Mesmo aliados questionam atuação de Francisco Bezerra
FOTO: IANA SOARES
Está marcada para hoje, na Assembleia Legislativa, a aguardada visita do secretário da Segurança do Estado, Francisco Bezerra. Ele terá a oportunidade e o dever de, finalmente, responder às críticas e questionamentos sobre a pasta, de longe a mais criticada do governo Cid Gomes (PSB). Em meio aos índices elevados de criminalidade e ao descompasso institucional da secretaria – apesar dos pesados investimentos – paira série de questionamentos aos quais Bezerra poderá responder.
Muito além das críticas de cunho político, o secretário tem explicações a dar, principalmente, sobre números. Os recentes dados sobre violência deixam evidente o momento de crise sem precedentes que o Estado atravessa na área de segurança pública. Conforme mostrado no O POVO de ontem, o número de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) em Fortaleza cresceu 27,53% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Ações recorrentes contra bancos na Capital e no Interior também se tornaram marca negativa. O número de roubos a pessoa, assaltos a ônibus e furtos também cresceram este ano.
Casos emblemáticos nas últimas semanas se transformaram em símbolos do cenário preocupante. Entre eles os assassinatos do comerciante Antônio Teixeira Azevedo, no Centro, do padre Elvis Marcelino Lima, na Praia de Iracema, e a morte, ainda não esclarecida, do motorista Darlan de Castro, durante blitz policial em Paracuru.
Números e casos que tornam cada vez mais questionável o Ronda do Quarteirão, programa criado em 2007 e que se tornou o símbolo do Governo do Estado na área se segurança, sem, contudo, conseguir traduzir investimentos em resultados. Em 2011, quando Bezerra assumiu a secretaria, o orçamento para a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) foi de R$ 942,3 milhões. Em 2012, R$ 1,38 bilhão. Este ano, R$ 1,67 bilhão.
Problemas institucionais
Junte-se a isso a obscuridade institucional que paira sobre a SSPDS. Cid solicitou a ajuda do irmão e ex-ministro Ciro Gomes (PSB) na secretaria. Porém, não está claro o papel desempenhado por Ciro, uma vez que ele não tem cargo oficial na pasta nem em outro setor do governo.
Ciro inclusive deixou outra dúvida no ar quando, em maio deste ano, quando passou a exercer atividade informal na secretaria, denunciou uma “milícia” dentro da PM e acusou o vereador Capitão Wagner (PR) de chefiar o grupo. A questão não foi esclarecida.
Além disso, a forma como as autoridades da área lidam com os pedidos de informação recebe críticas, por exemplo, de entidades de policiais, pesquisadores e Ministério Público. Na Assembleia, a área de segurança é criticada quase diariamente, inclusive por aliados. O secretário deverá apresentar, primeiramente, o balanço das ações da secretaria. Depois, será aberto espaço para questionamento dos deputados.
NÚMEROS
1,67
bilhão é o gasto previsto com segurança no Estado para 2013
7,53%
é o aumento de homicídios dolosos em Fortaleza nos seis primeiros meses de 2013
27,9%
é o crescimento das ações contra bancos no Estado, de janeiro a julho deste ano
SERVIÇO
Francisco Bezerra no Ciclo de debates da AL
Quando: hoje, a partir das 11hOnde: Av. Desembargador Moreira, 2807 - Dionísio Torres
Você pode acompanhar também pela TV Assembleia, canal 30
Principais questionamentos ao secretário da Segurança
Homicídios: de janeiro a junho deste ano foram registrados 982 homicídios na Capital - aumento de 27,53% em relação ao mesmo período do ano passado. Roubos a pessoa: somente nos quatro primeiros meses do ano, 13.717 roubos a pessoa foram registrados em Fortaleza - aumento de 28,8% se comparado ao mesmo período de 2012.
Furtos: nos quatro primeiros meses deste ano foram 922 furtos em Fortaleza, contra 900 no mesmo período de 2012, um acréscimo de 2,4%.
Assaltos a ônibus: de janeiro a março desde foram registrados, em Fortaleza, mais assaltos a ônibus (579) do que em 2012 inteiro (557).
Ações contra banco: de janeiro a julho, o número de ações do tipo subiu 27,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Homicídios ocultos: estudo do Ipea mostrou que, de 1996 a 2010, 2643 homicídios não foram devidamente registrados no Ceará. Já entre os casos registrados, muitos continuam sem ser elucidados.
Drogas: o próprio Governo reconhece que o aumento da quantidade apreendida não tem sido suficiente para conter o avanço do tráfico e do consumo. O tráfico, aliás, é apontado como a causa do aumento dos homicídios. Porém, em São Paulo, onde a rede de tráfico é mais organizada e a população é maior, o número de homicídios é menor.
Ineficiência do Ronda do Quarteirão: o programa, que foi apresentado em 2007 como o principal projeto do Governo do Estado para a área de segurança pública. Porém, tem sua atuação cada vez mais questionada. O despreparo da Polícia também é alvo de críticas, motivadas por ações como no assassinato do menino Bruce e na recente abordagem que vitimou um jovem em Paracuru.
Falta de transparência: a demora ou recusa da SSPDS em apresentar dados, bem como o silêncio das autoridades representam outro ponto negativo. Ciro Gomes: ainda não ficou claro o papel do ex-ministro na área de Segurança (ele não tem cargo formal). Ciro também denunciou existência de uma “milícia” dentro da Polícia, fato ainda não esclarecido.