O nome de Luizianne Lins foi aclamado pela maioria do partido no sábado (28). No entanto, alas ligadas ao deputado federal José Guimarães e ao vereador Acrísio Sena, único sentado na foto, queriam mais debate antes da definição
( Foto: JL Rosa )
Os esforços de correntes do PT ligadas ao governador Camilo Santana, que solicitavam mais debate interno antes da decisão, não surtiram efeito: "É socialista, é radical, Luizianne prefeita da Capital!", bradou em coro a ampla maioria dos 144 delegados do PT Fortaleza que, no último sábado (28), em Encontro Municipal de Tática Eleitoral, votou pelo nome da deputada federal e ex-prefeita da Capital, Luizianne Lins, como pré-candidata do partido à Prefeitura de Fortaleza na eleição municipal de outubro. O resultado foi respeitado, mas também alvo de discursos que alertaram para a "necessidade" de diálogo que garanta a unidade do partido na disputa.
O clima, no hotel na Praia de Iracema onde aconteceu a reunião, já parecia de campanha, mas, agora, a prioridade no PT é buscar unidade internamente, inclusive a partir de diálogo com Camilo, que ainda não anunciou quem apoiará no pleito, mas tem relação declaradamente próxima do prefeito Roberto Cláudio, pré-candidato do PDT.
"Nós temos o desafio de aprofundar o programa (de governo), de discutir a coordenação da campanha com todas as correntes do partido e com outros partidos que possam se aliar ao PT. Nós vamos, agora, negociar com alguns partidos com os quais podemos fazer alianças, vamos procurar o nosso diretório nacional, temos conversa a realizar com o governador", afirmou o deputado Elmano de Freitas, presidente municipal da sigla.
O dirigente não mencionou quais partidos o PT deve procurar para formar coligação, mas o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, já havia dito, em discurso na abertura do evento, que "não faremos alianças com ninguém que tenha votado no golpe", referindo-se ao processo de impeachment da presidente, agora afastada, Dilma Rousseff.
Conjuntura diversa
Rui Falcão afirmou, inclusive, que esta "terá de ser uma campanha de defesa do nosso partido, que está sob forte ataque" e garantiu que, assim como participou da campanha de Elmano, em 2012, atuará na campanha de Luizianne Lins. "Fortaleza é uma das prioridades nacionais da nossa disputa".
Segundo o presidente nacional do PT, o pleito de outubro próximo será disputado em uma conjuntura "totalmente diversa" daquela de 2012. "Primeiro, porque parte dessa eleição vai ser disputada sob o governo ilegítimo e que o PT não reconhece, porque é fruto de um golpe e não de voto popular", argumentou, sem citar o presidente interino Michel Temer.
Depois, chamou atenção para o fato de que, já para esta eleição, está proibido o financiamento empresarial de campanha. "Isso significa que a nossa campanha terá de ser de auto- sustentação financeira, o que significa também que acabou a era da militância paga", justificou. A chapa do PT, porém, ainda não tem pré-candidato a vice-prefeito. No encontro, ficou decidido que o nome será definido pelo diretório municipal do partido.
O único nome apresentado até a reunião de sábado foi o de Luizianne Lins, muito aplaudida ao chegar ao local. Também estiveram presentes De Assis Diniz, presidente estadual da sigla, e o senador José Pimentel. Na ocasião, foram oficializadas, ainda, as pré-candidaturas de cerca de 20 petistas para o cargo de vereador, entre eles, Guilherme Sampaio, Deodato Ramalho, Acrísio Sena e Ronivaldo Maia.
Divisões
Luizianne, que foi prefeita entre 2005 e 2012, foi escolhida pré-candidata por aclamação, mas petistas ligados ao deputado federal José Guimarães e ao vereador Acrísio Sena se abstiveram na votação como "protesto", segundo Acrísio, "ao não adiamento do encontro". Tais grupos do partido defendiam a realização de mais debates internos antes da definição de um nome.
"Consideramos que, ao termos iniciado tardiamente esse debate, pudéssemos ter um tempo maior para construir uma interlocução com o nosso governador Camilo Santana", disse De Assis Diniz, acrescentando que "o diálogo é fundamental para garantir a unidade e a vitória em qualquer que seja a disputa". Camilo e Guimarães não foram ao encontro. O deputado federal, no entanto, enviou mensagem à Luizianne, oferecendo "solidariedade e apoio".
O senador José Pimentel, por sua vez, defendeu que já era hora de o partido deliberar a candidatura. "Já estamos chegando no final de maio, início de junho, e precisamos articular toda a estrutura de campanha e também a política de aliança. Nós ficamos em Fortaleza durante o ano de 2015 fazendo esse debate em diversas plenárias, como é da prática do PT", sustentou.
Experiência
Em seu discurso já como pré-candidata, Luizianne Lins afirmou estar alegre em "recomeçar" e citou obras "materiais" e "imateriais" de sua gestão, criticando o atual governo, do prefeito Roberto Cláudio, ao dizer que equipamentos municipais como os CUCAs e o Hospital da Mulher estão sendo "sucateados".
Sobre a possibilidade de fazer campanha sem o apoio de Camilo, a petista argumentou que procurará fazer "uma aliança com o povo de Fortaleza". "Em 2004, a gente não só não tinha o apoio do governador, que não era do PT, como também partes expressivas do PT, tanto nacional quanto local, não apoiaram a nossa campanha. Então a gente saiu com muita energia e foi construir uma aliança com setores populares na cidade", lembrou.