Diga-me suas escolhas e te direi quem és
O indicativo inicial para se conhecer e entender a linha administrativa de um gestor está na forma como os cargos de primeiro escalão serão preenchidos. Portanto, fiquemos bem atentos às decisões de Roberto Cláudio (PSB) ao longo de dezembro.
Considerando a atual estrutura da Prefeitura de Fortaleza, existem nada mais, nada menos que 46 cargos considerados de primeiro escalão. São 21 secretarias, cinco coordenadorias, duas autarquias, três empresas, três fundações, três institutos e um grupo de outras nove funções, onde se encaixa cargos como a Procuradoria Geral do Município.
Além disso, estima-se que o prefeito eleito terá à sua disposição cerca de três mil cargos comissionados. Não há dados conhecidos a respeito, mas trata-se de absurdo estoque de nomeações para aliança nenhuma colocar defeito. As tetas são vistosas.
É provável que o novo prefeito proponha uma reforma administrativa ao longo dos primeiros três meses de exercício da gestão. Não há, até aqui, evidências de que essa possível reforma aumentará ou diminuirá cargos. A segunda opção, se adotada, seria motivo para festejar.
Como já é peculiar à nossa política, lamentavelmente, os candidatos não expõem suas reais intenções durante a campanha. Portanto, não há nenhum compromisso público no sentido de, por exemplo, enxugar a máquina, diminuir a quantidade de comissionados ou realizar reforma administrativa.
O fato é que não é fácil e simples a tarefa de compor os quadros de uma gestão. No caso de RC, mais ainda. Afinal, o seu palanque de segundo turno certamente foi o maior da história das eleições de Fortaleza. E esses apoiadores, ansiosos, estão a esfregar as mãos.
O pior é que a quantidade de apoiadores não corresponde à qualidade que se faz necessária para se montar uma equipe capaz de responder com eficiência às demandas da Capital. Quem conhece a política do Ceará (e alhures) sabe bem do que se trata.
Equipe mais técnica ou mais política? Usualmente, os políticos gostam de dizer que optam pela mistura de um com outro. Costumam afirmar que querem dos apoiadores políticos sugestões (ou indicações) com currículo técnico. Parece o ideal, mas não é assim que a banda costuma tocar.
Nessas horas, a política desgraçadamente se impõe sobre currículos. Nossos partidos não são feitos de quadros técnicos. Para ser mais rigoroso na análise, a política no Brasil é quase completamente divorciada da técnica.
Não há dúvidas de que os melhores executivos estão na iniciativa privada. São os que possuem as formações acadêmicas adequadas, são preparados para alcançar resultados e possuem a disciplina necessária para tal.
Mas, entre os executivos de primeira linha que estão na iniciativa privada em nossa cidade, quantos estão disponíveis para largar suas vidas e se entregar a um projeto de poder exercendo funções técnicas numa gestão municipal? Há vantagens salariais para isso? Para os que são sérios e comprometidos com o bem público, os ganhos são maiores que os imensos riscos embutidos no exercício do cargo público?
Bom, por enquanto esperemos o que virá. RC é um político jovem, mas a idade não é o indicativo certeiro de que esteja disposto a romper com velhos costumes impregnados em nossa política.