Você está aqui: Início Últimas Notícias Atualidade do pensamento de Celso Furtado é ressaltada em seminário
Durante o debate “Sobre a inspiração de Furtado: capitalismo, globalização, desenvolvimento na América Latina e os novos ares no mundo pós-pandemia”, transmitido virtualmente, pensadores articularam o legado de Celso Furtado com os desafios da atualidade.
Celso Amorim, diplomata, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, apontou a inspiração e referência de Celso Furtado para várias gerações ao se buscar entender o Brasil e a pensar um projeto de país. Segundo ele, Furtado teve o mérito de “trazer o Nordeste para dentro do Brasil”, como uma visão de integração que permitiria que o País fosse realmente uma nação.
Amorim abordou pontos da política externa brasileira ao longo dos anos e da importância do pensamento de Furtado para tais ações de integração, busca por soluções e consenso, solidariedade e interesses nacionais.
Para Celso Amorim, atualmente, falta uma “normalidade ao País. A submissão que o Brasil tem hoje aos EUA é alarmante, nem no pior momento da ditadura houve algo parecido”, comentou.
Ele opinou ainda ser interessante observar como os questionamentos ao neoliberalismo e à globalização exacerbada serão retomados, uma vez que já vinham acontecendo em diversas partes. “O mundo vai mudar, e a importância da esfera pública em relação à privada vai crescer”, comentou ainda.
Rubens Ricupero, diplomata e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, destacou a atualidade, originalidade e totalidade do pensamento de Celso Furtado. “Celso tentou interpretar, mas também tentou transformar. Sua vida sempre foi de pensamento e ação inseparáveis”, ressaltou.
Segundo Ricupero, Furtado privilegiou o pensamento do todo, entendeu a necessidade de explicar o Brasil a partir da compreensão de que a inserção do País no sistema mundial é perversa e perpetua o subdesenvolvimento.
“Neste momento de degradação profunda do Brasil, vamos ser obrigados a reconstruir. Não teremos escolha, será uma necessidade. Desse desgoverno, o que vai sobrar será uma terra arrasada. E então será preciso reatar a construção interrompida”, afirmou Ricupero, indicando que uma das formas de fazer isso é “recuperar a capacidade de pensar nosso próprio País, pensar a partir da nossa própria realidade”.
Pedro Cláudio Cunca Bocayuva, professor de Políticas Públicas em Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comentou que Furtado “conseguia trabalhar a dupla face de questões estratégicas de desenvolvimento”, apontando que temas como sistemas produtivos e o manejo de recursos não renováveis, por exemplo, faziam parte das suas preocupações.
“Era um homem teórico e prático, buscava as soluções, formulava a política”, comentou o professor, ressaltando ainda que, como intelectual, Furtado nunca deixou de pensar a centralidade da tarefa educacional. Bocayuva destacou a reflexão crítica de Furtado, que abarcou teorias que são importantes também para o cenário atual, conseguindo sintetizar uma leitura da contemporaneidade.
O debate foi mediado por Mônica Martins, professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e coordenadora do Observatório das Nacionalidades, que ressaltou a importância de Celso Furtado como intelectual que compreendia os dilemas e perspectiva da América Latina e do Brasil. Para ela, o debate do seminário provocou os participantes a revisitarem o legado de Furtado e pensarem soluções para os desafios postos.
PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO
O primeiro dia do seminário, realizado pela Assembleia Legislativa, por meio da Unipace, e pelo Iplanfor, por meio do Observatório de Fortaleza, continuou com debate “Desafios e perspectivas do desenvolvimento regional brasileiro”, com Tânia Bacelar, economista e professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Roberto Smith, economista e ex--presidente do Banco do Nordeste (BNB), e Maia Júnior, secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet) e mediação de Barros Neto, coordenador da Plataforma Ceará 2050.
O evento segue com programação nesta quinta-feira (13/08), a partir das 15h, nos canais de YouTube da Unipace e do Observatório, com o debate “Sob a inspiração de Furtado: significados da ciência e da cultura para o desenvolvimento brasileiro”. O evento contará com Cláudia Leitão, diretora do Observatório de Fortaleza; Jair do Amaral, professor de Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC); César Bolaño, jornalista e doutor em Economia pela Universidade de Campinas (Unicamp), e mediação de Adson Pinheiro, doutorando em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Já o encerramento será a partir das 17h, com o debate “Da fantasia desfeita à esperança de um novo amanhecer: um projeto para o Brasil”. Entre os convidados estão Eduardo Moreira, escritor, economista e empresário; o filósofo e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro; o ex-ministro da Cultura Gilberto Gil e terá mediação de Edilberto Pontes, vice-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE).
O seminário "100 Anos de Celso Furtado – Que desenvolvimento queremos para o Brasil?" é realizado com apoio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Trabalho (Sedet), por meio da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Universidade Federal do Cariri (UFCA), Universidade Estadual do Ceará (Uece) e Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
SA/CG