Depois de fim de semana de intensas trocas de acusações e de xingamentos em grupo do Whatsapp dos deputados estaduais, Dra. Silvana e Leonardo Araújo (ambos do PMDB) “fizeram as pazes” na tribuna da Assembleia Legislativa. Os pedidos públicos de desculpas, porém, não resolveram o impasse: nos bastidores, o parlamentar tentava reaver o cargo na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJ), enquanto Silvana se esquivava, tentando ganhar tempo para negociar a decisão com outros parlamentares.
Sobre o assunto
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“Leonardo, se por algum momento eu tiver feito Vossa Excelência sofrer, eu peço perdão. Se Vossa Excelência quiser, eu também te dou meu perdão”, falou a deputada em discurso emocionado que abriu a sessão. Leonardo respondeu, afirmando que reconhece seus “excessos”. Na rede social, o deputado chegou a dizer que ela “fez pacto com o diabo”.
A discussão começou quando, apoiada por seis parlamentares do bloco PMDB-PSD-PMB, a Silvana foi alçada à liderança do bloco, destituindo Leonardo do cargo. O movimento, classificado pelo peemedebista como “golpe do Governo do Estado”, iniciou quando o governista Osmar Baquit (PSD) retornou à Assembleia. A deputada ainda trocou Leonardo por Baquit na relatoria da PEC da extinção do Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará (TCM) na CCJ.
"Não vou jamais usurpar de ser líder para maltratar e expor meu amigo Leonardo, (...) é meu desejo que ele não saia magoado"
Dra. Silvana, deputada estadual
Negociação
Os três partidos do bloco chegaram a enviar ofícios à Mesa Diretora da Assembleia solicitando o retorno de Leonardo aos cargos. A avaliação de deputados da Casa é que, após a pressão dos partidos, a deputada resolveu buscar uma reconciliação para manter-se na liderança.
Para isso, reuniu-se com o deputado Danniel Oliveira (PMDB), voz do senador Eunício Oliveira (PMDB) na Casa, para tentar articular um “acordo de paz”. Segundo ele, foi decidido que Silvana assinaria a recondução de Leonardo ao cargo na CCJ. “Nesse momento é restabelecida a ordem dentro do bloco, está resguardado o interesse dos partidos”, comemorou.
"Esses excessos têm de ser superados, deixados de lado, para que possamos virar essa página e resolveressa situação"
Leonardo Araújo, deputado estadual
Em entrevista, Silvana admitiu que poderia reconduzi-lo ao cargo, mas que antes teria de conversar com os deputados do bloco e tentar outra saída com o presidente da Assembleia Zezinho Albuquerque (PDT). “Vou lutar por uma vaga a mais para o nosso bloco na CCJ. Vou sugerir isso para buscar um diálogo de paz”, disse.
Embora tenha sinalizado que, se conseguir retornar à CCJ pode desistir de reaver liderança do bloco, Leonardo afirmou que está esperando resposta da Mesa Diretora aos ofícios enviados pelos partidos e que pode entrar na Justiça contra a destituição.
“Não comunicaram a mim e a outros três deputados que haveria essa eleição para a liderança. Quando não fomos chamados, quando foi feito na calada da noite, quando fomos surpreendidos de manhã com o documento, isso caracteriza um golpe”.
Já Silvana nega possibilidade recuar da liderança, mas afirma que se a maioria dos deputados votar contra ela, “terá tido um dia muito feliz de liderança”. Ela negou cooptação do Governo e disse que continuará fazendo oposição.
Bastidores
O clima na Assembleia denunciava que havia mais além dos perdões anunciados na tribuna. Após a sessão, nos corredores próximos aos gabinetes, Danniel Oliveira teve de correr para tentar convencer Silvana a assinar recondução de Leonardo Araújo e Odilon Aguiar (PMB) às comissões de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) e de Orçamento, respectivamente.
A deputada, alegando que estaria atrasada para uma palestra marcada no município de Redenção, esquivou-se do documento, e prometeu assinar tão logo conseguisse falar com os outros membros do bloco.
Relator da PEC do TCM ao menos até assinatura de Silvana, o deputado Osmar Baquit (PSD) comandou audiência pública sobre a matéria na tarde de ontem e foi alvo de protestos contra extinção do órgão. A votação da PEC na Comissão estava marcada para hoje, mas decisão judicial suspendeu a tramitação. Em entrevista, ele afirmou que não recorreria caso Silvana o tirasse do cargo. “Se ela achar que tem que ser o Leonardo eu não vou recorrer a nada”, disse.
LETÍCIA ALVES