O deputado, que é presidente do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, avalia que tanto os adolescentes autores de homicídios quanto os que morrem são vítimas e requerem atenção por parte das autoridades. “São pobres, negros e moram em periferias ou aglomerados urbanos subnormais. O que nós precisamos saber é por que outros adolescentes que têm as mesmas características não ingressam no mundo da marginalidade”, disse. Ivo Gomes afirmou que, a partir da identificação das trajetórias de vida e do perfil desses adolescentes, o trabalho deverá ser apresentado às autoridades públicas com propostas concretas específicas.
Além de especialistas em temas como armas e drogas, que, segundo ele, estão estritamente ligados ao fenômeno da violência na adolescência, o parlamentar informou que a sociedade civil está sendo ouvida nessa pesquisa. Ele informou que foram realizadas 10, das 11 audiências públicas no Estado, além de seminários temáticos.
O relator do Comitê, deputado Renato Roseno (Psol), apontou contribuições que podem ser dadas para ampliar as políticas públicas para os jovens. A primeira delas é que “temos que sair das explicações fáceis, do senso comum, que acabam culpabilizando aqueles que são mais excluídos na nossa terrível pirâmide social. Temos que entender o que de fato acontece”. A outra seria traçar “recomendações concretas, viáveis e factíveis”.
Para o parlamentar, a morte começa no abandono, seja comunitário, institucional ou do Estado. Segundo ele, o perfil de quem mora no Brasil atualmente é de jovens, negros e pobres das periferias urbanas. “Portanto, temos que, sobretudo, nesses territórios de maior violência, chegar com mais urbanização, educação, cultua, lazer e arte. A escola, desse ponto de vista, é o equipamento fundamental”, disse Roseno, informando que 60% dos jovens que morreram tinham saído da escola dois ou três anos antes de vir ao óbito.
Promovido pela Assembleia, em parceria com o Governo do Estado do Ceará e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o evento contou com a palestra do sociólogo e coordenador do Mapa da Violência no Brasil, Júlio Jacobo. O especialista fez uma análise da questão da mortalidade por armas de fogo entre os adolescentes, sobretudos na periferias.
Para ele, faltam oportunidades para os jovens, principalmente pelo alto índice de evasão escolar. “A sociedade não encontra resquícios de sobrevivência e aos jovens não estão sendo dadas condições para ingressar nem no mercado profissional, nem de trabalho”, disse, informando que as pesquisas mostram que homens que morrem ou matam são da mesma camada social e que há mais de três anos já deixaram a escola.
Ainda durante a manhã, houve um debate sobre as drogas com as presenças da professora Dra. Luciana Boiteux (UFRJ) e de Rafael Baquit, do Coletivo Balance - Redução de Risco e Danos. No início da tarde, a partir das 13h30, o debate será sobre o acesso às armas, com o professor Dr. Luiz Fábio (UFC), Michele dos Ramos, do Instituto Igarapé, e Bruno Langeani, do Instituto Sou da Paz. Em seguida, às 16h, será realizada uma mesa de debate com os convidados.
Além dos deputados, participaram pesquisadores, advogados, gestores das áreas da segurança e educação do Estado e representantes de entidades ligadas à infância e adolescência.
LS/JU