Culto realizado na última quarta-feira pela deputada Dra. Silvana, ocorrido em uma das salas do Complexo das Comissões da Assembleia
FOTO: VIVIANE PINHEIRO
O Brasil é um Estado laico, ou seja, deve garantir liberdade religiosa aos indivíduos, mas ser alheio a qualquer religião ou manifestação religiosa específica no exercício de suas atribuições. Apesar disso, o que se vê nas casas legislativas são atitudes que contrariam essa determinação. Na Assembleia Legislativa do Ceará, por exemplo, é realizado, às quartas-feiras, culto religioso ministrado pela deputada Dra. Silvana (PMDB), no Complexo das Comissões da Casa, que também abriga reuniões das comissões da Casa.
Nesta semana, o culto aconteceu, como de costume, em uma das salas do Complexo das Comissões e reuniu cerca de 15 pessoas, com duração de uma hora. O ato iniciou com louvores e músicas de adoração, seguidos de leitura e comentários sobre trechos bíblicos. A deputada Silvana, que é evangélica e esposa do pastor e ex-deputado estadual Dr. Jaziel Pereira, se emocionou e, chorando, disse que "enchia o coração de alegria com a certeza da volta de Jesus".
Os encontros começaram a ser realizados, por iniciativa da peemedebista, em 2011, com autorização do então presidente da Casa, o ex-deputado Roberto Cláudio (PSB), atual prefeito de Fortaleza. À época, a parlamentar havia assumido o cargo legislativo como suplente há cerca de três meses e teve apoio do deputado Ronaldo Martins (PRB), que também é pastor.
Segundo a parlamentar, o culto costuma contar com a presença de funcionários da Casa, amigos, pastores e é aberto à participação de qualquer interessado. Costumam participar dos encontros os deputados Ronaldo Martins (PRB) e Hermínio Resende (PSL) e também já esteve presente Paulo Facó (PTdoB).
Laico
"As pessoas confundem estado laico com estado ateu", queixou-se a deputada, antecipando resposta a críticas à realização dos cultos dentro de uma instituição pública. "Mesmo se o presidente da Assembleia dissesse que eu não poderia mais fazer isso aqui, eu louvaria, como já fazia antes, dentro do meu gabinete, pois ninguém cala um adorador", declarou a parlamentar.
A deputada destaca que o presidente da Casa, deputado José Albuquerque (PSB), manteve a autorização para a realização dos cultos, que, inclusive, saem no calendário oficial da Casa. Ela argumenta que os encontros não incomodam o trabalho da Assembleia, já que não coincidem com as atividades do plenário, e nunca receberam contestação dos demais parlamentares.
O deputado Delegado Cavalcante (PDT), que é vice-presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia, é outro adepto dos cultos religiosos na Casa e sempre que pode procura realizar suas missas em espaços cedidos pelo parlamento, além de praticar o conhecido "Terço dos Homens".
Igualdade
O deputado Antônio Carlos (PT) é contrário a realização desses cultos nas dependências da Assembleia Legislativa, pois, segundo ele, por mais que se tenha tempo e espaço para isso, nunca se irá conseguir contemplar todas as religiões. "Aí você já fere o princípio da igualdade", diz.
O viés religioso não é exclusividade da Assembleia. Foi aprovado este ano projeto de Resolução de autoria da Mesa Diretora que inclui na programação da TV Fortaleza a veiculação de um ato de natureza religiosa aos domingos. A despeito dos protestos de alguns vereadores, o presidente Walter Cavalcante defendeu sua proposta e alegou ser promessa de campanha. No próximo dia 18, será realizada audiência pública na Casa, de iniciativa da vereadora Toinha Rocha, para discutir a o tema.