O deputado Welington Landim diz que muitos parlamentares entram na política por influência da política, e não por vocação
FOTO: JOSÉ LEOMAR
Com a imagem desgastada diante dos eleitores, algumas práticas da classe política têm desestimulado novos líderes a ingressar na vida pública. É o que afirmam parlamentares cearenses veteranos, opinando que o País vivencia uma crise de formação de lideranças políticas. Improbidade administrativa, corrupção e má conduta no poder público, acrescentam os deputados, são algumas das razões que afastam a sociedade da política no Brasil.
Apesar de a maioria dos deputados ser da base aliada do governador Camilo Santana na Assembleia Legislativa, o gestor tem uma frente de defesa fragilizada. O líder do Governo na Casa, Evandro Leitão (PDT), que cumpre o primeiro mandato como titular, deixou de comparecer a sessões polêmicas já no início da legislatura. A saia justa obrigou o primeiro vice-líder Júlio César (PTN) a assumir a defensiva.
O deputado Heitor Férrer (PDT) acredita que a falta de afinidade no discurso das lideranças do Executivo e da base aliada refletem a postura do próprio Governo. "Ela (base aliada) está tímida, porque o Executivo está tímido também, está esmaecido, não tem cor e ainda não iniciou o seu governo, a começar pelo custeio da máquina, que está praticamente parado", alega.
O pedetista acrescenta que o País passa por uma crise de formação de novas lideranças políticas, principalmente devido ao desgaste da imagem da categoria. "Há um constrangimento de quem quer entrar na política, porque é uma classe bastante desgastada por causa da conduta política de uma maioria. Não é uma minoria", aponta. "Quantos deputados no Congresso Nacional respondem a processos de ação penal, de ação de improbidade, de desvio de dinheiro público? Nós estamos com lideranças antigas", ressalta.
Para o deputado Welington Landim (PROS), houve um hiato na formação de líderes políticos no País gerado pela ditadura militar, que teve início em 1964 e seguiu até 1985. "Todas as lideranças eram abafadas imediatamente, a juventude era reprimida. Isso já foi um momento muito difícil e que não houve incentivo nem apoio de qualificar nossas lideranças", destaca.
Renovação
Sobre a renovação de nomes na Assembleia, o parlamentar pondera que a maioria dos novatos possui tradição familiar de participação política, mas não necessariamente de talento pessoal para a atividade. "Por mais que haja renovação, como temos na Assembleia, não são lideranças formadas, é uma tradição. Se você olhar, as pessoas já vêm de algum tempo militando. Ou foi prefeito, ou o pai que foi, ou um tio. Não é uma coisa espontânea da própria sociedade", alega.
Landim diz que há uma desvalorização da política, afastando jovens da militância partidária. "Da forma como se comportam as lideranças políticas do Brasil, é um desincentivo se ingressar na carreira política. Não há uma vocação estimulada, não há por parte da sociedade o entendimento da importância da política". E completa: "Há mais crítica do que incentivo. Isso desestimula, é um momento difícil".
O deputado federal Chico Lopes (PCdoB) diz acreditar que as manifestações populares de junho de 2013, durante realização da Copa das Confederações no Brasil, objetivaram uma ruptura no modelo tradicional de se fazer política. "As lideranças tradicionais de massa estão com dificuldade no controle de suas propostas, tanto partidos grandes como os pequenos estão passando por uma fase difícil", reforça.
Novatos
No último pleito, o PCdoB elegeu dois deputados novatos para a Assembleia Legislativa e que não fazem parte da ala considerada histórica do partido no Estado, os ex-prefeitos Augusta Brito e Carlos Felipe. O ex-deputado Lula Morais não se reelegeu. Questionado sobre a renovação de lideranças na Casa, Chico Lopes diz considerar positivo o fato de os quadros da legenda já terem experiência em prefeituras.
"Eles começaram no Executivo, ao contrário de muitos. Isso ajuda na formulação da crítica com mais pé no chão, mais fundamentação. Isso é positivo, porque o poder Executivo tem o orçamento. Estamos precisando de novas lideranças e trazer a juventude para a política, principalmente as mulheres. A liderança masculina não corresponde à nossa realidade eleitoral", pontua Chico Lopes.
O deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB) avalia que o atual modelo político do País tem prejudicado o surgimento de novas lideranças. "O que se observa é que, com pouco tempo, há uma subserviência do poder das lideranças, diferentemente de quando tínhamos poucos partidos políticos", salienta o parlamentar tucano.
"Isso gera muitas vezes nos meios políticos, partidários e familiares a não-inclusão de jovens com potencial, mas que estão descrentes. Os próprios segmentos organizados de entidades de classe não colocam nomes representativos para o quadro", acrescenta.