Os médicos protestaram ontem na avenida Beira Mar, em Fortaleza
FOTO: FÁBIO LIMA
A classe médica brasileira reagiu ao anúncio do Governo Federal sobre a vinda de aproximadamente 10 mil médicos estrangeiros ao País. Em Fortaleza, ontem, assim como em outros sete estados, a categoria foi às ruas e reivindicou melhorias no Sistema Único de Saúde (SUS) e a exigência do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos (Revalida) aos profissionais que atuarão em solo brasileiro. Hoje, um dia após a visita de manifestantes à Assembleia Legislativa do Estado (AL-CE), a casa votará requerimento apoiando a solicitação dos médicos cearenses.
O dia de mobilização da categoria contou ainda com a caminhada de milhares de médicos, durante a tarde, do Palácio da Abolição ao Jardim Japonês, na avenida Beira Mar. “Se não formos ouvidos, acho que poderemos radicalizar. Uma greve geral ainda não foi pensada, mas existe essa possibilidade”, afirmou o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará (Simec), José Maria Pontes. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), não houve deficiência no atendimento em postos de saúde e hospitais da Capital durante as manifestações.
Representantes de entidades médicas afirmam que não são contra às contratações, apesar de destacarem que não há carência de médicos no Brasil. “Em Fortaleza, por exemplo, são 3,7 médicos para mil habitantes. A OMS (Organização Mundial de Saúde) preconiza apenas um”, disse José Maria Pontes.
Conforme ele, os médicos não permanecem nos municípios pequenos - destino dos profissionais estrangeiros - porque não há estrutura de atendimento e os pagamentos são irregulares. “Temos 137 ações no Simec, envolvendo quase mil profissionais, contra prefeituras que não pagaram os salários”, complementou.
Revalida
O principal ponto de repúdio da categoria médica é a não exigência do Revalida aos profissionais estrangeiros. O presidente do Conselho Regional de Medicina no Ceará (Cremec-CE), Ivan Moura Fé, é categórico ao afirmar que médicos sem diplomas revalidados não poderão prestar assistência aos pacientes no Brasil. “Existem normatizações dos próprios Ministérios da Saúde e Educação que confirmam esta necessidade”, pontuou.
O processo de revalidação é executado apenas pelas universidades públicas brasileiras, que aplicam provas teórica e de habilidades práticas. “Muitas disciplinas não são oferecidas em outros países e esses médicos precisam falar português para entenderem seus pacientes. É exatamente o Revalida que nivela essas questões e qualifica o profissional”, explicou o presidente do Cremec-CE.
Saiba mais
Médicos cearenses reivindicam concurso público, melhores condições de trabalho, carreira de estado e 10% do PIB para a Saúde. De acordo com Simec, existem 6.980 médicos estrangeiros no Brasil, 168 no Ceará. Ainda conforme o Simec, apenas 10% dos profissionais submetidos ao Revalida conseguem passar.
Requerimento votado, hoje, na Assembleia Legislativa, que apoia às reivindicações do Simec, deverá ser entregue ao Ministério da Saúde e à Presidência da República.
Dados do Ministério da Saúde apontam que existe 1,8 médico para cada mil brasileiros.