Especialista avalia que, embora o nome Luizianne ainda exerça influência, outros devem ganhar projeção
Deputado José Guimarães acredita que as lideranças petistas estão fortalecidas, considerando Elmano vitorioso diante da disputa FOTO: AGÊNCIA CÂMARA
Embora seja expressiva influência que a prefeita Luizianne Lins exerce como liderança no PT, a derrota na disputa em Fortaleza deve evidenciar outros nomes na agremiação. A avaliação é da cientista política Carla Michelle, que considera a prefeita a "grande derrotada" do pleito. O deputado José Guimarães, por outro lado, analisa que todas as lideranças petistas saem fortalecidas, afirmando que a sigla enfrentou uma ampla aliança na Capital e considerando o ex-candidato Elmano um vitorioso.
Apesar da perda da prefeitura de Fortaleza, tanto a cientista política Carla Michelle, professora da Faculdade Estácio de Sá/FIC, quanto o deputado José Guimarães avaliam que o PT sai fortalecido desta eleição, tendo em vista que a legenda dobrou o número de prefeitos e conquistou expressivos colégios eleitorais no Ceará. O PT passou de 15 prefeitos eleitos em 2008 para 26 neste ano, sem considerar as cidades onde os políticos com votos suficientes para ser eleitos aguardam decisão do TSE.
"O PT sai vitorioso. Mesmo em Fortaleza, tivemos 47% dos votos. Fomos o mais votado no primeiro turno nominalmente. Foi uma vitória estrondosa, até porque o PT afirmou que não é satélite de ninguém. Mostrou que tem identidade e programa. O resultado tem que ser comemorado, inclusive em Fortaleza", defende Guimarães.
Apesar de não ter feito seu sucessor, Luizianne revela ter força dentro do partido, tanto que conseguiu a maioria dos delegados para viabilizar a candidatura de Elmano à Prefeitura. Ela foi também a principal liderança petista envolvida na campanha. Carla Michelle reconhece que a prefeita ocupou o "centro da cena", mas não atribui o resultado de Elmano à ela, mas sim à participação, ainda que pequena, do ex-presidente Lula.
"Na realidade, Luizianne centralizou muito todo o processo decisório. Não houve discussão. Havia nomes históricos na disputa, mas Elmano foi decisão de Luizianne. A grande derrotada deste pleito foi ela. Muita gente não escolheu o Roberto Cláudio, mas votou nele para negar a prefeita", analisa a especialista.
Para Carla Michelle, existem outros nomes importantes dentro do PT que devem alcançar maior projeção a partir de agora, citando como exemplo o senador Pimentel. Por outro lado, pondera que Luizianne ainda deve exercer forte influência nos bastidores. "Ela construiu uma imagem negativa, mas ainda tem influencia grande porque comanda boa parte do partido", justifica. Guimarães não vê o mesmo cenário. "Estamos todos fortes e vamos repensar na unidade do PT. A hora é de cautela, de sentar e discutir os próximos rumos. O PT está instalado definitivamente do Ceará, ele não é coadjuvante de ninguém".
Alianças
Carla Michelle acredita que a posição crítica à atual gestão que alguns partidos adotaram no primeiro turno e a característica centralista de Luizianne acabaram dificultando o apoio de candidatos derrotados a Elmano. "Quem estava na disputa fez muitas críticas à gestão, então não seria coerente apoiar o PT. Acho que tem esse fator de não conseguir reelaborar o discurso e tem a centralidade da Luizianne, de ela achar que sozinha vai conseguir a vitória a despeito de toda a rejeição, como em 2004".
No entanto, para Guimarães, a articulação forte do adversário dificultou que o PT costurasse essas alianças no segundo turno. "Houve uma rendição, não uma aliança em torno do candidato vitorioso. Permanecemos aliados nacionais e vamos reposicionar as coisas", declara.
Outras legendas, embora alinhadas à esquerda, preferiram se abster da escolha entre os dois candidatos que disputavam o segundo turno. É o caso do PSOL e do PSTU, por exemplo. "O PSTU é extrema-esquerda e não entra em campanha pra vencer eleição, mas pra divulgar um discurso de combate ao capitalismo e às políticas neoliberais. O PSOL hoje já entra para disputar, mas nasceu de dissidentes do PT que acreditavam que o partido não seguia a mesma ideologia", explica Carla Michelle.
Por outro lado, o PCdoB, embora possa ter mais afinidade com as diretrizes petistas, decidiu apoiar o PSB. Para Carla Michelle, a posição não surpreende porque não é a primeira vez que o PCdoB faz alianças para chegar ao poder. "Historicamente, o PCdoB se comporta assim", diz.
Em relação ao cenário com a eleição do prefeito do mesmo partido do governador, a professora lembra que isso não é essencial para um bom governo. "Desde a constituição de 1988, há descentralização financeira e administrativa dos entes. Quando se tem bom relacionamento, facilita. Por outro lado, você tem uma hegemonia de um único grupo político. É preciso um Legislativo muito atuante para que de fato haja benefícios para a população", declara.
BEATRIZ JUCÁREPÓRTER