O presidente da Comissão Especial da Seca da Assembleia, João Jaime, alega que a atual situação de colapso é resultado da falta de planejamento
Foto: José Leomar
Deputados estaduais voltaram a cobrar ações mais consistentes para minimizar os efeitos da seca no Ceará
A notícia de que 25 cidades no Interior do Ceará estão vivendo com racionamento de água em razão do colapso hídrico, provocado pela estiagem prolongada, segundo destacou em sua manchete o Diário do Nordeste da última terça-feira, reacendeu o debate sobre a seca, na Assembleia Legislativa. Para a maioria dos parlamentares ouvidos, a situação é resultado da falta de planejamento dos órgãos estaduais, uma vez que foram avisados previamente de que as chuvas seriam irregulares este ano.O racionamento no Interior do Ceará foi informado na segunda-feira pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). A matéria mostrou que, com índices pluviométricos 37,7% abaixo da média e com mais de 70 açudes cearenses em alerta (nível abaixo de 30%), o presidente da Cogerh, Yuri de Oliveira, anunciou que cidades como Beberibe, Canindé, Crateús e Tauá estão passando por racionamento.
Para o presidente da Comissão Especial da Seca da Assembleia Legislativa, deputado João Jaime (PSDB), essa situação é resultado da falta de planejamento e de investimentos em obras que resolvessem, de fato, o problema da falta de água. Segundo ele, a maioria das ações que estão sendo desenvolvidas pelo Governo do Estado não tem resultado imediato, como as cisternas de enxurradas. "Como as pessoas vão conseguir acumular água nas cisternas se não vai chover mais?", indaga.
De acordo com o tucano, os R$ 180 milhões enviados pelo Governo Federal e os R$ 20 milhões de contrapartida do Estado para a construção desses equipamentos deveriam ser investidos em adutoras para levar água dos açudes para as cidades. "O erro do Governo do Estado foi aceitar o que o Federal disse. Já que estava dando contrapartida, deveria ter brigado para que esse dinheiro fosse destinado para a construção de adutoras emergenciais", defende.
O parlamentar cearense lembrou ainda que, além de as cisternas de enxurradas não surtirem efeito imediato para o problema da falta de água, o dinheiro para a construção desses equipamentos está sendo desviado pelas organizações não governamentais (ONGs) responsáveis pela execução da obra. Segundo João Jaime, na conta de apenas uma dessas organizações foram encontrados R$ 5 milhões. "Valor que eu desafio qualquer prefeitura de pequeno porte ter atualmente em caixa".
Racionamento
O vice-presidente da Comissão da Seca, deputado Roberto Mesquita (PV), também avalia que o racionamento pelo qual passam 25 cidades cearenses é consequência da ausência de planejamento e de investimentos do Governo. Para ele, isso é inadmissível, uma vez que a estiagem foi prevista pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). "Teve tempo e tem recurso para investir, o que não teve foi zelo por parte do Governo Estadual", afirma o deputado.
Mesquita critica ainda a inércia do Comitê Integrado de Combate à Seca do Ceará. Lançado em maio do ano passado, o comitê é coordenado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) e conta com representantes dos ministérios do Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social e Combate à Fome e das Minas e Energia, além do Exército Brasileiro. "Em um ano e meio após ser criado, praticamente não apresentou soluções emergenciais necessárias", dispara Mesquita.
Para o parlamentar, o Governo deve investir na compra de "pipas" (local em que se armazena a água que é transportada pelos carros-pipas), pensar em vagões de trem para ajudar no transporte de água e construir adutoras com canos de engate rápido (tecnologia americana). Segundo Roberto Mesquita, a Comissão da Seca deve divulgar essas e outras sugestões no relatório que está sendo concluído pelo relator do colegiado, o deputado Welington Landim (PSB), elaborado após as reuniões realizadas este ano
Imprevidência
O deputado estadual Lula Morais (PCdoB), por sua vez, avalia que a situação atual é fruto de uma "imprevidência" (descuido) histórica do tratamento do problema da estiagem. Para ele, os últimos governos se preocuparam apenas em criar espaços para reservar a água, esquecendo de ações para trabalhar sua distribuição. "Hoje, o desafio é distribuir a água, porque temos uma boa reserva, apesar de grande parte dela está concentrada", afirma Morais.
Diferentemente dos outros parlamentares ouvidos, o comunista acredita que as ações implantadas até agora pelo Governo do Estado, como as cisternas de enxurradas, são necessárias, principalmente porque as adutoras não chegam em todos os locais. "Por mais que não sejam medidas emergenciais, são necessárias, porque o povo vai precisar de lugar para armazenar a água quando chover", disse, defendendo que, a longo prazo, os governos devem investir em políticas de distribuição.