Mirian Sobreira diz que partidos políticos priorizam a indicação de homens para ocupar cargos de destaque na Casa, deixando as mulheres esquecidas
Foto: JL ROSA
A deputada Mirian Sobreira, recentemente, disse não se sentir representada pela Mesa Diretora, só de homens
As deputadas estaduais cearenses, nas últimas legislaturas, procuraram ter um maior espaço na Casa e, não raras vezes, buscaram um papel mais marcante e atuante, vislumbrando até uma participação na Mesa Diretora. A pessebista Mirian Sobreira é quem vem levantando essa bandeira, inclusive, afirmando não se sentir representada pelo colegiado atual, formado apenas por homens, que ela aprovou por indicação de seu partido.
"Você acha que uma Casa que tem 24% de seus quadros deputadas e uma Mesa que só tem homem eu vou me sentir representada?". Ela reclamou ainda que uma mulher só é chamada para assumir os trabalhos das sessões ordinárias quando não há mais escolhas masculinas para tal função.
"Eu não me sinto representada. Você olha para o painel da Mesa Diretora e lá tem sete homens. Como é que a gente pode se sentir representada onde uma mulher não pode fazer um Projeto de Resolução em prol de nosso gênero. Eu não me sinto representada pela Mesa que nós temos aqui", desabafou a pessebista, que dentre as mulheres da Casa é a que mais critica a totalidade de homens nos principais cargos do Legislativo do Ceará.
Questionada sobre seu voto favorável na escolha da Mesa Diretora atual, a deputada lembrou que votou a favor do colegiado, mas ressaltou que foi o seu partido, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), quem indicou os nomes de José Albuquerque, Sergio Aguiar e Sineval Roque para compor a Mesa. Os três atualmente são, respectivamente, presidente, 1º Secretário da Casa e Vogal.
Segundo ela, o preconceito e a falta de apoio às mulheres começa no partido. "O PSB teve três indicações. Então ele teve três possibilidades e poderia ter indicado uma mulher, visto que temos duas mulheres do partido da base do Governo. Quando é para dividir responsabilidades nós somos convocadas. Mas na hora de dividir os bônus, nós mulheres, somos deixadas de lado", disparou.
Sintonia
"Votamos nessa Mesa, mas diante de muita discussão. O partido tem que indicar uma mulher para a Mesa e nenhum indicou, pois eles achavam que teria que ser indicado por eles. Nós somos a maior bancada da Casa e existe uma sintonia muito grande entre as mulheres daqui", afirmou a pessebista, ressaltando a instalação da Frente Parlamentar das Mulheres e a Procuradoria das Mulheres.
Apesar da presença das mulheres, das discussões levantadas por elas, e os diversos projetos apresentados ao longo da atual Legislatura, Mirian Sobreira lamenta que isso não tenha dado força para que elas tivessem uma vaga na Mesa Diretora. "Até para exigir que tenha uma mulher na Mesa de acordo com a proporcionalidade dos partidos, teria que partir dos membros da atual Mesa", reclamou.
A deputada Fernanda Pessoa (PR) também é favorável à proposta, mas ela salientou que as parlamentares do PT e PSB, que têm representação na Mesa, são as que deveriam ter maior interesse no tema. "Estamos com nove mulheres na Casa, nunca se teve tantas mulheres na Assembleia. Se você perceber as mulheres são as mais atuantes e as mais presentes na Casa. Eu votei nessa Mesa Diretora, mas o meu partido não tem coligação com nenhum outro bloco e diminui nossas chances", lamentou.
A questão da falta de sintonia entre as mulheres da Casa é outro assunto que merece uma atenção. Recentemente as deputadas Patrícia Saboya (PDT) e Fernanda Pessoa protagonizaram uma cena que demonstra que as ideologias político-partidárias estão acima de questões de gênero. Devido a problemas envolvendo seus líderes políticos, as duas passaram a se acusar no plenário da Assembleia, quando a pedetista questionou a capacidade da republicana e essa disse que teria sido ameaçada.
"Ela é uma parlamentar que todas as vezes que vêm ao plenário, sempre tem algum atrito com algum deputado da Casa. Não foi só comigo e nem com a deputada Eliane Novais. Também teve discussão com Antônio Carlos", disse Pessoa, demonstrando que pouca união existe entre as nove parlamentares.
A petista Rachel Marques afirmou não ter qualquer problema com a Mesa Diretora, mas ressaltou que o objetivo das mulheres da Assembleia é que uma possa chegar a fazer parte do colegiado. "É uma luta nossa e para isso precisamos ter partidos articulados em termos de abertura da participação das mulheres. Se elas estão na vida partidária estarão nas eleições. Precisamos aumentar o número de mulheres no Parlamento e buscar participação na Mesa Diretora".
Silvana Oliveira (PMDB) disse que fica feliz com o fato de a cada Legislatura ter um aumento no número de parlamentares mulheres, pois segundo ela, são mais assíduas e participantes, principalmente, nas comissões e plenário. No entanto, ela lamenta o recente episódio envolvendo Patrícia e Fernanda. "Eu saí com muita dor de cabeça naquele dia. Ali não foi briga de mulheres, mas atrito de grupos políticos. Foram grupos políticos que estavam se enfrentando", disse.