O governador Cid Gomes (PSB) disse, ontem, que o Estado já está com toda uma estrutura montada para a distribuição do milho que chegará ao Ceará através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
“Já temos uma logística pensada para que o milho contemple todos os municípios do Estado. Ele será distribuído de trem e onde não passar a linha férrea, será utilizado o transporte terrestre para atender aos agricultores”, informou. O milho será vendido por R$ 18,10, a saca de 60 quilos, para os agricultores familiares e a R$ 21 para médios e grandes produtores através da Ceasa.
Ainda sobre a distribuição do milho, o secretário do Desenvolvimento Agrário, Nelson Martins, informou que o Estado vai utilizar o dinheiro arrecadado com a venda do milho para investir na produção de forragem para a alimentação do rebanho. “Estamos negociando com o Dnocs a utilização dos perímetros irrigados do Jaguaribe-Apodi e do Baixo Acaraú para fazer este trabalho, e o MST poderá nos ajudar a produzir a alimentação para o rebanho”, afirmou o secretário. Mais cedo, na reunião da Comissão Especial de Combate à Seca da Assembleia Legislativa, Martins disse que a burocratização ainda é a principal barreira para amenizar os efeitos causados pela estiagem no Ceará.
“Atualmente, existem 756 carros-pipa atendendo 105 municípios atingidos pela seca somente pelo Exército, além de 105 carros disponibilizados pela Defesa Civil e a perfuração de 50 poços mensalmente. Durante a visita da presidente Dilma Rousseff ao Ceará, ela autorizou o aumento de 30% na contratação e aluguel de carros-pipa”.
CríticasDa tribuna da Casa, a deputada Mirian Sobreira (PSB) criticou a morosidade do Governo Federal em disponibilizar os recursos. “A Conab não tem estrutura, o milho não chega. Já perdemos mais de 300 mil cabeças de gado”, ressaltou. A deputada também criticou os atrasos de financiamentos.
“Têm agricultores que há seis meses estão esperando empréstimos. Que esses financiamentos sejam feitos também pela Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, já que são órgãos do governo”, propôs. Segundo ela, ao visitar vários municípios, foi constatado que os carros-pipa não conseguem atender a todas as necessidades, e criticou o programa do Governo Federal Água para Todos.
“As ações não saem do papel”, criticou ao falar sobre o fato de que o Estado possui apenas sete perfuratrizes, “que não conseguem fazer nem um poço por dia. Com 21 máquinas dessas, a situação seria resolvida em muitas localidades”, garantiu. A socialista disse que encaminhará um requerimento ao governador solicitando que os recursos do Fundo de Combate à Pobreza (Fecop), de R$ 300 milhões por ano, sejam destinados à compra de máquinas de perfurar poços em cada região do Estado.
Falta de tecnologiaO assunto também foi tema de debate em Brasília. O deputado Chico Lopes (PCdoB) reclamou da falta de aplicação prática, por meio de assistência técnica e extensão rural, dos conhecimentos de universidades da região e institutos de pesquisa, como a Embrapa Semiárido. “A questão da seca no Nordeste precisa ser encarada de forma mais abrangente. Como é um fenômeno histórico do Nordeste, faz-se necessário aprender a conviver com o regime de secas”, enfatizou. O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, concordou com o parlamentar e defendeu a eliminação de gargalos que ainda hoje impedem a transferência de conhecimentos e tecnologias para os produtores.
Lopes listou mais de uma dezena de tecnologias geradas pela empresa – de comprovada eficiência no combate aos efeitos da seca – mas que não chegam aos agricultores familiares em função da baixa eficiência do sistema de assistência técnica e extensão rural hoje existente.