A resistência de Eunício e a toada de Camilo
Numa primeira análise, a pesquisa O POVO/Datafolha pode parecer boa para Camilo Santana (PT). Cresceu e o principal adversário ficou parado. O olhar mais detido, porém, permite extrair outras informações. Primeiro, a impressionante resistência de Eunício Oliveira (PMDB). Desde as primeiras pesquisas, ainda em 2013, sempre se manteve acima de 40% das intenções de voto. Além disso, a arrancada de Camilo, impressionante no primeiro momento, perde força.
Em 3 de setembro, quando foi divulgada a rodada anterior do Datafolha, a coluna apontou: “(...) o crescimento de Camilo era natural e previsível. Mas esse primeiro impulso era, também, o mais fácil. O ponto é: qual a margem para continuar a avançar? Seguirá no mesmo ritmo? (...) essa intensidade de crescimento dificilmente será mantida. Terá Camilo atingido seu teto ou seguirá avançando? São questões que as próximas pesquisas responderão” (leia aqui: http://bit.ly/1A5nYZN).
Pois bem, o ritmo caiu , e muito. Essa toada não serve para Camilo. A diferença era de 10 pontos no começo do mês. Duas semanas depois, chegou a sete. A eleição será em duas semanas. A seguir no mesmo ritmo e reduzir mais três pontos, Eunício pode vencer no 1º turno. Daqui para frente, o petista acelera ou segue nesse fôlego cansado? Na resposta a essa pergunta está o resultado da eleição.
DUAS SEMANAS DE ARREPIARPorém, uma coisa em que não se deve apostar nessas duas semanas decisivas é na rotina, na continuidade. O tom da disputa já mudou e deve mudar mais. O atual grupo governista não está há tanto tempo no poder à toa. São profissionais da política. Ao anunciar a licença do governo, sem nem ao menos ter um vice a quem entregar o cargo, Cid Gomes (Pros) dá o sinal do engajamento que terá para tentar eleger o sucessor. Logo que tomaram conhecimento dos números do Datafolha, aliados imediatamente tentaram evitar a depressão e comemoraram o tímido avanço, com entusiasmo ao que forçado, diga-se. Em seguida, a postura, mais realista, foi de redobrar o engajamento. Esse deve ser o tom agora.
O comportamento de Cid e o ânimo dos apoiadores lembram a última semana do segundo turno de 2012 em Fortaleza. Com Elmano de Freitas (PT) na frente e a visita de Lula com adversária, a campanha se prenunciava dificílima para Roberto Cláudio. Mas houve a virada, para a qual o envolvimento de Cid foi talvez o fator crucial. Os governistas se miram naquele exemplo. O problema é confiar que se repetirá sempre. De todo modo, há a receita a seguir.
Do outro lado, porém, Eunício também sabe jogar esse jogo. Conhece os meandros das campanhas, fala o dialeto dos líderes do Interior. Há muito tempo como aliado dos Ferreira Gomes, conhece as armas e métodos dos ex-parceiros. Sabe usá-las e a outras mais.