Policiais militares dificultavam a entrada de populares no prédio da Assembleia Legislativa, no fim da manhã de ontem, atendendo ordens da direção da Casa, motivando protestos dos que buscavam acesso ao Legislativo
fotos José Leomar
Os deputados como têm entrada privativa da garagem para o plenário, muitos sequer sabem do transtorno
Desde a semana passada que há limitações dos espaços no Legislativo estadual em razão da ocupação do saguão principal da Casa por pessoas identificadas como professores e estudantes da Universidade Estadual do Ceará. Ontem, não mais de 40 eram os acampados, mas as entradas da Assembleia estavam parcialmente fechadas para os populares que para ali se dirigiam.
A entrada principal da Casa, pela Avenida Desembargador Moreira está fechada com grade de ferro e policiais em frente. Na outra entrada, ontem, no estacionamento que separa a grade de segurança do prédio e a entrada que dá acesso ao plenário, policiais limitavam a entrada das pessoas, deixando sob o sol quente do fim da manhã e início da tarde, aglomerados insatisfeitos em não ter acesso à Casa do Povo. No saguão principal, porém, os manifestantes estavam à vontade, com limitação apenas de entrar no plenário.
Desocupação
Alguns deputados, reservadamente protestam contra tal situação, reconhecendo o desgate imposto ao Legislativo, impotente para resolver o problema tendo em vista a posição do Governo já reafirmada em vários momentos de só negociar as reivindicações se a greve for suspensa. No plenário, porém, alguns outros parlamentares na busca de espaço fazem discursos reclamando o diálogo, sem que o governador lhes dê atenção.
Ontem, depois de examinarem umas imagens feitas pelas câmeras de segurança do prédio, segundo dizem, desrespeitosas ao ambiente, surgiu um movimento no sentido de cobrar a desocupação do prédio de modo pacífico que tanto a Assembleia quanto a imagem da Universidade Estadual não ficassem mais chamuscadas. Tem deputado também defendendo que acabou a participação da Assembleia no episódio com a realização da audiência pública, sem qualquer resultado prático realizada na última quarta-feira.
Autonomia
Todo dia de sessão na Assembleia, desde a chegada do grupo que ocupou o saguão que dá acesso ao plenário, alguns deputados se reportam ao movimento grevista, embora nada de novo acrescentem. Ontem, foi o deputado Professor Pinheiro (PT) quem destacou, durante pronunciamento, na Assembleia Legislativa, alguns pontos levantados durante audiência pública realizada entre parlamentares, o secretário de Ciência e Tecnologia, Renê Barreira, e representantes dos professores universitários em greve. Segundo ele, durante o debate que discorreu sobre o movimento paredista nas três universidades estaduais foi explicado que instituições de ensino, atualmente, têm autonomia financeira para direcionar os recursos para qualquer área. A deputada Eliane Novais também tratou do assunto.
Pinheiro lembrou, por exemplo, que a Universidade Estadual do Ceará (UECE) detém de verbas de custeio da ordem de R$ 25 milhões anuais, enquanto que a Universidade Regional do Cariri (URCA) e Universidade do Vale Acaraú (UVA), R$ 15 milhões, cada, e podem planejar as suas ações e definir onde querem investir os seus recursos. "Elas podem planejar as suas ações e dizer onde querem investir esses recursos", salientou o petista. De acordo com ele, as universidades paulistas já têm um Orçamento do Estado que é repassado para as instituições e são elas quem coordenam suas ações.
No mesmo horário em que populares eram barrados sob o sol escaldante do fim da manhã e início da tarde, os manifestantes, não mais que 40 estavam à vontade no saguão da Assembleia, a porta de entrada para o plenário daquela Casa
Gerenciamento
"Esse é um processo que estamos construindo e esperamos que ele possa se consolidar. Esse será um legado importante do Governo do Estado. Há um debate importante de que não há um processo de autonomia no Ceará. Alguns acreditam que o processo ainda está aquém, mas isso é um processo histórico que demanda tempo", ressaltou ele.
O petista ressaltou também que atualmente existem eleições democráticas nas universidades estaduais para escolha dos dirigentes de tais instituições, e que, portanto, segundo disse, é necessário esperar que as universidades possam estar em um processo de gerenciamento de seus conflitos internos, ampliando a democracia no âmbito superior. Segundo disse, a Assembleia tem se dedicado em busca de uma intermediação visando o fim da greve, e que, na audiência realizada na quarta-feira, aconteceram mais de 50 intervenções .
"Estamos buscando o consenso. É possível avançar nas negociações com a intermediação da Assembleia", defendeu ele, afirmando ainda que as universidades estaduais avançaram na preparação do seu corpo docente, possibilitando, assim, que possam ser abertos cursos de doutorado e de mestrado.
"As nossas universidades estão qualificadas para buscar projetos importantes, como na área de caprinocultura. Na Urca há um grande laboratório, que é a chapada do Araripe e o Geopark, sob a responsabilidade da universidade (URCA), e que atrai professores do mundo inteiro".
"Hoje, há uma parcela significativa dos docentes com especialização, mestrado, doutorado e pós-doutorado, o que permite que essas instituições possam avançar e qualificar seus profissionais fora do Estado para buscar recursos em agências públicas federais que financiam pesquisas no Brasil", disse ele.
O deputado informou que participou de encontro de Geoparks e a unidade do Cariri foi apontada como a mais importante do mundo. "Temos um potencial de turismo científico muito grande. Os principais museus do mundo têm peças retiradas do Araripe. No Geopark Araripe temos um trabalho realizado e gerenciado pela Urca. O Geopark Araripe tende a se transformar em um grande espaço para discussão da história da humanidade", disse.
Suspensão
O secretário de Ciência e Tecnologia, Renê Barreira, por orientação do governador Cid Gomes tem sido enfático em não dialogar enquanto a greve não for levantada. O Estado não negocia com categoria paralisada. O líder do Governo na Assembleia, deputado José Sarto, em pronunciamento recente, disse que o governador receberia os representantes das universidades, em janeiro, após as festas de passagem do ano, mas foi enfático ao dizer que o movimento terá que estar suspenso.