Deputados José Sarto e Heitor Férrer, no fim da sessão acabaram se desculpando das agressões trocadas em momento anterior, quando o primeiro condenava o discurso do outro, sobre a ida do secretário à Assembleia
FOTO: JL ROSA
Só ontem alguns parlamentares foram responder o que ouviram no dia anterior do próprio Bezerra
Deputados estaduais cearenses repercutiram ontem, na Assembleia Legislativa, a visita do secretário de Segurança Pública, coronel Francisco Bezerra, na quarta-feira passada, quando fez uma exposição sobre o trabalho que desenvolve e respondeu perguntas dos parlamentares. Enquanto opositores criticaram o que eles chamaram de conduta "arrogante", a base governista afirmou que alguns deputados só se preocuparam em atacar o secretário, deixando de aproveitar o momento de forma positiva.O deputado Vasques Landim (PR) disse que Bezerra não se desarmou e se apresentou com "empáfia", tratando os parlamentares com arrogância e "ferindo" muitos dos quadros da Casa. "Eu sou um daqueles que compreendem que a humildade é um dos maiores valores que o cidadão pode ter ao seu lado. Com esse valor da humildade se consegue tudo. Agora, com o tom de arrogância e sarcasmo, às vezes, a gente afasta as pessoas", criticou o republicano.
Segundo ele, a Assembleia, além de ser a Casa do Povo é também o ambiente de trabalho dos deputados. Landim argumentou ainda que não saiu convencido dos números apresentados por Bezerra. Antônio Carlos (PT) lamentou não ter tido oportunidade para a réplica nos ataques que segundo ele foram feitos pelo secretário durante o debate. "O secretário faltou com a verdade para comigo. Eu não chamo nem aliado e nem inimigo de chefe, nem em momentos de intimidades", afirmou o petista, solicitando mudança no formato do debate proposto pelo presidente da Casa, José Albuquerque (PSB).
Proposital
Para Heitor Férrer (PDT), o secretário desrespeitou a todos os parlamentares por ter chamado a deputada Fernanda Pessoa (PR) por mais de uma vez de Roberta Pessoa de forma proposital para insinuar que ela, que é filha do ex-prefeito de Maracanaú Roberto Pessoa, estava apenas sendo usada pelo seu pai. O pedetista lembrou que o governador Cid Gomes em toda visita que fez à Assembleia nunca desacatou os parlamentares, o que segundo ele, foi feito pelo secretário que em sua visão, desrespeitou toda a classe política.
"Ele foi jocoso, foi desrespeitoso e o prejuízo é do Parlamento. As pessoas me ligaram decepcionadas conosco porque o Parlamento se calou, se curvou, ficou intimidado. Mas não nos foi dado o direito de falar", salientou.
Segundo ele, o tempo dado para que os deputados fizessem o uso da palavra foi "vergonhoso" visto que o secretário teve duas horas para falar enquanto que os parlamentares se pronunciaram durante apenas três minutos. "Eu ainda tive o tempo cortado pelo presidente desse Poder Legislativo".
"O secretário vir dizer que nosso programa de Segurança é exemplo para o Brasil". Heitor Férrer lembrou que o Estado passou de 18º entre os mais violentos para 11º nos últimos anos. "Nós não nos defendemos das agressões porque não tivemos espaço, não tivemos condição de reagir", criticou,
O deputado Tin Gomes, presidindo a sessão de ontem, por outro lado, disse ter ficado entristecido com as falas de Heitor Férrer e lamentou que o pedetista tenha dito que a Casa foi conivente com o secretário. "Quem diz o que quer dizer ouve o que não quer. Isso para mim é democracia", afirmou o humanista.
Bala
Já o líder do Governo, José Sarto (PSB), chegou a dizer que Heitor, por ter sido bem votado como candidato a prefeito nas eleições do ano passado em Fortaleza, está se sentindo "a última coca-cola do deserto, a bala que matou o Kennedy".
