2014 E O EQUILÍBRIO POLÍTICO DE FORTALEZATer muitos aliados é ótimo para disputar eleições e, também, na hora de enfrentar votações no Poder Legislativo. Mas costuma ser problema quando se vai montar o governo. E, eventualmente, também nas relações políticas ao longo do mandato. Cid Gomes (PSB) que o diga. É conhecida a aversão do governador a oposição forte. Ele fez de tudo para reunir base de apoio tão grande quanto conseguiu. Como resultado, enfrentou maiores turbulências políticas e administrativas com os próprios aliados – mais especificamente a prefeita Luizianne Lins (PT) – que com a oposição. O arco de sustentação de Roberto Cláudio (PSB) no primeiro turno não chegava a ser tão fornido, embora já fosse disparado o maior dentre todos os candidatos. No segundo turno, recebeu a adesão de praticamente todos os derrotados. Isso acabou desagradando gente que estava com ele desde o início e viu os espaços cobiçados no futuro governo ameaçados pela chegada de legendas como DEM, PDT e PCdoB. O incômodo foi tal que houve quem mudasse de lado e aderisse à candidatura petista, que acabou derrotada. Essa foi uma primeira equação política que Roberto Cláudio precisou montar: a forma de equilibrar os cargos destinados a partidos de maior expressão, mas que chegaram na reta final, com os espaços ocupados por legendas de menor expressão que o apoiaram desde o começo. Como costuma ocorrer nessas situações, ontem já se percebia que havia gente não muito contente como o arranjo a ser anunciado hoje. Roberto Cláudio prometeu na campanha montar equipe com pessoas qualificadas e de referência na cidade – artigo não propriamente farto entre os quadros partidários disponíveis. Resolver essa equação não vinha sendo simples. Contudo, como já mostraram as negociações na Câmara, é difícil peitar um prefeito prestes a tomar posse, politicamente muito forte e com respaldo político estadual.
O alinhamento com o Governo do Estado é facilitador para as composições, pois uma administração é, do ponto de vista das alianças, quase a extensão da outra. Todavia, esse cenário pode ser o prenúncio do tipo de dificuldade política que Roberto Cláudio terá. A relação da gestão estadual e da municipal com os partidos aliados é quase indissociável – o PT é particularíssima exceção. Cid Gomes se encaminha para seus dois últimos anos de mandato e não há sucessor natural. Vários nomes se movimentam dentro do PSB e, também, no PMDB. Já foram dadas algumas caneladas entre pretensos jogadores. A tensão será crescente até que seja definido o candidato. Com o agravante de que o governador não costuma ser propriamente célere nessas questões. A instabilidade resultante do processo sucessório estadual será o fator mais importante para definir a paz ou o conflito durante o próximo um ano e meio também na esfera municipal.
CONFUSÃO INACEITÁVELEra natural que houvesse divergências entre as equipes de Luizianne Lins (PT) e Roberto Cláudio (PSB) quanto ao diagnóstico de gestão. Foi assim desde a campanha. O que é inacreditável é o conflito de versões quanto à quantidade de terceirizados. A variação entre os números de um lado e outro chegam a pelo menos 125%. Ora, é informação objetiva sobre pessoal contratado da administração municipal. A Prefeitura tinha obrigação de expor esse número. Aliás, já foi cobrada a esse respeito por Renato Roseno (Psol), no primeiro debate da campanha, na TV O POVO. A divulgação da informação oficial encerraria qualquer polêmica. E permitiria ao contribuinte de Fortaleza saber quantos funcionários que não se submeteram a concurso estão sendo pagos pelo dinheiro de seus impostos. A ausência desse dado público demonstra, no mínimo, um tanto de desorganização.