“Para profunda decepção de quem esperava uma decisão, não temos uma decisão”, anunciou o governador Cid Gomes, após reunião, ontem, na sede do PSB-CE, com deputados socialistas e aliados. Ele acrescentou que a única deliberação acertada pelo grupo, que participou do encontro, é manter a união. “Este grupo, constituído de dez deputados estaduais e quatro deputados federais, estará unido em qualquer que seja a decisão. No entanto, entendeu-se que é fundamental que representantes da direção estadual participem, nesta quarta-feira, da reunião com a Executiva Nacional”, observou o presidente estadual do PSB.
No entanto, Cid foi enfático ao admitir que o desejo do grupo é permanecer na sigla. “Nós não queremos sair. Nunca desejamos sair, mas estamos nos sentindo hostilizados por setores do partido. Francamente, o que é que o partido deseja? Que a gente saia? Se é esse o desejo, então que saiamos em paz”, destacou.
O governador foi cauteloso ao falar sobre a suposta candidatura do presidente nacional do partido, Eduardo Campos, à Presidência da República. Para ele, a única pessoa que deve decidir sobre isso é Campos. “Quem tem que decidir sobre eleição é o Eduardo. Eu tenho uma decisão, que é apoiar a presidente Dilma Rousseff, e não estou defendendo nenhum outro interesse, e sim do que acho que é melhor para o partido. Quem mudou de lado foi o partido, não fui eu. Pelo nosso gosto permaneceríamos no partido, apoiando a Dilma”, ressaltou.
REUNIÃO EM BRASÍLIA
Hoje, na reunião em Brasília com a Executiva Nacional, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, e o presidente da Assembleia Legislativa, José Albuquerque, levarão as demandas do grupo para serem analisadas. “Eles colocarão a nossa encruzilhada e procurarão ver qual o sentimento da Nacional em relação à permanência ou saída desse grupo. Dando sequência a isso, vamos convocar uma reunião para quinta-feira, às 19h, onde serão convidados prefeitos, lideranças do interior e vereadores, para que a gente possa ampliar o debate”, adiantou Cid.
Segundo o governador, ele compartilhou no encontro de ontem informações sobre o comportamento de executivas estaduais do PSB e relatou o conteúdo da última reunião que teve com Eduardo Campos. O objetivo, ponderou, era colocar todas as questões que estão em jogo com a saída coletiva do partido.
“Você tem muitas questões a serem analisadas. Um deputado que sai do partido põe em risco seu mandato. Uma das questões que se deseja colocar com a Executiva Nacional é isso. Precisamos de um pronunciamento da Nacional garantindo de que não haverá retaliação caso a decisão seja sair do partido”, resumiu Cid.
SAÍDA EM PAZ
Cid afirmou que numa conversa com Eduardo Campos, o presidente nacional do PSB havia assegurado que qualquer decisão seria aceita com sem conflitos. “Tive uma conversa franca com Eduardo. Coloquei que tínhamos questões nacionais e regionais que pesam muito para que a gente possa abrir mão agora de uma aliança com PT e PMDB e de uma aliança com a presidente Dilma. Nessa conversa, ele disse que não partiria dele nenhum questionamento. Mas estamos falando de dez deputados estaduais e quatro federais. Isso dá aflição. Quero fazer isso com o menor constrangimento possível para nossos aliados. Quero ter uma anuência para sair do partido, uma saída em paz, sem questionamentos”, relatou.
HOSTILIDADE
Na avaliação de Cid, o grupo político que hoje analisa a viabilidade de permanecer ou não no PSB está sendo hostilizado por setores do partido. O pensamento encontra eco no prefeito Roberto Cláudio, que ressaltou o convite de filiação que alguns membros do diretório nacional fizeram à Luizianne Lins (PT). “Inegavelmente, a ação de alguns membros do diretório nacional acabam demonstrando hostilidade conosco. À medida que três representantes da Nacional fazem um convite a uma adversária política local do PSB, demonstra claramente uma hostilidade com quem permanece no PSB e que tem contribuído para o crescimento do partido no Ceará”, argumentou o prefeito.
Mesmo apresentando um cenário de indefinição, Roberto Cláudio analisou que o resultado mais importante da reunião de ontem foi a decisão do grupo de manter-se unido, qualquer que seja as deliberações. “Fazemos parte de um grupo político. Nesse momento compartilhamos de duas características em comum. Somos PSB e acreditamos que o melhor caminho para o Brasil é a reeleição da presidente Dilma. O mais importante é que garantimos a unidade”, observou.
EM TEMPO
Cid Gomes preferiu não antecipar muitas etapas. Instado sobre a possibilidade de seu grupo político migrar para o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), aprovado ontem pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cid respondeu que o PROS foi contatado, mas não como um plano para possíveis dissidentes do PSB, e sim pensando em deputados de outras legendas que não querem permanecer em seus partidos. O socialista acrescentou que ainda tem muito “se’s” pela frente.
Cely Fraga
Da Redação