Matéria do jornalista Thiago Paiva, publicada no O POVO de terça-feira, comprova mais uma vez, da forma mais inequívoca possível, o fracasso do modelo de segurança pública cearense. Durante o mês de junho, quando ocorreram cinco dos seis jogos da Copa do Mundo em Fortaleza, o número de homicídios cresceu. Isso no período em que a Capital teve o maior esquema de segurança de sua história, com mais de sete mil policiais. Mesmo assim, o número de homicídios em junho foi de 169 para 173. Na área que inclui Aldeota, Meireles, Cocó, Fátima, dentre outros, até houve redução, de 31 para 27. Mas nem o fato de se tratar de áreas nobres é suficiente para explicar o que se deu, pois os homicídios na orla – o corredor turístico – passaram de dois para quatro. Na área em que fica o Castelão, também houve aumento. Ou seja, quando o atual modelo de atuação, que tem sido muito pautado em incremento de contingente, chega ao seu ápice, nem assim dá resultado.
Mais desolador ainda é a falta de novidade nas ideias que as duas candidaturas política e economicamente mais poderosas apresentam para a área mais crítica da atual gestão. Não há nada que representa mudança de concepção, inversão de pensamento. O que lança por terra qualquer esperança de mudança real. Nos programas que apresentaram, tudo é muito parecido. As diferenças são apenas de ênfase em determinados aspectos.
Eunício Oliveira (PMDB) é bastante crítico em relação aos muitos investimentos sem resultado – o mais óbvio discurso para qualquer candidato de oposição no Ceará –, mas não mostra onde pretende fazer a real mudança. Fala de investir em inteligência e aumentar a eficácia da investigação científica, com uso da tecnologia. Sem dar detalhes, promete articular o binômio gente-gestão, propõe “atenção especial ao combate ao tráfico e ao uso de drogas ilícitas” e “reorganizar as polícias”, sem explicar como.
Camilo Santana (PT) fala muito em “dar continuidade”, “ampliar”, “incrementar”, “consolidar” coisas que já existem. Previsível para um governista, mas pouco para quem sabe que será atacado por esse front. De mais diferente, propõe um instituto de pesquisa e estratégia, para acompanhar estatísticas e indicadores, além de um sistema gestor para acompanhar o uso de pessoal e equipamento da área. Ou seja, investimento em tecnologia, informação e estatísticas. Algo que é muito importante, mas remete às políticas que já são gradualmente adotadas desde a década de 1990.
Os candidatos informam que as propostas apresentadas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) são versões prévias dos programas que serão finalizados ao longo da campanha. mas o recado que passam é que não houve amadurecimento, num lado ou noutro, quanto à questão mais grave que aflige o Ceará desde meados da década passada. Nenhum deles propõe algo de consistente que signifique esperança de mudança na segurança. Para não falar da consistência dos programas. Mas isso é assunto para amanhã.