O governador, a prefeita e os ataques
Se o dia de ontem servir como parâmetro do que serão os próximos seis até a definição do próximo prefeito de Fortaleza, a semana será ainda mais tensa do que normalmente se poderia projetar para a fase final da eleição. E se mostrará das mais conflituosas da trajetória política da Capital. Na história do Ceará, apenas em 2002, quando Lúcio Alcântara e José Airton se enfrentaram, houve segundo turno com os candidatos em situação tão parelha nas pesquisas. Em Fortaleza, a situação é inédita. Por isso, o nível de agressividade é igualmente sem precedentes. Também praticamente sem par é a forma como o governador Cid Gomes (PSB) se referiu à prefeita Luizianne Lins (PT), hoje adversária, mas aliada estratégica até cinco meses atrás. Ele fez a crítica administrativa, ao dizer que ela nem faz nem deixa que os outros façam. Aí é jogo jogado. Fez também questionamento político, ao questionar a relevância política da petista: “Quem é Luizianne? Depois de ser prefeita, que importância ela tem?” E completou com ataque de natureza mais pessoal. Normalmente comedido e sóbrio, ele a qualificou como “arrogante”, “vaidosa” e disse que ela “não gosta de trabalhar”. A forma como se expressou é totalmente atípica em relação ao comportamento médio do governador – salvo episódios como a peleja com o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, a quem chamou de “inepto, desonesto e incompetente”. Mas nem mesmo nas vezes em que foi ele próprio candidato Cid se referiu de tal forma aos adversários.
É verdade que o chefe do Executivo estadual respondia a provocação anterior da prefeita. Mas as manifestações tiveram tons bem diferentes – tanto antes quanto depois da fala do governador. Previamente, Luizianne questionou o fato de ele ter tirado licença enquanto o Ceará atravessa momento de seca no Interior. Posteriormente, ela expôs preocupação com obras que passariam a ser supostamente liberadas sem licença, no caso de Roberto Cláudio (PSB) chegar à Prefeitura. Ataques sim, que seguramente incomodaram, mas de natureza política e administrativa. Houve também várias outras cutucadas dela direcionadas ao antigo aliado. Mas nenhuma de caráter tão pessoal quanto ele fez. E aí, justiça se faça, com todo o inegável gosto pela polêmica e com fama de “tresloucada”, foram raríssimas as ocasiões em que Luizianne ultrapassou essa fronteira em suas declarações. Exceção foi em um dos entreveros que manteve com o secretário da Casa Civil, Arialdo Pinho.
Depois do dia de ontem, a hostilidade entre a prefeita e o governador subiu mais alguns degraus. Com previsíveis repercussões para a relação entre PT e PSB no pós-eleição. Os petistas que permanecem no Governo do Estado terão dificuldade para manter a expressão de paisagem e fingir que nada se passa. Boa parte da responsabilidade pela situação cabe ao próprio Cid, que, no começo da campanha, alertara para o risco de os ânimos se acirrarem em excesso entre os parceiros na esfera estadual e na federal. Os conflitos de ontem terão reflexo no pleito do próximo domingo. Mas os desdobramentos irão além. Deixarão sequelas para a sustentação política do Palácio da Abolição. Com grandes chances de se arrastarem até 2014.
SINAIS DA TENSÃOAs declarações das duas principais personalidades da política estadual exprimem o nível de tensão que há na base. Ontem, militantes da campanha de Roberto Cláudio (PSB), tendo a deputada Patrícia Saboya (PDT) à frente, acusaram cabos eleitorais petistas de hostilidade e agressão no Bom Jardim. Nível de acirramento absurdo e inaceitável, mas que corre o risco de se aprofundar até o fim da semana. Posturas ridículas observadas no plano concreto e no virtual. Na semana passada, a página de Heitor Férrer (PDT) no Facebook foi invadida para publicar ataques a Elmano de Freitas (PT). Sinais de que, se não partir do comando das campanhas o equilíbrio e a serenidade, o desfecho dessa eleição pode ser lamentável. E, pelo que se viu ontem, não são propriamente de ponderação os exemplos que os expoentes de um lado e outro oferecem.