também, possam usufruir dos recursos naturais. O Ceará o plano de manejo já é uma prática. As indústrias que utilizam a lenha, por exemplo, já trabalham o plano de manejo, poupando a natureza e mostrando a grande responsabilidade com os recursos. Até hoje a PEC da Caatinga não foi votada. Falta mobilização da sociedade ou vontade política? Será que os parlamentares consideram o bioma menos importante do que a Amazônia ou a Mata Atlântica? Renato Aragão - Eu entendo exatamente dessa forma. O Nordeste sempre foi meio esquecido, se comparado as demais regiões do país. Fica a impressão que faltou vontade política ao longo dos anos, mas o momento atual parece-me propício, temos visto um crescente movimento, tentando mostrar a importância da Caatinga e reconhecer o valor do bioma. Lutar muito em defesa da região é o que temos que fazer. Espero que o deputado federal, José Nobre Guimarães (PT/CE), que nos representa no Congresso, e é um cearense conhecedor da Caatinga, perceba e defender essa causa tão nobre. Nada mais justo. Os políticos precisam entender que estão lá para nos representar, defendendo o nosso bioma que se encontra ameaçado. Como o senhor avalia a conservação da Caatinga, especialmente no contexto de Mudança Climática? Teme pelo desaparecimento do bioma, que de tão vulnerável e esquecido, pode virar deserto? Renato Aragão - Como a Caatinga apresenta vegetação típica de Terras Secas, com regime irregular de precipitações pluviométricas, ela [natureza] de forma inteligente, adapta-se ao clima. Nossas árvores são todas da espécie caducifólias: perdem as folhas durante o verão para não perder água pelo processo de evaporação, desta forma, armazenam a água sem perder, praticamente nada, pelas folhas. Às vezes ficam só os galhos e o caule. Quanto às mudanças climáticas, é urgente proteger o bioma. Além de ações de mitigação e de adaptação, é preciso muito controle do desmatamento. Se o desmatamento continuar, a Caatinga vai virar deserto. Felizmente, vejo que o Ceará faz um bom exemplo, o estado é o que mais trabalha com os planos de manejo, o que é muito importante. O ambientalista Renato Aragão tem muito a comemorar? Mais tristezas ou mais alegrias? Renato Aragão - As tristezas já estão passando, no passado. Hoje, uma alegria é observar o quanto a imprensa trata o tema “Meio Ambiente”, com mais destaque. Durante muitos anos, a própria imprensa não ligava para o assunto, quando comecei existia uma dificuldade muito grande. Hoje, existe uma facilidade de comunicação. Antes, eu precisava me dirigir aos meios de comunicação [Renato costuma relembrar esse período] para divulgar datas e até mesmo escrever aos jornalistas para explicar o que deveria ser escrito, e assim, facilitar ao leitor o entendimento do assunto. Mas hoje, estou feliz com o apoio, enorme, dos meios de comunicação, a exemplo do Jornal o Estado, que com a publicação do caderno O Estado Verde realiza um trabalho que muito auxilia à sociedade cearense, nesse processo de conscientização e entendimento da questão ambiental. O senhor sempre tem uma história curiosa, para contar. Não por acaso é Renato Aragão, também. Pode relatar um desses episódios, ocorrido durante sua trajetória de ambientalista? Renato Aragão - Em viagem, entre as cidades de Saboeiro e Aiuaba, encontramos um senhor, que vendia inúmeros tatús, todos expostos numa corda. Diante da cena, o Dr. Paulo Nogueira, comprou tudo e em seguida liberou todos os tatús que correram para o mato. Com cara de espanto, o matuto não entendeu nada. Tranquilos, seguimos viagem, chegando à sede do município, fomos recebidos pelo prefeito da cidade. Ele nos recebeu com muita festa e atenção e nos ofereceu um almoço. Para a nossa grande surpresa, descobrimos que haviam preparado, como prato principal, o velho tatu. Que situação! Glossário Plano de Manejo. Visa a exploração sustentável da vegetação nativa e suas formações sucessoras na região Nordeste do Brasil, por exemplo. Devem ser formulados por engenheiro florestal ou agrônomo, habilitados, deverão ser protocolizados no Ibama. Prêmio Joaquim Feitosa: Destinado a homenagear pessoa física ou jurídica que atuam na preservação e conservação do Bioma e que no desempenho de suas ações tenham contribuído de forma relevante para o desenvolvimento sustentável da Caatinga. A cada ano, por lei estadual, o comitê homenageia, alternadamente, uma pessoa física e no seguinte, uma instituição.. PEC da Caatinga. Proposta de Emenda Constitucional para elevar a Caatinga e o Cerrado a Patrimônio Nacional. Inicialmente PEC 115/95, com a inclusão da Caatinga, em 2010, proposta passou a ser denominada de PEC 504/2010 . Senado já aprovou o texto da PEC, falta a Câmara priorizar a votação e aprová-la. O texto proposto pela própria Casa, não sofreu alteração no Senado.
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