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Segunda, 08 Outubro 2012 06:44

Quanto vale um voto nas diferentes Fortalezas

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  Vestida com “roupa de ir pra missa”, de brinco de pérola e batom, a catadora de materiais recicláveis Charliany Bezerra de Morais, 28, arrumou-se para votar. O zelo vem de quando a diarista Maria Balbina Bezerra, 59, levava a caçula pela mão, ensinando o significado do instante nas urnas. “A gente tá exercendo o poder do voto. Hoje é o dia de ser importante”, espelha a catadora. Se uma andorinha só não faz verão, ao menos pode anunciar que chegou otempo de fazê-lo. Nesse sentido, Charliany organizou um debate com os candidatos à Prefeitura de Fortaleza, no Centro de Pastorais Maria Mãe da Igreja. Por saber escrever e argumentar, ela se tornou secretária da Rede de Catadores e Catadoras de Resíduos Sólidos do Estado -que tem apoio da Cáritas Arquidiocesana de Fortaleza. E quis “ver qual é o melhor para a categoria (que conta 367 pessoas organizadas na Capital)”. O povo em redor se admirou da ideia que deu certo, setembro passado, reunindo Elmano de Freitas, Moroni Torgan, Renato Roseno e Inácio Arruda em torno de idosos, semianalfabetos e mulheres sem mais identidade - o retrato em primeiro plano dos catadores locais, segundo Charliany. “Eu tenho uma intenção, mas minha intenção faz um mundo”, confia. O esboço desse mundo desejado está nos planos de se formar em Gestão Ambiental ou Direito. “O movimento (dos catadores) ainda não tem um advogado”. E está também no interesse pela política. Charliany dá um voto de confiança a quem “tá inserido na comunidade, vendo onde é a dor... A política precisa melhorar muito no Brasil. E só melhora a partir do nosso conhecimento e informação. Tenho pouco conhecimento, mas tenho pra saber porque tô votando, pra quem. E vou cobrar depois, porque sei onde e como”. O domingo da eleição acorda a esperança. “A gente quer estrutura, melhoria de renda”, advoga a catadora. “Um voto só faz muito, muito, muito a diferença. A partir de um voto, faz milhões. É aquele dizer: uma gota no mar forma o mar”, entende. Assim na política como na vida, cada um é menos sem o outro. Tanto que “a maior vontade” da catadora é comprar as cadeiras e juntar todos na mesa mínima das refeições. “Minha mãe come acocada”, reprova. A casa, emendada aos poucos, abriga sete pessoas. Entre elas, o irmão que ficou paraplégico ao levar quatro tiros em uma desforra que começou no Beco da Morte. Mesmo curta, a casa é maior do que o vão na favela Verdes Mares (Papicu), onde Charliany viveu uma infância de café com farinha. A vida deu voltas, passou pela feira da José Avelino, e, desde maio, rende R$ 550 na associação Agentes Ambientais Rosa Virgínia. Com o salário, Charliany deixa pago um mês de pão na mercearia: R$ 75,80. “É três pão todo dia!”, multiplica. “Meu padrasto acostumou eles (quatro netos) com meio pão cada um. Quando ele faleceu, resolvi que isso permanecesse”. Para sustentar os sonhos, Charliany acorda antes das seis, com a mãe avisando que a água já está fervendo. Dorme depois do cursinho (23 horas) e de passar a limpo os ensinamentos da diarista: “Você faz o bem a qualquer um, sem conhecer. Lá na frente, pode precisar e alguém ajuda. Os anjos é nós mesmo”. Ali sempre transformaram a realidade. O Natal cabia no tapete que dona Balbina ganhou dos ricos: nascia uma árvore de galhos secos enrolados com algodão e enfeitada com caixas de fósforos embrulhadas em restos de papeis de presentes alheios. Na vida da catadora, nada se perde. “Meu menino, aos oito anos, chegou com essa novidade do colégio: ‘Aprendi sobre reciclagem. Mãe, tudo é reciclável nessa vida’”. Ah, quase esqueci de escrever: o CEP afirma