Em meio à crise política, Dilma e Ciro Gomes (em pé) têm mantido encontros para discutir uma estratégia contra o impeachment
FOTO: RODRIGO CARVALHO
Crise envolvendo impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Congresso já acirra também o cenário político no Ceará. Com Cid e Ciro Gomes (PDT) assumindo linha de frente da defesa da presidente no Estado, a bancada do PMDB na Assembleia é hoje a maior força pró-impeachment na política local. Mentor e líder dos peemedebistas cearenses, Eunício Oliveira (PMDB) nega atuar pelo afastamento e evita o assunto.
“Esse processo está na Câmara. O PMDB do Senado vai falar no impeachment quando ele chegar no Senado.
O resto é fofoca”, disse Eunício ao O POVO. O senador minimiza ainda recente aproximação entre Dilma e Ciro, afirmando “não se incomodar” com a ação.
“Eu não tenho nada a ver com a vida de Ciro Gomes. Ele pode se reunir com quem quiser. Agora, quem vai discutir impeachment não é língua de trapo, é a Câmara dos Deputados e o Senado. E aí que veremos quem articula, quem tem votos”, critica o senador.
“Isso (atuação de Ciro) é para aparecer porque o candidato dele para (as eleições em) Fortaleza está morto”, atacou Eunício, que mantém apoio a Dilma e indicações em órgãos federais. O peemedebista reforça ainda que seu maior objetivo é “defender os interesses do povo do Ceará”.
Bancada do PMDB
Apesar das garantias do senador de que o PMDB se mantém ao lado da presidente, os seis deputados da sigla na Assembleia têm defendido o afastamento de Dilma. Todos od dias, os parlamentares se revezam na tribuna da Casa nas críticas à petista.
“O povo perdeu as esperanças e só vejo uma saída: eleições gerais”, diz Agenor Neto, um dos deputados mais próximos de Eunício. Sobrinho do senador, Danniel Oliveira (PMDB) tem afirmado que bancada opera “em total sintonia” com Eunício, em reuniões periódicas com o líder.
No último domingo, três deputados do partido, Audic Mota, Dra. Silvana e Leonardo Araújo, participaram de ato pró-impeachment em Fortaleza, divulgando vídeo conjunto no evento. “O Brasil não pode continuar aceitando isso. Mentiram, enganaram o povo. Fora Dilma, fora PT”, ataca Audic, líder do PMDB na Assembleia Legislativa.
Eunício nega qualquer orientação para que deputados adotem discurso oposicionista. “Não tem nada disso.
Os deputados têm liberdade para falar”, responde.
Prefeitos com Dilma
Na tarde de ontem, a presidente Dilma Rousseff recebeu apoio de 16 prefeitos contrários à sua saída do governo. Entre eles, estava o gestor de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). O movimento repudia o acolhimento do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados.
Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) fez críticas à troca de liderança de seu partido na Câmara, o que classificou como gesto “de violência”. Paes disse também não acreditar que “ninguém, ou pelo menos a maioria do PMDB, esteja voltado para essa tentação de tomar o poder sem que seja pela via do voto popular”.
Saiba mais
Ciro e Eunício eram, apesar da animosidade atual, grandes aliados durante a última década no Ceará.
Os dois andaram juntos desde a primeira eleição de Cid ao governo, em 2006, até a disputa do ano passado. Foi Eunício quem indicou, inclusive, o vice da chapa de Roberto Cláudio (PDT) na eleição de Fortaleza, Gaudêncio Lucena (PMDB). Na época, apoio peemedebista foi essencial para a vitória de RC. Peemedebistas também eram presença constante em atos da campanha do prefeito.
Nos últimos meses, Ciro tem ampliado presença no noticiário político nacional, centrando críticas à cúpula do PMDB, partido que apoiou Cid durante sete dos oito anos de seu governo no Estado. Neste mês, ele chegou a chamar Michel Temer de “capitão do golpe” contra Dilma.
Eunício, por sua vez, respondeu críticas de Ciro, afirmando que ele “bate carteira e grita pega ladrão”. Em resposta, o primogênito Ferreira Gomes afirmou que irá processar Eunício pelas declarações.