Não demorou muito: antes mesmo de testar forças em qualquer disputa eleitoral, oposição do governador Camilo Santana (PT) no Ceará vive hoje sua primeira grave divergência interna. Com a briga pela Prefeitura de Fortaleza cada dia mais próxima, parece hoje praticamente descartado um cenário de aliança entre Pros e PSL, duas das principais forças de oposição no Estado, na disputa pela sucessão de Roberto Cláudio (PDT). Isolados, adversários ofereceriam risco menor ao amplo arco de aliança comandado por Cid e Ciro Gomes (PDT) na Capital.
Os conflitos entre Pros e PSL começaram no final do mês passado, após o deputado estadual André Fernandes (PSL) questionar críticas do principal líder do Pros local, deputado federal Capitão Wagner, à reforma da Previdência proposta por Bolsonaro. "Wagner é um bom candidato a prefeito, sim, mas infelizmente está dando muita canelada e, se continuar desse jeito, vamos lançar candidatura própria", disse Fernandes, que é presidente do PSL em Fortaleza - ou seja, terá palavra decisiva nas escolhas do partido em 2020.
O desentendimento, que já tinha tom hostil, ganhou ares de ruptura em meio à crise do contingenciamento de gastos na educação. Presente em reunião com Jair Bolsonaro na terça-feira, Wagner relatou à imprensa ter visto o presidente telefonar para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e ordenar a suspensão dos cortes. A história foi desmentida pela Casa Civil horas depois, provocando dura reação de Wagner: "Quem foi que criou o boato? Foi o governo, que voltou atrás e depois voltou atrás de novo. Recuou duas vezes".
O deputado vai além: "Ou o ministro está mentindo ou o presidente não ligou pra ele. Será que o presidente forjou a ligação na nossa frente? Tenho certeza que não". Desde que assumiu o comando do PSL da Capital, André Fernandes tem destacado que a sigla só apoiará um candidato "100% alinhado" com Jair Bolsonaro. Se as críticas moderadas de Wagner à proposta da Previdência já eram vistas com preocupação por bolsonaristas, imagine ataques frontais contra o governo e sua articulação política, ainda mais vindos da tribuna do Congresso.
Sem acordo com o Pros, o mais provável é que o PSL lance candidatura própria na Capital, sendo Fernandes e o deputado federal Heitor Freire os dois nomes mais cotados do partido. Já Wagner, que vem forte de votações crescentes no Legislativo, é dado como certo na disputa, mas precisa de alianças para compensar o pouco tempo de TV do nanico Pros. Caso os dois partidos não se entendam, quem vai rir à toa é o prefeito Roberto Cláudio.
Dentro e fora
Além da disputa com o Pros, o PSL também trava brigas internas pelos rumos da legenda no Ceará. Assim como tem ocorrido em diretórios de outros estados, lideranças do partido do presidente têm divergido sobre possíveis alianças políticas com outras siglas no Estado. O conflito ficou público na semana passada, após Fernandes (de novo ele) criticar a manutenção de gente ligada ao atual prefeito de Caucaia, Naumi Amorim (PMB), na direção do PSL do município. A indicação dos dirigentes, apesar de desagradar militância mais radicalizada do partido, é bancada pelo próprio Heitor Freire, que é presidente do PSL no Estado.
E Tasso?
Diante do "barulho" criado por lideranças do PSL e do Pros, tem ficado em segundo plano outra liderança de peso da oposição no Estado: o senador Tasso Jereissati (PSDB). Ainda inatingido pelas muitas crises que afetaram o tucanato nos últimos anos, o senador tem descartado rumores de que deixará o partido e promete lançar o ex-deputado Carlos Matos em 2020. O candidato claramente larga atrás, mas o fortalezense sempre gostou de surpreender nas urnas.
CARLOS MAZZA