Erros e o papel das pesquisas
As pesquisas erraram ao não apontar que Heitor Férrer (PDT) chegava competitivo para brigar por vaga no segundo turno. Até mostraram espasmos de crescimento em alguns momentos, mas caracterizados pelo que se convenciona chamar de “voo de galinha”, com subidas e descidas. Em relação a Moroni Torgan (DEM), a tendência de queda foi permanente, embora distante do nível que se acabou constatando na contagem dos votos. Tivessem exposto o real panorama, o resultado seria diferente? Trata-se de exercício de reescrever o passado e sobre o qual ninguém pode ter absoluta certeza. Mas tal hipótese é plausível. A expectativa de vitória é um dos combustíveis do poder. Atrai apoiadores, financiadores e mesmo votos. Em que patamar isso se dá é variável. O fato objetivo é que o resultado das urnas destoou do que as pesquisas sinalizavam, embora o segundo turno apontado tenha se confirmado. É compreensível a revolta do candidato, dos aliados e dos militantes. É natural a decepção e a frustração. Mas a reação extrapola. Não há base alguma para se pensar na anulação de eleição em função de erro de pesquisa. Equívoco esse que não foi o primeiro, não foi o maior, nem será o último. Imagine-se onde se vai parar se os enganos dos institutos justificarem a anulação dos pleitos.
Essa própria ideia demonstra a importância exacerbada que se dá às pesquisas. Essa é a questão central e o grande aprendizado que deve ficar: o papel desempenhado pelas consultas de intenção de voto. Elas são parte do processo. Mas não podem ser as protagonistas das campanhas e da política. Hoje, as estatísticas substituem a capacidade de formulação dos partidos, os programas, as estratégias. São tratadas como o começo, o meio e o fim da política. É um equívoco monumental, que já levou projetos diversos à bancarrota. Em articulação política, nada substitui o instinto, a capacidade de compreensão de cenário e o conhecimento da realidade. Não há pilha de números que substituam essas qualidades ou compensem esses defeitos. Assim como só o instinto, sem base em dados objetivos, é caminho pavimentado para a ilusão. Precisam ser complementares.
Nesse aspecto, claro que as pesquisas fornecem ferramentas importantes. São fonte valiosa de informação. O equívoco é trata-las como algo tão determinante. É igualmente uma distorção que o eleitor tome a pesquisa como único ou principal fator para decidir o voto. Primeiro porque, já se sabe e fica mais uma vez demonstrado: pesquisas erram. Como a coluna reforçou em 29 de setembro, admite-se 5% de possibilidade de o resultado estar até mesmo fora da margem de erro prevista. É o chamado intervalo de confiança, normalmente de 95%. Mas, sobretudo, trata-se de distorção porque não se pode definir os rumos da cidade, do Estado e do País com base em efeito manada, seguindo a onda. Se as pesquisas pesarem mais que outros valores nessa decisão, fica evidente que não terão sido os institutos que terão cometido o erro maior.
NOVO PATAMAR DO PSOLConforme se esperava, o Psol alcança novo patamar com o resultado das eleições. Conquista sua primeira prefeitura e chega ao segundo turno em duas capitais - Belém (PA) e Macapá (AP). Sem falar de resultados expressivos, em particular no Rio de Janeiro. Em Fortaleza, o crescimento foi igualmente impressionante. Na primeira campanha da legenda, em 2006, Renato Roseno concorreu a governador e teve 6,8% dos votos da Capital. Em 2008, ao disputar a Prefeitura pela primeira vez, Roseno teve 5,6% dos votos válidos. Em 2010, Soraya Tupinambá foi a candidata ao Governo do Estado e teve 2,1% em Fortaleza. Agora, Roseno alcançou 11,8%.
A chegada ao poder vai, necessariamente, confrontar o partido com contradições e dilemas. A novidade é boa para a oxigenação da democracia. E, no caso de Fortaleza, mostra o fortalecimento, ao lado de Heitor Férrer (PDT), de uma frente que não está nem à direita, nem alinhada às administrações de centro-esquerda.