As revelações de movimentações financeiras atípicas na conta do filho do presidente, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, afetam o discurso de moralidade pública e combate à corrupção do Governo. Se por um lado, o caso tem gerado mal-estar entre alguns apoiadores de Jair Bolsonaro, por outro, aliados dele no Ceará classificam a questão como "factoide", embora admitam que o pedido do senador eleito para suspender as investigações sobre o ex-assessor não pegou bem.
O primeiro relatório do Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) sobre as operações bancárias de servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, divulgado em dezembro do ano passado, apontou movimentações suspeitas de mais de R$ 1 milhão na conta do ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro entre 2016 e 2017. Na semana passada, novo relatório do Coaf detectou 48 depósitos fracionados de R$ 2 mil na conta bancária do próprio Flávio.
De lá para cá, o parlamentar tem tentado esclarecer as informações e recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender investigação no Ministério Público sobre Queiroz até que a Justiça decida a instância em que ela tramitará. Enquanto isso, Jair Bolsonaro e seus interlocutores têm evitado que o problema respingue na gestão. No domingo (20), o vice, general Hamilton Mourão (PRTB), declarou que o caso não é assunto do Governo.
Para o presidente do PROS no Ceará, deputado federal eleito Capitão Wagner, a situação, na verdade, está ficando "insustentável". "Acho que o Governo vai ter que se posicionar, não dá para manter o discurso de combate à corrupção se membros do Governo ou da própria família (Bolsonaro) não agem com clareza e transparência em relação a essa questão", considera.
Apoio
Correligionário dele, o senador eleito Eduardo Girão (PROS) afirma que apoiou Jair Bolsonaro na eleição por ser o candidato mais alinhado com as suas bandeiras, mas "tudo o que for contra esses ideais, de valorização da vida, pela paz, da honestidade, transparência e ética, inclusive de combate à corrupção, terá meu contraponto".
Já o deputado federal eleito Heitor Freire, que comanda o PSL no Estado, rebate dizendo que o caso é "inventado" para "queimar" a reputação do Governo. Ele ressalta que Flávio Bolsonaro já comprovou os depósitos na sua conta. "Ele é empresário, não seria burro de passar o dinheiro para a conta com câmera na Assembleia. Esse caso é apenas um factoide ridículo. Por que não divulgam as movimentações de outros deputados?", questiona o dirigente.
Deputado estadual eleito, André Fernandes (PSL), sustenta que acredita na inocência de Flávio Bolsonaro, mas condena o pedido dele para suspender a investigação no STF. "Para mim, quem não deve, não teme. Não tenho dúvidas de que, se alguma corrupção for descoberta, o presidente não irá defender o corrupto, independentemente de ser alguém da família dele", defende.