Ontem pela manhã, às 7h56min, o médico Carlos Roberto Martins (Cabeto) telefonou para um colega dando a notícia: havia conversado com o governador Camilo Santana (PT) na noite da quarta-feira, 24, e acertado que assumiria como adjunto na Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Perguntou o que achava da decisão. Foi festejado. Recebeu os parabéns. No desenho feito por telefone, ele dividiria as tarefas de maneira harmoniosa com o hoje ainda interino Henrique Javi, que vem tocando a pasta depois da saída de Carlile Lavor. Cabeto também revelou que iria tratar da desincompatibilização da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde é professor. E avisou que, até o final da tarde de ontem, seria feito o anúncio oficial. Na noite de ontem, porém, Cabeto disse ao O POVO que ainda vai pensar, ao longo do fim de semana, em que formato vai servir à gestão estadual: se no cargo ou de modo informal, como já vem fazendo. “Já venho ajudando o governo. Eles vêm me chamando para dar opinião. E me disponho completamente pela minha função pública a ajudar. Mas quanto ao cargo, estou estudando de que maneira. Vou conversar com calma com o governador”, afirmou. Segundo ele, suas opiniões dizem respeito ao planejamento da saúde no Estado. “Não acredito em salvador da pátria. Não tenho essa importância neste processo. Dimensiono de modo muito racional. Sou mais um para colaborar”, afirmou. “O que se está pedindo é a colaboração da classe médica e dos profissionais de saúde para construir um pacto social para ajudar nesta estruturação.” Oficialmente, Cabeto, que era a primeira opção de Camilo para a Sesa, vinha negando o convite. Carlile Lavor assumiu no início da gestão, em janeiro, e, quatro meses depois, deixou a pasta, que está sob o comando interino de Javi - o médico deve ser efetivado. A favor de Cabeto para a secretaria, contam o perfil técnico e o bom relacionamento com o Sindicato dos Médicos, principal responsável por denunciar a crise na saúde no Ceará. Procurando, o governo estadual não confirmou o convite a Cabeto. O assunto tem sido tratado por Camilo de forma reservada. Sindicato dos Médicos Considerando a hipótese de o médico ser anunciado como secretário-adjunto da Sesa, a presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Mayra Pinheiro, comemora. “Acreditamos que, neste momento, não poderia ser um nome melhor. Cabeto goza do respeito dos médicos e é uma pessoa preparada”, afirma a presidente. Segundo Mayra, a escolha do médico “enaltece muito a postura do governador”. Para ela, Cabeto e Javi têm capacidade de diálogo e conhecimento da área. Ao criar o “corredômetro” para medir lotação nos hospitais, no auge da crise na saúde, o sindicato foi responsável por um dos momentos mais desgastantes da gestão de Camilo. A ida de Cabeto poderia apaziguar a relação com a entidade. (colaborou Wagner Mendes) Para entender Henrique Javi assumiu a Secretaria da Saúde interinamente no dia 12 de maio. A mudança de comando ocorreu no momento em que Carlile Lavor deixou a secretaria durante uma grave crise no setor. Em momento de crise, com hospitais lotados e epidemias sazonais, vários nomes foram colocados como possíveis sucessores de Lavor. Além de Cabeto, estavam Odorico Monteiro (PT), José Sarto (Pros) e o próprio Henrique Javi. A pasta da Saúde se agravou ainda mais com problemas no abastecimento de insumos básicos nos hospitais geridos pelo Estado e Município. O governador Camilo precisou fazer diversas reuniões com o ministro Arthur Chioro para viabilizar recursos. Deputados da oposição se mobilizaram para instalar uma CPI para investigar contratos do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar. O requerimento, de autoria do deputado Heitor Férrer (PDT), possui hoje 9 assinaturas das 12 necessárias. Nesta semana, em visita à Assembleia Legislativa, o secretário interino Henrique Javi foi questionado pelos deputados. O questionamento da oposição se resumiu a ações da pasta e àatuação do ISGH junto ao governo estadual.