Para 2014, mais de 2013
Finda 2013. Os 365 dias do ano que se vai apresentaram ao honorável público uma circunstância política que talvez nunca tenha sido experimentada. A saber: um grupo político, cuja cúpula tem origem na mesma cidade, controlando os dois principais orçamentos públicos do Ceará. No caso, o Governo e a Prefeitura. Deu-se na prática aquilo que a crônica política acostumou-se chamar de “hegemonia”. Cid Gomes, o governador, e Roberto Cláudio, o prefeito, pertencem a estruturas familiares com raízes bem fincadas em Sobral. O avô do prefeito e o pai do Governador foram amigos e aliados.
Para o bem da análise, deve-se considerar também que o poder do grupo se estende ao mais absoluto controle da Assembleia Legislativa. Além da maioria que esmaga a minoria, o comando do Poder Legislativo está nas mãos da mesma região do Ceará. Mais precisamente em Massapê, terra de Zezinho Albuquerque, nos limites de Sobral.
Não é uma hegemonia como na ditadura, quando o poder estava com o mesmo partido, que abrigava diversos grupos políticos, cada qual com seu líder. O poder de então, mesmo concedido de forma autoritária, era dividido e convivia com disputas internas duríssimas.
Agora, concedido pela democracia do voto, o poder é exercido por um bloco com comando único, de características familiares, coeso, uniforme e sem disputas internas. Por se estruturar como uma família, o partido passa a ser apenas um detalhe. Um mero e burocrático detalhe.
Mas, com quais características essa hegemonia política tão peculiar está exercendo o poder em Fortaleza e no Ceará? É preciso remontar há alguns episódios políticos para construir uma explicação.
Chamou-nos a atenção a forma pública como, em janeiro de 2011, Roberto Claúdio foi indicado para presidir a Assembleia Legislativa. Quem fez o anúncio aos deputados e ao distinto público foi o governador em pessoa. Ou seja, o Poder Executivo disse quem iria comandar o Poder Legislativo. Para que não sobrassem dúvidas, o anúncio foi feito a partir de uma sala abrigada na área da residência oficial.
Embora com maiores cuidados na aparência, a indicação de RC para disputar a Prefeitura de Fortaleza e, posteriormente, a escolha de Zezinho para o comando da Assembleia se deram dentro do ritual político que caracteriza o grupo comandado por Ciro Gomes.
Mas, tão importante quanto a maneira como o poder foi ocupado é a forma como é exercido. Nesse ponto, nada melhor que um episódio bem recente: o percentual de reajuste dos servidores públicos no âmbito do Estado e da Capital.
Em estruturas de poder diferentes, com contas não semelhantes e base de dados desiguais, o mesmo percentual de 5,7% foi concedido aos servidores da Prefeitura de Fortaleza e do Estado do Ceará. É como se o município fosse uma extensão do Estado.
Poderia ter sido um décimo de diferença para cima ou para baixo, mas a decisão de conceder reajustes idênticos respeita a uma linha política que foi estabelecida. A saber: o bloco é concreto, sem ranhuras, e assim deverá permanecer.
É evidente que as escolhas políticas para o ano eleitoral também vão refletir o mesmo conceito. A meta a ser alcançada é a seguinte: manter a aliança que hoje sustenta um e outro ao mesmo tempo em que se buscará um candidato ao Governo que seja da mais absoluta confiança da família.