SIM - As pesquisas influenciaram, mas não decidiram as eleições. O público acompanha interessado o resultado das pesquisas eleitorais para ter uma referência sobre a tendência geral do eleitorado. Os partidos se movem com as pesquisas e a militância se encoraja influenciada pela posição favorável ou não de seus candidatos. Porém, quem tem posição definida e visão crítica sobre a política e sua administração mantém seu voto independente das pesquisas.
Por outro lado, pode-se votar em quem está ganhando nas pesquisas para não perder o voto em candidato derrotado antecipadamente pelo marketing político dessas enquetes. Entretanto, candidatos bem posicionados nas primeiras pesquisas foram declinando ao longo da campanha mostrando que o eleitorado não mantém seu voto apenas baseado no que diz a propaganda da pesquisa.
Outros fatores decisivos para alavancar candidaturas desconhecidas foram os apoios de pessoas admiradas pelo eleitorado, como ex-presidente, governador, etc. Existiu, também, o impacto sobre o eleitor do poder das máquinas administrativas, de campanhas grandiosas, com presença acintosa nas ruas. Além disso, são consideradas as pressões dos cabos eleitorais e dos chefes políticos.
Tudo isso entra na avaliação pragmática do eleitorado, principalmente daquele beneficiado, de alguma forma, com a ação do candidato ou de seus mentores. Enfim, esse tipo de pesquisa, conhecida como empirismo abstrato não revela as novidades eleitorais, mostrando apenas o sobe e desce nas intenções de voto. Por exemplo, não são desvendadas a dinâmica da consciência política nem a concepção popular de poder, tampouco as subjetividades dos interesses políticos do eleitorado votante.
É chegada a hora de a sociedade questionar a publicidade desse tipo de instrumento político, para saber se essas pesquisas favorecem a democracia, se prejudicam candidatos ou se manipulam a vontade popular.
"O público acompanha interessado as pesquisas para ter uma referência"
Adelita Neto Carleial
Socióloga e professora do curso de Ciências Sociais da Uece
NÃO - É preciso cautela ao responsabilizar as sondagens de opinião pelas escolhas eleitorais que os cidadãos fazem. É sempre pertinente lembrar que as pesquisas apresentam o retrato de uma situação transitória e que os dados obtidos pelos institutos são influenciados, dentre outros fatores, pelo modo como a sondagem é formulada, aplicada e interpretada.
Certamente, acompanhar os dados divulgados oferece ao eleitor subsídios para a formação de opiniões. Mas, na realidade, as sondagens são muito mais importantes para os candidatos e seus marqueteiros, que planejam e avaliam suas estratégias e discursos de acordo com a reação dos eleitores. Ademais, a supervalorização das pesquisas está ligada a um tipo de cobertura jornalística que privilegia o enquadramento de “corrida de cavalos” (isto é, a mera disputa pela intenção de votos) em detrimento do debate sobre ideias e projetos.
Minimizar a importância das pesquisas para os resultados do pleito não significa dizer que elas tenham impacto nulo sobre o público. Por um lado, não se pode julgar que o eleitor, ao refletir sobre as sondagens, comporta-se de modo ingênuo ou manipulável; por outro lado, a escolha não é, necessariamente, determinada por cálculos estratégicos que favoreceriam apenas a candidaturas “mais viáveis”. Se assim fosse, seria fato consumado do início ao fim da campanha a cristalização das lideranças – e não haveria margem para reviravoltas ou mesmo divergências entre o cenário desenhado pelas pesquisas e o resultado apontado pelas urnas.
São muitos os fatores a influenciarem o voto: a opinião da família e dos amigos; o desempenho dos candidatos quando confrontados em debates e entrevistas; as coligações que apoiam cada um; as bandeiras por eles defendidas; a propaganda eleitoral; além, é claro, das convicções ideológicas pessoais. Tudo isso gera um acúmulo de conhecimento que é acionado quando comparamos um candidato a outro e tomamos nossas decisões.
"As pesquisas apresentam o retrato de uma situação transitória"
Edna MiolaProfessora e doutoranda em Comunicação