A maioria dos deputados estaduais do Ceará aprova a política de privatização de empresas estatais do Governo Federal. Apesar do apoio imediato, quando o assunto é a venda de companhias que atuam na região Nordeste, a rejeição é que prevalece. É o que revela a pesquisa feita pelo Instituto Opnus em parceria com o Sistema Verdes, realizada entre os dias 29 de agosto e 4 de setembro, com 44 dos 46 parlamentares em exercício (entre suplentes e licenciados).
De acordo com o levantamento, 55% dos deputados são a favor da venda de estatais brasileiras. O percentual demonstra que pouco mais da metade dos deputados da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) estão alinhados com o pensamento do presidente Jair Bolsonaro, de que companhias brasileiras devem ser desestatizadas para fortalecer a economia do País.
Os que divergiram do posicionamento da maioria representam um percentual de 41% do total de parlamentares da Casa, enquanto 4% não sabem ou não responderam.
A concordância dos deputados cearenses é ainda maior quando se trata de aeroportos, rodovias e portos. A aprovação, nesses casos, supera a casa dos 70%.
O cenário muda, no entanto, quando os questionamentos são sobre a possibilidade de privatização estatais específicas. Das 11 apresentadas na pesquisa, apenas duas obtiveram concordância da maioria da AL sobre a privatização - Infraero, com 70% de posicionamentos favoráveis, e Correios, com 59%.
Quando as empresas públicas apontadas foram bancos, por exemplo, a rejeição atingiu índices altos, que variam entre 86% e 91%. No caso do Banco do Nordeste Brasileiro (BNB) e Banco do Brasil (BB), a desaprovação dos deputados à concessão para a iniciativa privada chega a 91%.
A privatização da Petrobras, da Transposição do Rio São Francisco e do Parque Nacional de Jericoacoara também tiveram um alto índice de rejeição, de 70%, 66% e 59%, respectivamente.
Para o coordenador da pesquisa e diretor da Opnus, Pedro Barbosa, os dados revelam um posicionamento baseado em exemplos bem-sucedidos e no sentimento de pertencimento. No caso da privatização de aeroportos, por exemplo, ele afirma que os parlamentares justificaram que o setor privado tem mais capacidade de gerência do que o setor público.
"Nós recentemente tivemos a privatização do aeroporto de Fortaleza, e houve uma melhora de gestão. Então eles veem como algo positivo. Os que são contrários (à privatização) utilizaram como argumento o posicionamento estratégico das empresas para o desenvolvimento econômico do País, como é o caso dos bancos. No caso do Banco do Nordeste, por exemplo, em que a sede é aqui, eles relacionaram a importância do controle estar com o Governo porque atende as demandas da região. Há um sentimento de pertencimento também, com o BNB, com a Petrobras, que tem uma identidade totalmente brasileira, com o Parque Nacional de Jericoacoara, que é no Estado, e isso acaba influenciando nos votos deles sobre o que deve ser privatizado", explica Barbosa.
Outro ponto apontado para o posicionamento dos deputados, conforme indicou Marciano Girão da Silva, também diretor do Instituto, é o fato dos parlamentares conhecerem uma realidade diferente para comparar com a situação do Brasil. "Nas rodovias, por exemplo, eles veem que estradas com pedágios em outros países estão em bom estado, são bem administradas. Então, essa avaliação é algo muito do ponto de vista deles, do que eles viram em algum lugar. Eles observaram que funcionam, e por isso acreditam que funcionaria aqui", relata.
Desempenho
Enquanto o levantamento sobre as privatizações em geral revelaram uma tendência positiva, o desempenho do Governo Bolsonaro foi avaliado pelos deputados cearenses de forma mais pessimista. É o que demonstra o percentual de 48% de desaprovação do Governo Federal. Outros 33% da Casa consideram a gestão regular, enquanto 19% acredita ser ótimo ou bom.
A área com pior avaliação é Relações Exteriores, em que 68% dos deputados consideraram ruim ou péssimo. A segunda do ranking é Educação, com 66% de apreciações negativas, seguida de articulação política, que tem 62% de votos desfavoráveis.
Por outro lado, no entanto, Segurança é área mais bem avaliada pelos parlamentares estaduais, em que 38% consideram o desempenho do governo ótimo ou bom. Outros 48% julgaram regular e apenas 12% ruim ou péssimo. Os 2% restante não souberam ou não responderam.
Já a área econômica foi a que mais dividiu opinião. Sobre a performance do governo no setor, 32% dos parlamentares cearenses avaliaram com ruim ou péssimo; 29%, como ótima ou boa; e 34% como regular. Os 5% restantes não sabem ou não responderam.