No peito, enganos mil
O advogado Elmano de Freitas (PT) e o médico Roberto Cláudio (PSB) disputam o segundo turno de Fortaleza. No que diz respeito à dupla, o resultado não contrariou a lógica e nem as intenções de votos retratadas pelas pesquisas.
Somados, os resultados dos dois primeiros colocados não alcançam 50% dos votos. Pouco mais da outra metade dos eleitores optou por outras candidaturas. Heitor Férrer (PDT) atraiu a simpatia da maioria da metade que não queria nem um e nem outro.
Por muito pouco, o candidato do PDT não alcançou a segunda posição. Um quinto do eleitorado de Fortaleza materializou na postulação do deputado estadual o seu “não” aos candidatos de Luizianne Lins (PT) e Cid Gomes (PSB).
Sabe-se que o deputado marcou os últimos seis anos de sua trajetória política e parlamentar como a principal (e, em alguns momentos, única) referência de oposição a Cid Gomes. Foi Heitor uma incômoda pedra no sapato do Governo. Porém, a sua campanha surpreendeu quando optou por engavetar tal componente de sua trajetória.
Para se apresentar ao distinto público como candidato a prefeito, Heitor lembrou pontos antigos de sua trajetória. CPI da Merenda, derrubada da taxa do lixo e outros. Tais episódios ocorreram na época de Juraci Magalhães, mas os fatos não apareciam contextualizados. Um eleitor mais desavisado (e são muitos) poderia concluir que tudo era coisa de agora.
Perguntado sobre o motivo de não ter dado relevância à sua atuação mais recente, Heitor confessou ter se tratado de uma decisão difícil. Alegou que seu tempo era curto e havia a necessidade de se fazer opção por um só caminho. O fato é que nem mesmo nos debates surgiu o deputado de oposição ao Governo.
Bom, é de se perguntar: teria Heitor Férrer um desempenho ainda melhor (ou não) caso tivesse se apresentado na campanha por inteiro, com a exposição plena de sua trajetória antiga e recente?
O mapa da cidade dividido em bairros com o vencedor em cada um deles mostra uma curiosidade: Heitor venceu em todos os bairros mais ricos de Fortaleza. O deputado levou a maioria na Fortaleza urbanizada, com bons serviços públicos, que não frequenta postos de saúde, não anda de ônibus e estuda nas escolas privadas.
Trocando em miúdos, foi o campeão de votos entre os eleitores mais esclarecidos (leitores clássicos de jornal), de melhor escolaridade e de renda salarial mais alta. Atentem para o caso exemplar da Aldeia-Aldeota. Somados, os votos de Heitor e Renato Roseno (Psol) no simbólico bairro, concretiza-se uma surra na soma Elmano-Roberto.
A questão agora é a seguinte: com apenas duas opções em jogo, para onde vai a maioria desse eleitorado? Situa-se nesse ponto uma (e somente uma) das chaves para entender o que vai acontecer daqui por diante.