O município de Milagres, a 485 quilômetros de Fortaleza, foi cenário de uma tragédia no início da última semana, quando 14 pessoas foram mortas em uma tentativa de assalto a banco, em decorrência de um embate entre assaltantes e policiais. Ao longo da semana, o assunto não apenas repercutiu nacionalmente, como também pautou movimentação nas casas legislativas do Estado.
A deputada estadual Fernanda Pessoa (PSDB) solidarizou-se com as famílias e amigos das vítimas. A parlamentar, na ocasião, ressaltou que está cansada de clamar na tribuna por mais políticas de segurança, com ações de inteligência a fim de barrar crimes como esses. “Os moradores relataram terem presenciado cenas de guerra e terror e continuam muito assustados com a gravidade do que aconteceu. O crime organizado está cada vez mais forte e tem armas mais potentes que a própria polícia”, avaliou.
O deputado Fernando Hugo (PP), por sua vez, parabenizou a colocação da colega, avaliando que é necessário “frieza” na situação. “O caso foi notícia em todo o País e lamentamos muito como tudo aconteceu. Ao mesmo tempo, parabenizo o governador por afastar os policiais para investigação e a senhora, que soube analisar a situação com frieza e pede nossa colocação sobre o assunto. Acredito na versão de que os policiais não sabiam da existência dos reféns”, disse.
A defesa mais frequente nos plenários, no entanto, foi relativa à atuação dos policiais no caso e a reação que parte da sociedade tem tido a isso. Para Capitão Wagner, é preciso esperar os resultados das investigações, de modo que jogar a culpa para os policiais é uma atitude precipitada. “O que sabemos é que não estava à disposição dos policiais os equipamentos necessários para facilitar a visualização noturna e também não sabiam da existência de reféns. Se há algum culpado, não pode ser quem estava no enfrentamento”, avaliou.
A deputada Dra. Silvana (PR) afirmou que os grandes culpados por todas as vítimas são os bandidos. “Os policiais não tinham como enxergar reféns a noite e com chuva. Desejo que esse afastamento dos policiais seja para sua recuperação psicológica e investigação dos fatos”, colocou. De acordo com a deputada, o assunto é doloroso e fere as famílias de todas as vítimas, mas o trauma dos policiais envolvidos na ação não pode ser desconsiderado. “São seres humanos também, guerreiros do dia a dia e que já salvaram diversas vidas. Então, me revolta ver publicações acusando a polícia do Estado de criminosa e tantas outras atrocidades, quando os grandes culpados de todo este episódio serão sempre os bandidos”, apontou.
O vereador Soldado Noelio (Pros) também pediu empatia com os agentes. “Nós consideramos o que ocorreu em Milagres uma tragédia e que deve sim ser apurado, mas jamais se condenar sumariamente policiais que estavam trabalhando para defender a população. Nós precisamos ter o mínimo de empatia com esses profissionais, que foram para uma ocorrência com pessoas preparadas para matar os policiais. É lamentável ver parte da imprensa agindo de má fé, insinuar que os policiais sabiam que tinha reféns com os bandidos”, apontou.
O confronto entre policiais e assaltantes em uma agência bancária, durante a madrugada, acabou tirando a vida tanto de criminosos quanto de inocentes. Das 14 pessoas mortas, seis foram identificadas como reféns do grupo de assaltantes, com cinco delas sendo da mesma família e tendo tido intenção de passar as férias no Ceará.
O caso fez com que o Governo do Estado decidisse afastar das atividades 12 policiais que participaram do tiroteio. O afastamento, segundo divulgado pelo Governo, continuará até a conclusão das investigações sobre o caso. Os profissionais deverão atuar, durante esse período, em processos administrativos. As investigações serão tocadas pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e pela Controladoria Geral de Disciplina (CGD).
Pouco após o ocorrido, o governador Camilo Santana gerou polêmica ao fazer declarações sobre o assunto. Ele havia dito que não estava ciente da existência de reféns na situação e que achava “estranho um refém de madrugada num banco”. Ele afirmou, ainda, que “o fato é que [os criminosos] estavam preparados para assaltar dois bancos e não conseguiram”.
Após repercussão negativa, o governador se retratou, admitindo que as declarações que fizera foram “infelizes”. “De forma infeliz disse aquilo, mas peço desculpas à família. Quem me conhece sabe do meu respeito às pessoas e da minha defesa à vida”, disse.
O pedido de desculpas, no entanto, não foi o suficiente para alguns parlamentares. O vereador Márcio Cruz (PSD) apresentou, na Câmara Municipal, requerimento para enviar moção de repúdio à fala. Segundo o parlamentar, as declarações de Camilo foram inadequadas. “Ele deveria ter se solidarizado com a família e não questionar o fato dos reféns estarem no banco naquele horário. E hoje vi nos jornais que o próprio governador reconheceu que foi uma fala infeliz. E mais uma vez isso mostra o quão deficitária é a segurança no nosso Estado”, declarou.
Crítica parecida foi feita por Fernanda Pessoa que sugeriu “despreparo” na postura do governante, na situação. A deputada ponderou, no entanto, que foi fundamental a atitude do Governo em afastar os 12 policiais que atuaram no caso.