Moradores de rua invadem confessionário para cobrar comida e dinheiro dos padres
FOTO: KELLY FREITAS
Os 150 lugares sentados da igreja, antes disputados, atualmente, ficam quase vazios durante as celebrações
A Igreja do Rosário, no Centro de Fortaleza, vem perdendo fiéis a cada dia que passa. O motivo não é novo: a insegurança não só no entorno, como também dentro do templo cristão. Um grupo de 50 viciados em drogas, ladrões e moradores de rua age a qualquer hora do dia, abordando quem passa ou entra na igreja para assistir missa, orar ou se confessar.
Esse número foi fornecido pelo pároco local, padre Luís Alberto que, para "minimizar" a ação deles, distribui todo os dias para cada um, meio pacote de bolacha creme crack e R$ 0,50 para o cafezinho com leite. "Os fiéis me ajudam doando o alimento e o valor. Isso melhorou muito a violência por aqui", frisa, lembrando que quando chegou ali, em 2008, a igreja chegou a fechar as portas devido aos assaltos. "Poderia ser bem pior se isso não fosse feito", lamenta.
O pároco tenta diminuir a tensão entre os fiéis afirmando que "eles não fazem nada demais". No entanto, a reportagem do Diário do Nordeste observou que o grupo não respeita nada. Na última terça-feira, eles invadiram o confessionário para cobrar comida e dinheiro, obrigando a pessoa que estava com o padre a sair do local. "Como pode uma coisa dessas? Estou com as pernas bambas", indigna-se a comerciante Maria Aparecida Santos Almeida.
Enquanto três arrecadavam a bolacha e os R$ 0,50, os outros pediam dinheiro aos fiéis que tentavam rezar depois da única missa do dia, às 7h20. "É lamentável, mas é a triste realidade do cotidiano daqui", reconhece o aposentado Pedro da Silva Gomes Filho. Os 150 lugares sentados, antes disputados, atualmente, ficam quase vazios durante as celebrações.
Promessa
Os mais antigos frequentadores fazem promessas à santa protetora para não ser mais uma vítima de viciados em drogas e ladrões que agem na área e pedem à Polícia Militar um posto fixo na Praça dos Leões, onde a igreja do Rosário está localizada. "É uma questão muito grave e que precisa ser enfrentada com mais rigor", afirma o professor Luís Sérgio Pereira.
O comandante da 5ª Companhia do 5º BPM, major Jean Falcão, informa que vai conversar com o padre Luís Alberto e promete dar uma atenção maior à Praça dos Leões. Ele esclarece que a PM mantém 20 postos fixos no Centro e conta com duas viaturas do Ronda e mais três de apoio. "Damos ênfase aos locais com maior número de pessoas e aos horários das missas na Catedral, Cristo Rei e igrejas do Patrocínio e do Otávio Bonfim", diz.
O santuário, onde está enterrado Major Facundo, ícone da história do Ceará, tem capacidade para abrigar 150 fiéis e foi erguido ainda em 1730 pelos escravos. Durante os anos de 1821 e 1854 respondia como Matriz para os católicos da capital cearense. O prédio foi tombado pelo patrimônio histórico do Estado, em 1983, e fica ao lado do antigo palácio do governo, hoje Academia Cearense de Letras, e também do Museu do Ceará, que já sediou a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.
LÊDA GONÇALVESREPÓRTER