Entre ricos e pobres
43 a 37 nas intenções de voto. 53 a 47 nos votos válidos. O candidato do PT, Elmano de Freitas, aparece numericamente a frente no retrato batido pela primeira pesquisa O POVO-Datafolha do segundo turno. A rigor, o jogo se mantém absolutamente aberto. Entendam que cada oscilação de apenas um ponto percentual a favor de um tende a refletir uma oscilação de um ponto contra o outro. E vice-versa.
O que explica a liderança de Elmano de Freitas é o resultado obtido pelo petista entre os eleitores mais pobres e menos escolarizados. Vejam: considerando os votos válidos, o candidato de Luizianne Lins coloca doze pontos percentuais (56 a 44) de frente na faixa de escolaridade do ensino fundamental e dez pontos (55 a 45) entre os eleitores com renda familiar de até dois salários mínimos. Sabe-se que há uma imensa interseção nesses dois conjuntos.
Atentem que o melhor desempenho de Roberto Cláudio (PSB) ocorre entre os eleitores com renda familiar mensal superior a dez salários mínimos. Nessa faixa, a diferença a favor do candidato do governador Cid Gomes é de incríveis 34 pontos percentuais. O problema do candidato é que, em Fortaleza, o grupo de eleitores mais ricos é quantitativamente muito menor.
Uma curiosidade: nos votos válidos, o desempenho de Elmano de Freitas entre as mulheres é outro componente para explicar a liderança do petista. 55% das mulheres dizem que votam no candidato contra 45% que afirmam votar em Roberto Cláudio.
Uma diferença de cinco pontos percentuais nas intenções de voto ainda é muito pequena para projetar um vencedor se considerarmos dois índices fotografados ontem e anteontem pelo Datafolha. A saber: 11% declararam votar em branco ou nulo e outros 9% declararam que não sabem em quem votar. Considerem que no primeiro turno o resultado final apontou que brancos e nulos alcançaram 7,6%.
Mais do que nunca, quem decide as eleições é a população mais pobre. Mais do que nunca, esse eleitorado se comporta a seu modo e não se move de acordo com a linha adotada pelos eleitores mais ricos. É a reprodução do que havia ocorrido em 2006 quando Lula concorreu no segundo turno contra José Serra.
Caso se mantenha até o fim o quadro apontado hoje pela pesquisa O POVO-Datafolha, as eleições reproduzem um efeito que permitiu a reeleição de Juraci Magalhães em 2000. Naquela disputa, Juraci teve nas populações da chamada periferia de Fortaleza a base para a sua vitória no primeiro e no segundo turno. DOUTOR HEITORUm pouco de Heitor Férrer. O deputado surpreendeu no primeiro turno e, por muito pouco, não alcançou Roberto Cláudio. Lembrem-se que sua campanha não deu nenhuma ênfase à sua trajetória de opositor do Governo Cid. Talvez tenha sido o seu maior erro. Na entrevista em que declarou sua posição neutra, o deputado do PDT parece ter percebido o equívoco. Daí ter dado muito mais peso às explicações para o “não” a Roberto Cláudio do que para o “não” a Elmano de Freitas.
Ou seja, Heitor Férrer repôs a sua condição de opositor de Cid Gomes. Certamente, será esse o caminho trilhado pelo parlamentar. Agora, com muito mais peso popular e com mais atenções voltadas para a sua trajetória. Está aí uma má notícia para o governador.