As dramáticas imagens de atendimento a pacientes no chão do principal hospital de Fortaleza mostram que a situação da saúde no Ceará chegou ao fundo do poço, ao mais baixo patamar possível.Não há desculpa ou justificativa possível: é inaceitável. O problema tampouco se limita aos pacientes nos corredores e aos vergonhosos atendimentos no chão - que repercutiram nacionalmente. Esse é o símbolo de uma falência generalizada, em várias esferas - estadual e municipal, com inequívoca culpa federal quanto aos cortes de recursos.
O problema não é só estadual - vide o caso do IJF e do Hospital da Mulher, cuja UTI neonatal chegou a ficar fechada ontem durante algumas horas. E há a crise nos postos da saúde, bem como problemas na Maternidade-Escola, que é federal, e nas UPAs, de múltiplas responsabilidades.Mas há a situação atípica de a saúde no Governo do Estado estar sem secretário em meio ao furacão do que certamente é uma das maiores crises em sua história. E o governador Camilo Santana (PT) não demonstrou lá a maior urgência em definir o novo comando.
A substituição de Carlile Lavor está longe de ser tarefa simples. Diante do cenário de colapso atual, não basta o novo secretário da Saúde ser um nome técnico. Precisa ser um nome de impacto, de peso e respaldo social, capaz de construir pontes com a categoria médica - em pé de guerra com o governo. E que dê à sociedade esperança de que o cenário crítico será solucionado.
O processo é ainda mais complexo porque há muitos atores e interesses envolvidos. A indicação de Carlile havia partido de Eudoro Santana, pai do governador. Ambos - Carlile e Eudoro - foram secretários do primeiro governo Tasso Jereissati, nos idos dos anos 1980. São amigos de longa data. A indicação paterna desagradou muitos atores que cobiçavam o espaço.
Houve incômodo no entorno de Ciro Gomes (Pros), que ocupava a pasta da Saúde no fim do governo do irmão, Cid Gomes (Pros). Ciro, conforme relatos de pessoas próximas, preferiria ver no posto o deputado estadual José Sarto (Pros) ou seu secretário-executivo na pasta até o ano passado, Acilon Gonçalves, que era quem tocava o dia a dia na pasta. Hoje, Acilon vem sendo citado nos bastidores da Saúde como provável possível secretário.
Quem também não estava lá muito satisfeito com a presença de Carlile e a ascendência de Eudoro sobre o setor era o PT, partido que se insinua de olho em algum espaço na futura equipe.
Hoje, ao que tudo indica, em meio a pressões de seus padrinhos políticos, do seu partido e influência do próprio pai, Camilo deve puxar a indicação para si. O secretário da Saúde deverá ser uma escolha da cota do governador.