O deputado disse que aguarda novos elementos da denúncia contra o colega parlamentar
No centro das polêmicas na Assembleia Legislativa após denunciar o deputado Nezinho Farias (PDT) por envolvimento com facção criminosa, o deputado André Fernandes (PSL) adota postura defensiva e tenta contornar os efeitos negativos no Parlamento. Diferentes partidos, no entanto, intensificam representações contra Fernandes no Conselho de Ética da Casa. Enquanto isso, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) sustenta ainda não ter provas suficientes para abrir uma investigação.
André Fernandes convocou uma entrevista, nesta segunda-feira (24), para falar sobre a denúncia que começou a vir a público no último dia 12, quando acusou, durante discurso, parlamentares, sem citar nomes, de envolvimento com o crime organizado. No dia 14, protocolou denúncia no MPCE, apontando que o colega Nezinho teria ligação com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC).
De acordo com a denúncia, projeto de lei apresentado pelo pedetista para regulamentar jogos eletrônicos serviria para "lavagem de dinheiro" da facção por meio do "jogo do bicho". O deputado nega as acusações e defende que a proposta pretende legalizar o game como esporte.
À imprensa, André Fernandes tentou afastar a ideia de que estava fazendo as acusações, frisando que apenas encaminhou uma denúncia ao MPCE. "Não acusei, não denunciei e não estou aqui para caçar briga, estou aqui para fazer o meu papel. O erro não esteve em mim. Se eu vejo que um eleitor meu chega no meu gabinete e me entrega uma denúncia, seja lá o que for, o mínimo que posso fazer é encaminhar ao órgão competente para que se apure os fatos".
O deputado do PSL é alvo de críticas entre os pares por ter "generalizado" as suspeitas sobre envolvimento de parlamentares com facções, em um primeiro momento, e por ter apontado indícios frágeis para embasar a denúncia. Questionam, ainda, o fato de Fernandes ter votado a favor do projeto de lei de Nezinho na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
André Fernandes justificou que votou a favor da proposta na CCJ porque o colegiado analisa apenas a constitucionalidade das matérias. Sem revelar a fonte, sustentou que o denunciante disse para ele que havia "obscuridade" no texto.
Fragilidade
Segundo ele, o denunciante prometeu entregar mais elementos para a denúncia, como fotos e vídeos, mas, até agora, não recebeu nada. "O que chegar a gente encaminha, não tenho rabo preso com nenhum deputado. O que fiz foi em cima do Código de Ética, do Regimento".
Por outro lado, Fernandes reclamou do MPCE pelo suposto vazamento da denúncia. O procurador-geral de Justiça, Plácido Rios, disse que o deputado se equivocou e que não viu motivos para manter a denúncia em segredo. Questionado sobre o teor da denúncia, o chefe do MPCE disse que é "gravíssima", mas frisou que ainda não há provas para abertura de uma investigação, apenas "ilações".
"As provas que vêm a corroborar a denúncia foram colhidas de outros meios de comunicação. Foi uma interpretação feita pelo deputado, que eu respeito, porém, não nos dão a condição mínima para proceder uma investigação".
Plácido Rios disse que convidou Fernandes para prestar depoimento e apresentar novos elementos à denúncia, mas não informou a data. Enquanto isso, o deputado do PSL já é alvo de duas representações no Conselho de Ética da Assembleia por quebra de decoro parlamentar, sendo uma do PSDB e outra do PDT.
A última foi protocolada ontem pela sigla pedetista. No documento assinado pelo presidente estadual do partido, André Figueiredo, a executiva sustenta que a conduta de Fernandes é "absolutamente grave" e ressalta que o projeto de lei de Nezinho Farias "em nada se relaciona" com "jogos de azar ou de apostas".