Funcionários saem devido aos baixos salários, e a equipe não é suficiente para dar conta dos projetos Equipamentos de última tecnologia, grandes espaços de trabalho e importantes convênios de pesquisa encontrados em inoperância devido à falta de profissionais para colocá-los em prática. É assim que vem se configurando a situação do Núcleo de Tecnologia do Ceará (Nutec), da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado (Secitece), nos últimos anos. Por conta de salários considerados baixos, técnicos, doutores e bolsistas da instituição estão evadindo em busca de melhores oportunidades, enquanto as modernas estruturas laboratoriais vão ficando cada vez mais subutilizadas.Após reivindicações dos funcionários que ainda restam no local, a Comissão de Ciência, Tecnologia e Educação Superior da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará visitou o lugar, na manhã de ontem (29), para avaliar o verdadeiro estado do centro. O cenário encontrado foi de abandono. Segundo Jeruza Feitosa, presidente da Associação de Servidores do Nutec (Asnut), o quadro de profissionais, hoje, não é suficiente para dar conta dos projetos. Muitos optaram por sair da empresa, conforme ela, em razão dos baixos salários oferecidos e da não discussão sobre o plano de cargos e carreiras pela diretoria. "Temos 109 servidores, mas, destes, só 73 estão no Nutec, os outros estão cedidos. Desses 73, 46 estão em processo de aposentadoria e podem deixar o núcleo a qualquer momento", relata. Desuso Devido à falta de pessoal, quase todos os laboratórios estão desativados ou funcionando precariamente. De acordo com um relatório enviado pelos funcionários à Comissão da Assembleia, dos 18 existentes, sete paralisaram atividades por falta de uso ou, em alguns casos, sem nunca terem sido utilizados. Outros seis atuam com apenas um ou dois técnicos e a ajuda de bolsistas, muitas vezes voluntários. Dos cinco laboratórios da Unidade de Materiais, por exemplo, a qual faz pesquisas voltadas para o setor de construção civil, três estão fechados desde o início do ano. Conservação Por conta do desuso, equipamentos de ponta, alguns adquiridos há pouco tempo, encontram-se em mau estado de conservação, cobertos de ferrugem, poeira e sem manutenção. Em um dos espaços, pode ser visto um aparelho de raio-x que a equipe considera obsoleto, pois está parado há cerca de 20 anos. As salas de trabalho, completamente estruturadas, ficaram vazias, sem nenhum profissional sequer. No Laboratório de Referência em Biocombustíveis (Larbio), aberto em dezembro de 2011, duas microusinas elaboradas para testar possíveis geradores de biodiesel e já utilizadas em grandes projetos junto à Petrobras, também não funcionam mais. Em outra unidade, um laboratório de processamento de frutas, que poderia, por exemplo, viabilizar várias pesquisas sobre reaproveitamento de alimentos, passou por uma total reforma no entanto, depois de um tempo, também foi desativado. Mais grave ainda é a situação do laboratório de alimentos desenvolvido com o objetivo de realizar, por meio de um convênio com a Secretaria de Educação do Estado (Seduc), análises científicas da merenda escolar distribuída no Ceará. O local, um prédio de médio porte com salas e equipamentos já montados, cujo investimento, segundo a equipe do Núcleo, girou em torno de R$ 1 milhão, está de portas fechadas. Nunca foi inaugurado, nem sequer operado. VANESSA MADEIRAREPÓRTER Serviços de coleta de lixo também são afetados Os problemas de gestão afetaram, até mesmo, os serviços de coleta do lixo produzido no Nutec. Há alguns meses, o contrato com a empresa responsável pelo trabalho venceu, não foi renovado e ainda não foi substituído. Enquanto isso, os resíduos são descartados no próprio terreno da instituição, formando uma enorme pilha de papel higiênico, garrafas plásticas, embalagens de produtos e outros. A subutilização do Núcleo, conforme Ana Luiza Maia, diretora de empreendedorismo e negócios da instituição, tem causado queda na capacidade de integrar novos projetos. "Não podemos receber mais demandas por falta de pessoal. Nossos parceiros fiéis permaneceram, mas, se tivéssemos profissionais, poderíamos render muito mais", diz. Segundo o deputado federal Lula Morais, vice-presidente da Comissão de Tecnologia da Assembleia, "é uma pena" ver a instituição sendo mal aproveitada. "Aqui é uma fonte de recursos, porque os serviços realizados no núcleo são pagos. Isso quer dizer que o Estado está deixando de faturar por não estar recebendo essas demandas", destaca. Ele afirma que será elaborado um relatório sobre os problemas e que irá discutir o assunto com representantes do governo do Estado a fim de encontrar uma solução a curto prazo. Concurso Por meio da assessoria de comunicação, a presidência do Nutec alegou que o processo de um concurso público para preencher as demandas tramita junto à Procuradoria Geral do Estado (PGE), mas não informou quando o certame será, de fato, realizado. Segundo o órgão, o processo contemplará o Plano de Cargos e Carreiras dos funcionários, além de uma proposta de gratificação por produtividade.