"A tribuna não é sua não, deputado. É de todos os deputados que estão aqui. A eleição fez muito mal à vossa excelência", criticou Sarto. Heitor Férrer, nesse momento, se exaltou e condenou as falas de Sarto, dizendo que o líder do Governo queria humilhá-lo. No final da sessão os dois se desculparam.
Augustinho Moreira (PV) também partiu em defesa do secretário Francisco Bezerra e frisou que ele foi desrespeitado pelos parlamentares, inclusive por Eliane Novais que chamou o secretário de monstro. A deputada, sentada ao lado de Augustinho reagiu e disse que ele estava inventado, que não houve qualquer desrespeito contra o gestor.
Para Welington Landim (PSB), os parlamentares perderam a oportunidade de mostrarem caminhos para a solução do problema da segurança, mas se limitaram a atacar o secretário, como se fosse ele inimigo do Parlamento. "Se ele está em um cargo de confiança, você pode até solicitar sua saída, mas isso é competência do Governo. Perdeu-se a oportunidade e dizem que o secretário estava enraivecido. Mais enraivecido estávamos nós", afirmou,
Silvana Oliveira (PMDB) também defendeu a gestão de Francisco Bezerra. "Não adianta dizer que toda a culpa é do secretário de Segurança Pública. A Polícia prende o bandido e no outro dia a Justiça solta", lembrou. O vice-líder do Governo, Júlio César Filho (PTN), por sua vez, disse que todos os deputados sabiam como funcionavam os debates feitos com os secretários.
Para ele, se tivessem réplicas e tréplicas o debate iria durar até a noite, visto que não há tempo hábil para todos os deputados fazerem uso da palavra. Já Roberto Mesquita (PV) voltou a defender que o governador Cid Gomes repense a manutenção de Bezerra na Segurança e chamou o secretário de arrogante por dizer que o problema do aumento da violência é ocasionado por outras secretarias e gestões.
FIQUE POR DENTRO
Se conhecessem o seu Regimento seria diferente
O Regimento Interno da Assembleia tem um Capítulo específico definindo a participação de secretários estaduais em sessões daquela Casa, convocados ou convidados. Se os deputados, que ontem questionaram a falta de tempo para suas manifestações e a contradita ao secretário de Segurança, conhecessem aquele documento, norteador das sessões e processos legislativos, obrigação mínima de cada um deles, não precisariam estar inutilmente reclamando do que aconteceu na última quarta-feira.
No Capitulo VIII do Regimento Interno da Assembleia, dos Arts. 337 a 340,tem a garantia de tempo bem maior para as indagações aos secretários e também para a réplica. Qualquer deputado, conhecendo o Regimento teria levantado uma Questão de Ordem e utilizado o tempo regimental para indagar e fazer a contradita. Lamentavelmente, a maioria dos nossos deputados não desconhecem somente o Regimento Interno da Casa. Eles pouco sabem sobre as constituições do Estado e do Brasil que juraram respeitar e cumprir. E Legislador sem esses conhecimentos não pode ser considerado eficiente.
Os pronunciamentos de ontem, na ausência do secretário, antes de elevar o Parlamento só contribui para denegri-lo por mostrar integrantes seus despreparados e desencorajados para os embates próprios do exercício parlamentar, no momento próprio, mesmo dispondo da inviolabilidade tratada pela Constituição Federal, que lhes permitem expressar, sem qualquer prejuízo de natureza cível e penal "suas opiniões, palavras e votos".
A deputada Fernanda Pessoa com a mesma coragem demonstrada ao ler o texto com as críticas à atuação do secretária e concluir recomendando que ele pedisse para deixar o cargo, poderia tê-lo repreendido quando ele trocou o seu nome. O deputado Antônio Carlos, em vez de estar reclamando dos registros feito pelo jornal, poderia ter contestado o secretário quando disse que ele o chamava de chefe no gabinete da secretaria de Segurança.