que ali é o Conjunto Esperança. "Um voto só faz muito, muito, muito a diferença. A partir de um voto, faz milhões. É aquele dizer: uma gota no mar forma o mar”Charliany O voto mais marcante do empresário Beto Studart, 66, não foi sua estreia como eleitor. Tanto assim que nem recorda o ano do acontecido e quem teve o privilégio de sua aposta. Seu voto inesquecível, confidencia sem titubear, “foi em mim mesmo”. Foi quando o construtor, ao lado do então governador Lúcio Alcântara (que disputava a reeleição em 2006 pelo PSDB), investiu forças para também tentar ser influente como político no cargo de vice-governador do Ceará. “Foi emocionante e ao mesmo tempo decepcionante”. O peso de seu voto, “nem mais nem menos importante que o de qualquer outro cidadão de Fortaleza”, dimensiona o empreendedor, estaria “vinculado” à imagem do empresário bem sucedido, à prosperidade da BSPar Inscorporações e outros negócios tocados por Beto Studart. Seu poder de influenciar um segmento (o empresariado gerado e gestado na Federação das Indústrias do Ceará, por exemplo) e sua capacidade financeira para contribuir com campanhas são, na avaliação de Studart, facetas distintas. Vieram ter com ele quase todos os candidatos que disputaram a sucessão da prefeita Luizianne Lins (PT). Foram almoços, reuniões, pedidos de declaração pública de voto e apoio financeiro. “Fiz doações de campanha, tudo dentro da lei, para os quatro: Heitor Férrer (PDT), Moroni Torgan (DEM), Roberto Cláudio (PSB) e Elmano Freitas (PT)”, somou o empresário formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará. - O senhor investiu nos quatro? Provoco. Qual a intenção: é pelo exercício de querer contribuir com a cidadania ou há interesses de um empresário que tem negócios em Fortaleza? Na gentileza e trato, me responde com um bastidor de campanha: “Da última vez que fomentei o Lúcio Alcântara como candidato (ele disputou em 2010 a eleição para governador e teve Cláudio Vale como vice. Cláudio Vale é genro de Studart), não era para ser contra o Cid Gomes (que disputava a reeleição). Mas foi para poder incentivar as discussões em torno dos compromissos com a cidade, com o Ceará”, afirmou Studart. A mesma lógica, ressalta o empresário, repetiu-se durante o primeiro turno da eleição municipal deste ano. “Quando contribuo com os quatro, é porque entendo que qualquer um desses tem um alinhamento de compromissos que a Cidade pede. Vou votar nos quatro candidatos. Meu movimento não é partidário”, brinca o eleitor. Voto não é secretoMas onde há criança nem sempre se guarda segredo. Giovana Studart, a pequena de seis anos de idade que descobriu gostar de assistir documentários sobre cirurgias em animais (e por isso se prometeu ser veterinária), revelou em segundos o que o empresário Beto Studart não quis contar durante o café da manhã no condomínio Mansão Macêdo, na Aldeota. “Pai, vamos votar no Roberto Cláudio, ele vai ganhar do Elmano”, fabulou despretensiosa do banco traseiro do Jaguar que nos levava para o local de votação, o anexo da igreja da Paz (Aldeota). Depois dos risos e tirante a liberdade de criança da filha de um dos mais bem sucedidos construtores do Brasil, a espontaneidade de Giovana apenas apontava para uma das tendências de voto existentes entre as diversas Fortalezas que esquadrinham a capital do Ceará. “A Luizianne e o Elmano estiveram aqui em casa. É um rapaz virtuoso, conhecedor da máquina administrativa. Todos são jovens, mas preferia que o Roberto Cláudio fosse eleito. Ele tem berço, tem uma formação intelectual interessante... Só espero que o poder não o isole”. "Quando contribuo com os quatro, é porque entendo que qualquer um tem um alinhamento com a cidade” Beto studart
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