O presidente do PDT no CE, André Figueiredo, diz que alguns candidatos disputam só para se tornarem conhecidos, já visando ao pleito seguinte
FOTO: AGÊNCIA CÂMARA
Apesar de afirmarem que prezam pela conduta ética e histórico de militância dos filiados, a maioria dos partidos políticos tem pouco ou nenhum controle dos candidatos lançados durante as eleições municipais e gerais. Só no pleito de 2012, pelo menos 24 postulantes a vereador de Fortaleza não tiveram nenhum voto. Outros 900 não alcançaram nem três mil sufrágios. Centenas de candidaturas são lançadas de dois em dois anos, mas somente algumas dezenas tornam-se protagonistas na campanha eleitoral.
Nas eleições de 2010, mais de 140 pleiteantes a deputado estadual não chegaram a mil votos. A Assembleia Legislativa oferece 46 cadeiras no Ceará. Já dos que concorreram à Câmara Federal, que abre 22 vagas no Estado, 76 candidatos obtiveram menos de 15 mil votos e apenas 14 foram votados por mais de cem mil eleitores. Por conta da proporcionalidade do pleito, alguns partidos pequenos conseguiram eleger representantes no Legislativo.
O deputado estadual Paulo Facó - o menos votado a entrar na Assembleia Legislativa - conseguiu se eleger porque o partido ao qual é filiado, o PTdoB, coligou-se ao PTN e PRTB. Ele conquistou quase 22 mil votos, enquanto outros que obtiveram votação mais expressiva não conquistaram uma vaga no Legislativo estadual, como o vereador João Alfredo (PSOL), que alcançou 33.635 sufrágios.
Modesta
O presidente estadual do PTdoB, Haroldo Abreu, diz que a votação modesta de Paulo Facó representa uma campanha que não foi milionária e alega que o parlamentar é o parâmetro de critérios do partido para escolher os próximos candidatos. Segundo ele, os filiados que desejem se candidatar devem atender exigências como ser ficha limpa, não possuir anterioridade de processos judiciais e ter identificação com a cidade.
Haroldo Abreu ressalta que o método do PTdoB de se unir a outras siglas é uma estratégia necessária, embora acredite que o ideal seria que as siglas saíssem sozinhas nas eleições. "A coligação fragiliza os partidos, mas não consigo formar 90 mil votos hoje, temos que coligar". E sentencia: "Enquanto não chegamos nessa evolução, vamos jogar como o jogo está".
O dirigente relata que filiados que não são conhecidos da população acabam sendo candidatos porque podem surpreender na votação. "Alguns partidos fazem essa estratégia, mas todo partido tem um candidato concorrendo de verdade. Às vezes, temos surpresa. As eleições não têm cartas marcadas", diz.
Com a proporcionalidade nas eleições, muitos candidatos acabam atuando como puxadores de voto, a exemplo do vereador Capitão Wagner (PR), que obteve 43 mil votos na Câmara Municipal de Fortaleza e garantiu três nomes do partido na Casa. Um deles, o vereador Márcio Cruz, obteve apenas 3.193 sufrágios. Eleito pelo PR, Cruz deixou a legenda e se filiou ao PROS com menos de um ano de mandato.
Trampolim
Para Wagner, presidente municipal do PR, o ex-correligionário usou o partido como trampolim. "Ele saiu por conveniência e não ideologia", critica. O republicano garante que a sigla tenta selecionar pessoas íntegras para concorrer pelo partido, mas pondera: "Infelizmente nem sempre tem como identificar".
Para o vereador, é "subjetivo" estabelecer critérios para mensurar os méritos de indicação de candidatos pela agremiação, justificando que a regra é seguir o que diz o estatuto do partido. "Seria hipocrisia dizer que não consideramos densidade eleitoral, mas esse fator não pode ser a prioridade", declara.
O presidente do PDT no Ceará, deputado André Figueiredo, diz que a primeira exigência do partido é a conduta ética pessoal e profissional. "Levando em conta a representatividade no município, profissão ou bairro e a identificação com as bandeiras do partido". No próximo dia 15, o PDT reúne pretensos candidatos e parlamentares da sigla para discutir as possibilidades de candidaturas para este ano.
O pedetista justifica que, mesmo sem chance de vitórias, alguns pleiteantes usam o período de campanha para se tornarem conhecidos. "Muitos candidatos lançados nos municípios, mesmo que não se elejam, ganham visibilidade para um pleito municipal", exemplifica.
A cientista política Mirtes Amorim, professora aposentada da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que é obrigação dos partido conhecer os projetos de cada candidato e a identificação com as bandeiras da legenda. "Numa democracia verdadeira, em funcionamento pleno, a escolha é prévia. Não é qualquer pessoa que chega e diz: quero me candidatar", declara.
A especialista ressalta que esse controle não ocorre no Brasil pela flexibilidade ideológica das agremiações. "Não tem essa exigência e as pessoas se candidatam sem ter nenhuma densidade política". Citando postulantes com votação inexpressiva, inclusive sem conquistar um único voto, Mirtes alerta que essas candidaturas configuram registro sem seriedade. "Fala mais alto nessa hora a desorganização partidária e o espírito narcísico de querer ver seu nome em evidência. Cabe ao partido fazer as exigências, fazer um filtro", opina.