O educador Idevaldo Bodião se diz preocupado com a proposta de universalizar o ensino profissionalizante na rede pública para atender mercado
FOTO: BRUNO GOMES
A ampliação da rede de escolas profissionalizantes é promessa de campanha tanto de Camilo Santana (PT) como de Eunício Oliveira (PMDB), ambos candidatos ao Governo do Estado. Atualmente, existem 107 instituições deste porte em 84 municípios cearenses. Apesar dos avanços citados pelo Governo do Estado, a inserção desses jovens no mercado de trabalho e a formação de professores ainda são demandas que vêm sendo gradualmente resolvidas.
De acordo com informações repassadas pela Secretaria da Educação (Seduc), 53 cursos profissionalizantes são ofertados a pouco mais de 40 mil alunos no Estado. A construção de cada uma das 107 escolas custa cerca de R$ 7,5 milhões, sendo 54 financiadas com recursos federais por se enquadrarem no padrão estabelecido pelo MEC (Ministério da Educação). O Governo Estadual investiu R$ 225 milhões, enquanto a União desembolsou R$ 400 milhões para a construir as unidades.
Ainda segundo a Seduc, o currículo adotado na educação profissional, que se estende aos três anos referentes ao Ensino Médio, inclui disciplinas do ensino regular associadas a conteúdo técnico especializado. Hoje o Governo do Estado oferece o curso, mas não tem um monitoramento efetivo sobre a inserção dos estudantes no mercado após terminarem os estudos.
"A responsabilidade não é com a inserção, com a empregabilidade. É a mesma coisa da universidade, que tem como missão a formação dos jovens", diz a coordenadora da educação profissional do Ceará, Andrea Rocha, ponderando que o Estado tenta acompanhar o destino do jovem pelo período de seis meses após a conclusão do curso.
Demandas
Andrea Rocha complementa que o Executivo cearense está desenvolvendo um sistema que vai concentrar os dados dos alunos e os perfis de empresas que demandam profissionais especializados. A proposta é controlar mais de perto a vida do aluno egresso e atender as demandas de instituições que procuram profissionais de áreas diversas. O sistema será vinculado ao Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
A coordenadora da educação profissional ressalta que os professores lotados nas escolas profissionais integram o quadro da rede estadual de ensino, além de profissionais da área técnica cujos contratos são renovados anualmente com o Estado. No entanto, ela relata a dificuldade de preencher algumas vagas por conta da concorrência do magistério com o mercado de trabalho dos profissionais.
"Professor, de modo geral, é um desafio, não só da base técnica. Em algumas regiões, temos dificuldades em certas áreas. No curso de edificações, tem o boom da construção civil e quem dá aula é o engenheiro. Não falta engenheiro no mercado, mas falta o que tem perfil de professor e que vai dar aula do Interior", narra. Cursos da área têxtil, mineração, cerâmica e carpintaria estão entre os que apresentam mais procura das escolas do que oferta de profissionais.
Os professores da rede regular de ensino que são lotados nas escolas profissionalizantes têm um diferencial em relação aos demais colegas das escolas públicas. Por ser educação integral, eles atuam somente em uma escola, diferentemente do que ocorre com os outros docentes, muitas vezes tendo de atuar em vários colégios.
Levantamento
Questionada sobre os critérios de instalação das escolas profissionalizantes nos municípios do Interior, Andrea Rocha destaca que é feito um levantamento junto à Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) para discutir as áreas de crescimento por cada região do Estado. "Antigamente, quem queria fazer algum curso tinha que vir para Fortaleza. Hoje já existe uma maior descentralização de universidades e empresas no Interior", comenta.
A gestora diz considerar uma "realidade natural" a migração de estudantes que se formaram em municípios menores para cidades maiores da região, como ocorre no Cariri, que tem como polos mais desenvolvidos Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha.
A coordenadora da educação profissional do Estado, Andrea Rocha, salienta que as escolas profissionalizantes do Estado são financiadas com recursos do Brasil Profissionalizado, que foi incorporado pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Ela garante que o governo Cid Gomes entregará, até o final da gestão, 140 escolas profissionalizantes, já que algumas unidades estão sendo finalizadas.
Preocupação
Apesar da propaganda do governo acerca das escolas profissionalizantes, a maneira como a pauta vem sendo executada não é consenso entre os educadores. O professor Idevaldo Bodião, que leciona na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), diz que tem uma preocupação do ponto de vista pedagógico-educacional com o modelo das escolas.
O acadêmico explica que a experiência no Ceará foi importada do Governo de Eduardo Campos, em Pernambuco. "O Ceará tem um conjunto de escolas com melhores condições de funcionamento, instalações e melhor qualidade para atender à necessidade de mercado que, no âmbito da proposta, aparece com a eufemística de atender a vocação de cada região", detalha.
O professor também apresenta ressalvas sobre a proposta - defendida por Camilo Santana e Eunício Oliveira - de universalizar as escolas de Ensino Médio em profissionalizantes. Apesar de admitir que a promessa pode ter resultados positivos, opina que há um determinismo econômico ao limitar o ensino profissionalizante à rede pública.
"Não obstaculiza o Ensino Superior, mas é uma situação contraditória. Se quer garantir formação para atender às necessidades do mercado e vão priorizar o Ensino Superior, tem algum equívoco". "A grande tarefa da escola é permitir o conjunto de saberes para todo mundo", acrescenta.
Saiba mais
Mercado
Segundo a Secretaria da Educação, 60% dos estudantes que terminam ensino técnico profissionalizante são inseridos no mercado de trabalho
Funcionamento
O Governo do Estado começou a implantar as escolas profissionais em 2008. O funcionamento dos equipamentos ocorre de 7h às 17h
Professores
Cada escola profissional conta com aproximadamente 23 professores, divididos entre o ensino regular e o conhecimento técnico
Lorena AlvesRepórter