Tema foi discutido, ontem, na sede da Fiec, durante a realização do Pacto pelo Pecém
FOTO: NATINHO RODRIGUES
Segundo Eudoro Santana, vai haver pressão política para que o projeto não seja cortado pela Petrobras
Empresa de capital aberto, com 49% das ações distribuídas nas mãos de pequenos, médios e grandes investidores e com papeis em baixa na bolsa de valores, a Petrobras cede à pressão do mercado, altera o foco dos investimentos, - transferindo R$ 5 bilhões da área de refino para a de exploração de petróleo, - e põe em cheque a construção da refinaria Premium II, no Ceará. O novo cenário voltou a mexer com os ânimos dos cearenses, que há anos esperam por uma definição do empreendimento, já garantido até pelo presidente Lula, mas ainda incerto.
Diante das notícias veiculadas na imprensa do Sudeste, o secretário executivo do Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa e coordenador do Pacto pelo Pecém, Eudoro Santana, disse ontem, que "o governador (Cid Gomes) vai trabalhar para que isso (retrocesso na instalação da refinaria) não aconteça". Ao presidir na tarde de ontem, mais uma reunião do Pacto pelo Pecém, Santana falou que "vai haver pressão política", para que o Conselho de Administração da Petrobras não inclua no Planejamento Estratégico da Estatal para os anos de 2012 a 2016, cortes que venham a atingir a implantação da refinaria no Estado.
Cid estará hoje na conferência Rio+20, onde o tema refinaria pode vir à tona com a presidente Dilma Rousseff.
Tranquilidade aparente
O novo plano estratégico será votado pelo Conselho Administrativo da Estatal no dia 25 próximo, o que sugere pressa nas ações e articulações políticas no Estado. "O Ceará tem força política suficiente para que a refinaria não fique de fora do plano da Petrobras", acredita Santana, para quem se houver mudanças serão por questões econômicas. "Mas politicamente isso não poderia acontecer", alerta.
Para o coordenador do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), da Fiec, o economista Francisco Lima Matos, a articulação política desse processo está nas mãos do governador, a quem deve ser dado total apoio para que os acordos entre o Estado e a Petrobras continuem em andamento.
Segundo ele, as ações do governo e das lideranças empresariais ligadas à Fiec vêm se pautando pelas informações de normalidade transmitidas pela Petrobras. De acordo com ele, a avaliação é de que o entrave se resume às questões indígenas, em áreas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), em São Gonçalo do Amarante e ainda em estudos pela Funai.
"Do ponto de vista do mercado, o empreendimento está normal. Precisa-se resolver a questão dos índios. É um ponto pendente que a sociedade civil unida deve resolver", defende.
O presidente da Adece, Roberto Smith, disse que não trabalha com a informação de cortes de recursos à Premium II e atribui à discussão a boatos divulgados pela imprensa do Sudeste.
Ele, no entanto, não apontou data para solução do impasse com a Funai e reforçou que o governo do Estado opera com as informações repassadas apenas pela Petrobras, que não teria, até o momento, divulgado nada oficial referente a mudanças nos planos à refinaria no Ceará.
"Se houve alguma revisão em nível de Petrobras, eu desconheço. Temos a Petrobras sentada em nosso Conselho e ela não nos informa nada nesse sentido", disse Smith. Ele ressaltou que "ninguém está tranquilo com isso, mas temos que trabalhar com os elementos, as informações e com a confiabilidade que a gente tem (na Petrobras)".
Protocolo com montadora chinesa
O governo do Estado assinou na tarde de ontem, durante reunião com um grupo de empresários chineses, uma declaração de intenções para instalação de uma montadora de transportes coletivos pela empresa de ônibus Foton Auv Bus, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp). A informação foi confirmada na tarde de ontem, pelo presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Ceará (Adece), Roberto Smith.
Segundo ele, o documento será levado à China, na próxima semana, para dar continuidade às negociações que, conforme disse, "ainda estão e estágio bem preliminar", apesar da disposição dos chineses em instalarem uma fábrica no Ceará. "Tivemos hoje (ontem) uma conversa de aproximação. As negociações chinesas são sempre de fatiamento, mas já estão bem conduzidas", informou.
Coletivos
De acordo com Smith, a proposta dos chineses é produzir veículos coletivos para venda nos mercados interno e sul-americano. Conforme disse, a empresa já atua em São Paulo, no segmento de montagem de caminhões e de máquinas pesadas. Smith falou ainda que, com a perspectiva da empresa de dividir as unidades de produção, prospecta o Nordeste, mas já manifestou interesse em instalar uma unidade no Ceará. Quanto à possibilidade de instalação de outras montadoras de automóveis no Estado, Smith respondeu que "as conversas estão cuidadosas, mas sem muito avanço". (CE)
Compromisso com a usina é reafirmado, diz Lutif
Presente à reunião do Pacto pelo Pecém, o gerente de Negócios da Premium II, Raimundo Lutif, disse ontem, que foi ao encontro reafirmar o compromisso da Petrobras com a refinaria, o que acabou não fazendo, apesar da oportunidade, aberta a todos, de se pronunciarem sobre as questões relativas aos desafios e entraves dos empreendimentos do Pecém. De acordo com ele, o problema dos recorrentes atrasos no início das obras de instalação do empreendimento se resume às questões indígenas.
"Enquanto (o Estado) não resolver essa questão indígena, ela (Petrobras) não vai se mexer", garantiu Lutif. Segundo ele, a Estatal aguarda apenas o resultado (positivo) da Funai, para que a instalação do canteiro de obras seja iniciado, posto que já dispõe da Licença Prévia, fornecida pelo Ibama, mas que ainda aguarda a liberação da Licença de Instalação (LI).
Legalista
Conforme Lutif, "a Petrobras é uma empresa legalista, preocupada com as minorias" e que nada fará antes que a questão dos índios Anacés seja resolvida no Ceará. Ele evitou avaliar a lentidão com que a Funai estaria examinando a problemática em São Gonçalo do Amarante.
"Torço apenas que essa questão seja resolvida logo", exclamou Lutif, para quem a mudança no cenário econômico não deverá interferir nos planos da Petrolífera no Ceará. O relatório está em fase final de ajuste pela Funai. Questionada pela reportagem, a Fundação respondeu que somente após a conclusão dos estudos irá se pronunciar. (CE).
CARLOS EUGÊNIOREPÓRTER