Igor Lemos, psicólogo clínico e doutorando em neuropsiquiatria pela UFPE
FOTO: THIAGO GADELHA
A Assembleia Legislativa do Ceará realizou, ontem, audiência pública para debater a inserção da violência na mídia, com a presença de profissionais e estudiosos da área. Dentre as questões levantadas, o psicólogo clínico e doutorando em neuropsiquiatria pela Universidade Federal de Pernambuco, Igor Lemos, abordou a questão da influência dos jogos eletrônicos violentos no comportamento dos jovens.
Com relação ao tema, o especialista expõe que, em geral, há dois tipos de pensamento díspares: os que acreditam que os jogadores de fato assimilam comportamentos similares aos ocorridos nas plataformas virtuais (roubos a carros, assassinatos em série) e os que defendem que os videogames não interferem de nenhum modo no comportamento pessoal.
"Não funciona dessa maneira, nem o extremo de um lado, nem de outro. O que acontece é que o cérebro não é capaz de selecionar aquilo que vai ou não influenciá-lo. Então, realmente existem influências", explica Igor Lemos.
Habituação
O psicólogo acrescenta que uma das maneiras por meio das quais os jogos interferem nas atitudes dos usuários mais debatidas atualmente chama-se dessensibilização ou habituação à violência, fenômeno similar ao que ocorre com todas as pessoas em outros ruídos do cotidiano.
"Quando um estímulo é repetido várias e várias vezes para o nosso cérebro, temos uma tendência a nos adaptar àquilo. Uma pessoa que mora próximo a um aeroporto, por exemplo, a princípio pode ter dificuldades para dormir por conta do barulho das turbinas. Mas, com o tempo, ela não vai mais dar atenção e esquecer que os aviões estão decolando. O barulho do ar-condicionado também está sempre soando, mas você não dá atenção a ele. É uma habituação".
Ele diz ainda que a exposição à violência nos jogos traz influências negativas e, muitas vezes, mudanças não literais no comportamento, ou seja, aumento da agressividade, ainda que não da maneira vivenciada no game.
"Se a pessoa tiver predisposição a comportamentos violentos, é um cenário bem fértil para desenvolver comportamentos ainda mais agressivos. Em adição, essa violência pode não ser copiada tal e qual ao jogo, mas colocada de outras formas, como desobediência aos pais e professores ou envolvimento em briga no trânsito. A violência é colocada de outra maneira, porque fica arquivada no cérebro. O conteúdo violento causa influência, mas algumas pessoas são mais vulneráveis a isso".
Igor Lemos coloca ainda que proibir os jogos pode não ser a alternativa mais viável, já que por meio do fenômeno da catarse, muitas pessoas conseguem relaxar, mesmo com conteúdo violento. "O problema é quando isso se associa à dependência, ao uso excessivo. Então, você relaxa, mas depois volta contra você toda a tensão e irritabilidade. Por isso exageros devem ser evitados", conclui.