A baixa taxa de escolarização e a falta de qualificação da mão de obra ainda geram preocupação
A demanda de trabalhadores no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) chegará a 31,4 mil vagas no ano que vem, o pico desde sua criação. O número representa nada menos que o dobro do estoque de trabalhadores formais existentes em 2011 nos municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, que compõem o complexo. O dado que, à primeira vista, é positivo, levanta uma das maiores preocupações do grupo que forma o chamado Pacto pelo Pecém: a falta de mão de obra qualificada.
À medida que avançam os empreendimentos na região, a necessidade de trabalhadores tem se multiplicado. Em 2012, essa demanda estava em 6,2 mil, e já salta para 14,8 mil neste ano. Os indicadores fazem parte da versão preliminar do documento intitulado Cenário Atual do Complexo Industrial e Portuário do Pecém, coordenado pelo Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa, e apresentado ontem durante o Encontro Estadual do Pacto pelo Pecém. Hoje, o grupo volta a se reunir para consolidar o diagnóstico do estudo.
Escolarização
O documento apresenta informações preocupantes a respeito da educação na região. Os dois municípios, por exemplo, registraram redução das taxas de escolarização do ensino médio. Em Caucaia, onde a situação é mais grave, o indicador passou de 50,4% para 38,4% entre 2007 e 2010. Já em São Gonçalo, a queda foi de 73,8% para 70,2% no mesmo período.
"Do ponto de vista puramente econômico, a realidade do ensino médio merece uma atenção especial. As taxas de escolarização, especialmente de Caucaia, não são satisfatórias e retratam uma situação a qual uma quantidade expressiva de jovens não está completando a educação básica. Nesse cenário, a formação em nível técnico e superior, o processo de aprendizagem e qualificação profissional e a produtividade do trabalho são negativamente afetadas", destaca o documento.
Formação básica
De acordo com a mão de obra projetada, haverá uma grande demanda de empregos para profissionais sem formação superior ou técnica, o que implica em uma forte necessidade de garantir a formação básica. "Para tanto, as taxas de escolarização de ensino médio devem ser profundamente melhoradas", diz o estudo. Nesta chamada Formação Inicial e Continuada (FIC), haverá uma demanda de 12,5 mil trabalhadores neste ano e outros 25 mil em 2014. Em relação à educação técnica, o número de pessoas que já estão no mercado de trabalho e que possuem alguma qualificação nesse nível dobrou entre 2007 e 2011, nos dois municípios, mas a participação desse tipo de empregado no total é ainda inferior a 10%.
Em 2013
Para este ano, serão necessários 2.064 profissionais desse nível, sendo a maior parte no segmento de gestão de negócios (752), controle e processos industriais (608) e infraestrutura (403). No ano que vem, esse número sobe para 5.828 vagas, com destaque para o intenso aumento da demanda no segmento de informação e comunicação (1.438).
Para o ensino superior, haverá 271 vagas para 2013 e 567 para 2014, sendo os profissionais dos cursos de engenharia, administração e letras os mais procurados. O estudo mostra que a quantidade de trabalhadores formados em nível superior nos dois municípios aumentou entre 2007 e 2011, mas a participação destes no total de trabalhadores é inferior a 20%. Em 2012, o número total de trabalhadores no Cipp era de 4.746 pessoas. O documento informa ainda que as estimativas para o ano de 2016 apontam para 38.270 trabalhadores.
SÉRGIO DE SOUSAREPÓRTER
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Ações na região precisam ser coordenadas
O crescimento bastante acelerado da área do Pecém e das cidades ao redor, em função das novas empresas em instalação - principalmente siderúrgica e de empreendimentos ligados à geração de energia -, vai gerar uma grande necessidade tanto de trabalhadores qualificados como de uma mão de obra não qualificada.
Nesse contexto, o que precisa ser feito é um esforço para que as entidades que atuam no processo de capacitação, como a própria Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) e os órgãos do governo estadual, trabalhem de forma coordenada.
Uma alternativa para minimizar a importação de trabalhadores de outros estados ou países é a criação de uma secretaria especial, mesmo que por tempo limitado, que acompanhe a implantação de novas empresas, mas também possa antecipar os tipos de trabalhos que serão demandados, para que seja possível se preparar. Muitas empresas, como as que deverão se instalar na área da Zona de Processamento de Exportação (ZPE) não terão tempo de capacitar os trabalhadores quando se instalarem e, portanto, precisarão trazer empregados de fora. Esse processo já está acontecendo à Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), por exemplo. É possível observar a quantidade grande de estrangeiros que já estão chegando ao Estado.
Além da CSP, já há outra usina, que comprará a produção da companhia, prevista para o Pecém. A refinaria Premium II também demandará muita mão de obra. Outro lado dessa questão são os impactos sociais que podem ser gerados pela quantidade elevada de novos trabalhadores, em uma área que não está preparada para receber tantas pessoas.
Francisco Lima MatosDiretor de Ciência e Tecnologia da Fiec