As águas de junho
Aos interlocutores, Cid Gomes (PSB) costuma dizer que os movimentos e conflitos envolvendo a sucessão de Fortaleza formam uma pauta que hoje só interessa ao noticiário político. É a forma de dizer que usará o limite do tempo permitido pela Justiça Eleitoral para tomar suas decisões acerca do tema. Portanto, não esperemos nenhuma manifestação concreta do governador no período do que resta de abril e de todo o mês de maio. Uma posição deverá ser exposta somente depois que as águas de junho seguirem por debaixo da ponte. A não ser, é claro, que a dinâmica da política imponha antecipações.
Mas, o que diz hoje o termômetro da aliança PT-PSB? Diz claramente o seguinte: a cada dia que passa aumenta a distância entre as duas siglas em Fortaleza. Nem os mais animados defensores da aliança conseguem demonstrar algum otimismo sobre o futuro do acordo.
Diante disso, pululam as projeções. Caso rompa com o PT de Fortaleza, o PSB lança um nome próprio? A resposta não é óbvia. O partido do governador pode simplesmente apoiar uma das candidaturas que vão se colocar na disputa. Inácio Arruda (PCdoB), por exemplo.
O grande objetivo do PSB e do governador parece ser 2014. Cid considera muito mais importante garantir as melhores condições para eleger o sucessor do que entrar na feroz briga pela Prefeitura de Fortaleza. Para o governador, a Capital é um território negociável. Não entrar diretamente no conturbado jogo de Fortaleza é também uma forma de preservar os aliados de 2014, incluindo o PT estadual.
E o PT vai de Elmano de Freitas mesmo sem a aliança com o PSB? Seria uma temeridade, é claro. Trata-se de um nome desconhecido demais para uma tarefa tão complexa. Em tal circunstância (rompimento), ganha mais força o nome do deputado federal Artur Bruno.
Só que Bruno diz o seguinte: “Ora, meu nome é a garantia da continuidade da aliança”. Ou seja, o deputado avalia que se seu nome for indicado como consequência do fim da aliança a indicação terá poder de retomar a aliança. Trata-se muito mais de uma torcida de que de um fato.
2012 será o tipo de eleição com vastas possibilidades. Bem ao contrário de 2008 e mais parecida com a de 2004. Sim, há vagas para cavalos azarões, aqueles que correm por fora da raia e atropelam no final, como foi Luizianne Lins (PT).
Nesse contexto, desponta o nome do deputado estadual Heitor Férrer (PDT). Nota-se a formação de marolas de classe média em torno de seu nome. O problema do pedetista é o de sempre: ainda falta uma aliança que lhe conceda viabilidade política e eleitoral. Mas, junho vem aí e esse quadro pode mudar.
A tendência é que Heitor, cuja trajetória é totalmente dedicada ao parlamento, atraia para si um voto de insatisfação que normalmente iria para uma candidatura da esquerda mais radical. Ou seja, a candidatura do PDT é uma notícia ruim para o Psol, que deve lançar Renato Roseno.
O PSDB, ex-maior partido do Ceará, está apresentando o nome do ex-deputado Marcos Cals. A sigla usa seu tempo na TV para sugerir sua pretensão na Capital. As inserções tucanos já expõem a estratégia ao bater nas gestões de Cid e Luizianne. Até um lema foi lançado: “Pense, inove, mude”.
Considerando as circunstâncias de hoje, que ainda podem mudar até o início da campanha, a disputa de Fortaleza deve precisar de dois turnos para ser decidida.