Com quase a totalidade dos parlamentares cearenses na Assembleia Legislativa - 38 dos 46 - aliada ao governador Camilo Santana (PT), a "pequena" oposição tem o desafio de enfrentar a ampla base governista e, após uma legislatura de fragmentação, buscar unidade se quiser ecoar com mais facilidade suas reivindicações na Casa. O sentimento de representantes da bancada oposicionista entrevistados pelo Diário do Nordeste é de fazer uma oposição "construtiva", ainda que cada um apresente propostas - dentre elas, a Segurança Pública - e modos diferentes de atuação.
O primeiro bloco de oposição já está formado na Assembleia, com Pros, PSL e PSDB. O líder da bancada, que conta com seis integrantes, é o deputado soldado Noélio (Pros) e a vice-líder é a deputada Fernanda Pessoa (PSDB). Segundo a tucana, o bloco foi formado de olho na conquista de vagas nas comissões técnicas permanentes, mas também para levantar debates importantes. Ela diz que, neste primeiro momento, o grupo está "muito coeso".
Emendas
"Cada qual tem o seu tipo. Eu, por exemplo, não sou oposição ferrenha: onde tiver pontos negativos a gente vai ajudar. Agora, é importante que a oposição esteja em todas as comissões, porque precisa ter um contraponto. Das matérias que vêm aqui para a Casa, eles (governistas) sempre conseguem aprovar tudo. A gente faz uma emenda em uma matéria para melhorar uma coisa ruim", defende.
Colega de bancada, o deputado Vitor Valim (Pros), também adota tom pacificador neste início de mandato. Ele prega uma oposição "serena", mas "altiva" em relação ao Governo do Estado no Legislativo cearense. "Vimos a apresentação do governador, que vai enviar uma série de mensagens aqui, iremos estudá-las, fazer as emendas e as críticas necessárias para lapidar e ficar da maneira melhor para a população", sustenta.
Já o deputado André Fernandes (PSL), embora afirme que "não adianta gritar" por causa da violência no Estado, não esconde o desejo de "cair em cima" do governador por este ser do PT. "Na questão da Segurança Pública, creio que está um caos no Ceará, justamente, pelo desgoverno do PT. O governador participa de um partido do qual um dos fundadores está na cadeia, então a gente considera o PT, hoje, uma das maiores facções criminosas do Brasil".
Independentes
O deputado Heitor Férrer (SD) se mantém na oposição, apesar de integrar um partido da base aliada. Ele frisa que tem anuência do deputado federal Genecias Noronha, presidente do Solidariedade no Estado, para manifestar suas posições contrárias, mas sem "torcer" pelo "quanto pior melhor". "A minha oposição é do parlamentar que traz documentos, que não aposta em terra arrasada; agora, não negocia. Primeira fragilidade (do Estado): a saúde pública, um fracasso", aponta.
Já para o deputado Renato Roseno (Psol), uma das preocupações do mandato é a geração de emprego e renda no Ceará. "Por que a sociedade está tão violenta? Porque, dentre outras coisas, é uma sociedade desigual. Nós somos oposição, porque entendo que precisamos de uma agenda econômica que seja mais distributiva e não concentradora. Temos três verbos: cobrar, fiscalizar e propor".
Agenda
O cientista político Cleiton Monte, do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), pensa, por outro lado, que mais do que escolher um tema de discussão como opositores, a bancada precisa se articular em torno de um projeto alternativo ao apresentado pelo Governo do Estado.
"Não adianta sensacionalismo com números, exposições de tragédias. Mais do que denunciar, a oposição tem que ter um discurso prático, ações concretas nas comissões, medidas, relação direta com o Ministério Público, atuação de outros órgãos. A oposição tem que se fazer mais presente. A oposição tem que se colocar para além de escândalos, tem que ter uma pauta contínua".