Por que as bases se espatifaram
Prefeito do DEM faz campanha para Tasso Jereissati (PSDB), mas ignora orientação do partido por Eunício Oliveira (PMDB) e vota em Camilo Santana (PT). Deputados e prefeitos da base governista – mesmo filiados ao Pros – pedem voto para Eunício. Prefeitos e parlamentares peemedebistas não seguem decisão do próprio partido e votam no petista. E candidatos do PT omitem Camilo em materiais que produzem ou fazem acordos que envolvem chapa adversária. Isso sem mencionar o desencontro entre palanques locais e nacionais (para não voltar ao assunto, leia aqui: http://bit.ly/1oEaWQF). Essa barafunda, infelizmente, não é novidade. Mas andou um pouco sumida do Ceará nos tempos de hegemonia. Gente pulando de um lado para outra é situação só vista quando há pelo menos duas grandes forças. A última vez em que isso se deu de forma considerável na esfera estadual foi em 2006, quando Lúcio Alcântara estava no governo e enfrentava Cid. Quando sua campanha fez água, os aliados minguaram. A bagunça que marca os acordos eleitoreiros de agora é sintoma da volta da competitividade às eleições locais. Novos movimentos haverá, a depender do desenrolar da campanha. A chegada de agosto já fez crescer a tensão nos comitês. As próximas pesquisas e o horário eleitoral serão fator que irá influenciar o deslocamento entre palanques. Nem todo mundo que está com um candidato hoje terminará a campanha do mesmo lado.
PROMESSA RECICLADAO candidato a governador Camilo Santana (PT) prometeu a construção de um quinto hospital regional no Ceará. No último domingo, informou que a localização será em Limoeiro do Norte. Mas o compromisso não é o que se pode chamar de novidade. Nem mesmo nos palanques governistas. Na eleição de 2010, quando buscava a reeleição, Cid Gomes já anunciou que, caso vitorioso, construiria um quinto Hospital Regional, que ficaria na região dos Inhamuns. A promessa foi feita em comício realizado em 16 de setembro daquele ano, em Crateús. Sobre o palanque estavam com Cid – além do então candidato a vice-governador e principal líder político da região, Domingos Filho (Pros) – o à época candidato a senador e hoje arqui-inimigo Eunício Oliveira (PMDB).
A ideia de hospital nos Inhamuns parece arquivada. Afinal, a unidade que está em obras em Quixeramobim já é anunciada como voltada também para aquela região. Já em março de 2013, o governador disse que o quinto hospital seria erguido no Maciço de Baturité, em parceria com a Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). O anúncio foi feito em Redenção, em evento com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Quando foi em maio deste ano, de novo foi prometido por Cid Gomes o quinto hospital regional, desta vez para o Vale do Jaguaribe, onde agora Camilo confirma que, se eleito, fará a obra.
Vale lembrar, porém, que antes de construir o quinto hospital regional, seja lá onde for, é preciso concluir o terceiro, no Sertão Central, e construir o quarto, na Região Metropolitana.
A HISTÓRIA E A PROMESSAUma das prioridades na trajetória política de Eunício Oliveira (PMDB) são as ações voltadas para o homem do campo. E a seca, tristemente, permanece uma das questões mais graves e urgentes a se enfrentar no Ceará. Está entre os temas definidores do segundo governo Cid (Pros). No programa de governo que Eunício apresentou no registro da candidatura, um dos tópicos é: “Repensar a política de gestão e abastecimento de água”. Além de ser o cúmulo da falta de detalhamento e de não dar ao eleitor a mais remota ideia do que esperar sobre as ações na área – para além de saber que será diferente do que está aí – há outro aspecto curioso na, por assim dizer, proposta: foi o próprio Eunício quem indicou o secretário que comandou esse setor durante mais de sete anos de governo Cid.
O sociólogo peemedebista César Pinheiro é homem de confiança de Eunício. Foi diretor do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) e assumiu a Secretaria dos Recursos Hídricos do Estado em 2007. Sempre indicado pelo hoje candidato a governador pelo PMDB. Ficou fora do cargo apenas por alguns meses, durante as eleições de 2012, quando se afastou para participar da coordenação política da campanha de Roberto Cláudio a prefeito. Era o representante de Eunício no grupo composto também pelos deputados estaduais Tin Gomes (PHS) e José Sarto (então PSB, hoje Pros) – ambos ligados aos Ferreira Gomes. Tudo sob a coordenação de Prisco Bezerra, irmão do hoje prefeito e atualmente secretário de governo do Município.
Ou seja, não dá para dizer que o peemedebista tenha divergência de fundo em relação ao modelo de convivência com a seca. Pelo menos, não dá para dizer que não tenha tido oportunidade de expressar sua visão. Só se resolveu guardar as grandes ideias para quando e se tiver a oportunidade de governar. Pois nem o argumento de que não teve espaço ou autonomia para atuar é cabível para quem ficou sete anos no cargo, sem jamais reclamar.